—— Nem fodendo eu deixo você voltar para aquele lugar —— Henrique disse ainda incrédulo no que a sua melhor amiga havia dito.
Henrique passou quatro anos completos vivendo ao lado de Zara e ela nunca mencionou trabalhar num lugar como o Paradiso ou mesmo conhecer alguém chamado Lorenzo.
—— Eu entendo você mas não podes me proteger para sempre e eu gosto de trabalhar lá, o dinheiro e o horário são bons —— Retrucou tentando convencer o melhor amigo que levantou-se indo em direção a cozinha.
—— Os Rossi são pessoas perigosas, Zara —— A mulher tirou o café que o polícia estava prestes a preparar.
—— Nada de café hoje —— Repreendeu indo a geleira onde tirou um sumo de frutas e derramou um pouco no copo para o seu amigo.
Henrique olhou para o copo cheio do líquido amarelado, ele passou a noite em claro depois do que aconteceu com o Rossi e um café seria a única coisa que iria ajudá-lo a ficar acordado todo dia.
Zara preocupado deixou o copo na mesa e abraçou o amigo, ela não gostava de ver a maneira como o seu amigo sabotava a própria saúde para poder cumprir ou mesmo agradar os outros incluindo no trabalho.
—— Você tem que amar mais a si mesmo, Henrique. Isso que fazes não é saudável para ti —— O homem pegou o copo não gostando do rumo da conversa.
Henrique não gostava do assunto pois ele tinha problemas sérios relacionados a sua aparência e a mulher platinada estava ciente disso.
—— Sabes que não gosto de falar sobre isso —— Tomou o sumo num único gole, podia sentir o sabor doce a manga descendo pela sua garganta, até era agradável.
—— Eu sei mas você sabe que já fui insegura com sobre corpo antes e superei isso graças a ti, só quero ajudar —— Henrique olhou para o relógio no seu pulso e por ser de dia talvez conseguisse dormir por isso.
—— Vou tentar tirar uma sesta, me chama na hora que formos trabalhar —— Zara desistiu de tentar fazer o amigo conversar sobre o assunto, por isso apenas beijou a sua bochecha e observou Henrique indo para o seu quarto.
Henrique despiu-se enquanto as palavras da sua amiga ainda ressoavam dentro da sua cabeça e caminhou até parar em frente ao enorme espelho que Zara havia comprado para si.
O homem negro mordeu o lábio inferior frustrado quando viu os enormes blocos de notas que sempre colava no espelho e fazia questão de esconder esse péssimo hábito de Zara.
O seu rosto foi a primeira coisa que tocou, no seu reflexo ele via alguém desprovido de beleza, os seus lábios grossos que eram motivo de chacota desde a sua infância.
Depois desceu a mão para tocar os seus braços fortes, fortes demais para o seu gosto, os seus dedos trêmulos tocaram a sua barriga tonificada e depois virou-se para ver a sua bunda recta, qualquer que visse pensaria que uma tábua havia batido nele.
As varizes marcando uma parte da sua barriga tonificada e as nádegas apenas o faziam sentir ainda pior.
“Que homem amaria ou quereria um passivo como eu?” Questionou passando a mão pela sua cabeça raspada.
“Porque eu sou tão imperfeito?” Pensou levando um bloco de notas onde escreveu “feio” e depois colou no espelho.
—— Henrique? —— Conteve as lágrimas quando escutou a sua amiga chamando do outro lado da porta.
—— Estou no banho —— Gritou obviamente mentindo e escutou os passos de Zara enquanto ela se afastava do seu quarto.
Enquanto isso, Lorenzo estava fumegando de ódio por terem o interrompido na noite anterior, ele havia conseguido beber mas não conseguiu alguém para comer a noite toda e aquele homem ainda estava nos seus pensamentos.
—— A polícia está na nossa cola —— Francesco comentou fumando o seu charuto, girou na cadeira rolante tentando descontrair.
Aparentemente o motivo de terem vindo buscar Lorenzo tinha sido uma agente policial sem amor a própria vida que tinha atacado Francesco, levou três pontos no antebraço, iria sobreviver.
—— Eu avisei que estás sendo desleixado demais e olha, a sua cabeça de baixo quase te levou a morte —— Retrucou seco.
Francesco franziu o cenho não gostando de saber que o seu filho estava certo. Ele passou anos da sua vida no mundo do crime, aproveitar o tempo que o restava era pedir demais?
—— Precisamos ter cuidado com quem entra no Paradiso e falo sério, Enzo —— Disse com uma seriedade que surpreendeu o moreno.
—— Porque mantém aquilo no meu escritório? —— Questionou o sucessor do Rossi grisalho que sorriu fraco e Lorenzo sabia que o seu pai não iria responder.
—— Sinto que está mais seguro contigo que comigo, você sabe como eu sou —— Comentou honesto. Francesco era desleixo demais para conseguir manter algo tão importante seguro mesmo tendo homens para garantir a sua segurança.
—— Quem era a belezura que estava com você ontem? —— Lorenzo sentiu um arrepio passar pelo seu corpo ao lembrar de Henrique.
O italiano recordou da pele cheirosa, os lábios carnudos que mordiscou e aquela bunda pequena mas ficou decepcionado ao lembrar do monte de roupa que cobria o seu corpo.
—— Não tive tempo de conhecer —— Respondeu com honestidade. O Rossi ficou curioso por ver o que tinha por debaixo da roupa.
—— Isso resolve-se com o tempo —— Francesco falou com uma calma surpreendente e entregou um ficheiro para Lorenzo que o recebeu e o leu sem demora.
Na ficha vinham os dados pessoais e sorriu alegre quando viu que ele era solteiro pelo menos não iria se meter com alguém casado, odiava traição.
—— Porque está fazendo isso? —— Questionou ao seu pai que tragou o charuto liberando a fumaça esbranquiçada no ambiente fechado do seu escritório.
—— Eu vi que você tem interesse nele e quem sabe desta vez eu finalmente ganhe um neto —— Lorenzo revirou os olhos diante o comentário do seu pai.
Francesco via a maneira como o seu filho vivia dormindo com cada homem que o aparecia na frente mesmo quando tinha uma grande emergência.
Lorenzo como qualquer homem desejava encontrar o amor somente não sabia como fazer isso sem ser um brutamontes completo, o que acabava assustando todos que se aproximavam.
—— Todos que se aproximam de mim, ou querem o meu dinheiro ou quer me dentro de um saco preto. O que te faz pensar que ele é diferente? —— Perguntou o homem cruzando os braços.
Lorenzo tinha as cicatrizes no corpo para provar a sua teoria e o monte de mulheres e homens se oferecendo para ele só reforçava a sua tese.
—— Intuição —— Respondeu o homem fazendo o filho erguer uma sobrancelha com o comentário de seu pai.
—— Ainda tem aqueles sonhos? —— O moreno grisalho perguntou apagando o charuto na madeira da sua mesa.
—— Faz meses que não penso ou sonho sobre isso mas algumas noites acontecem —— Respondeu levantando-se pronto para sair do escritório e ir trabalhar no Paradiso.
—— Vê se me consegues um genro! —— Gritou Francesco observando o seu filho se afastar.
Algumas horas passaram e o calor do verão bateu forte naquela noite, porém Henrique vestia um casaco e calças largas que não delinearam o seu corpo. Quanto menos mostrar, melhor, esse era o lema do polícia.
Olhou para a Zara e depois voltou a sua atenção para a entrada do Paradiso. Henrique respirou profundamente antes de caminhar para o lugar que mudaria a sua vida para sempre.
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Pecados Do Coração
RomantikNuma cidade onde a linha entre o certo e o errado é tênue, Henrique Costa, um policial determinado a provar seu valor, se vê envolvido em um jogo perigoso ao ser designado para se infiltrar na boate do criminoso mais procurado do mundo. O que era pa...