Acordei hoje sem precisar de despertador. Esse vai ser mais um dia com os fantasmas do passado me rondando. As lembranças de ontem talvez tenham acentuado isso. Conheci cinco garotos incríveis e mais uma vez, eles passam direto por mim. Ninguém nunca fica. Meredith é apenas uma exessão, alguém que gosta de mim o suficiente pra ficar, porque ela me conhece por inteiro e sabe que pode lidar com todos os meus problemas.
Talvez eu devesse ligar pra ela. Sempre ajuda. Melhor não, sempre me ajuda, mas eu só a atrapalho. Além disso, eu não sou mais um garotinha tão cheia, tão devastada que precisava de um jeito de esvasiar toda a sua pressão interior, mesmo sem saber como. Agora eu sei como.
Coloquei meu celular na caixa de som. As vezes é bom ficar sozinha em casa, agora é bom ficar sozinha em casa. Antes não. Don't look back in anger começou a tocar, era disso que eu precisava. Nada mais; só música. Minha música. Isso sim, tem o poder de fazer com que tudo e qualquer coisa que não te agrade vá embora. Pelo menos pra mim.
Tomei meu banho, me enrolei na toalha ainda de costas pro espelho, como de costume. Hora de vestir minha "farda", com Oasis dessa vez, só pra dar aquela força a mais que eu tava precisando. A calça e a bandana vieram em seguida, fiquei andando descalça pela casa, até lembrar que eu precisava comer. Eu preciso comer. Fui na cozinha, apesar de ter as lembranças da falta de comida de ontem bem frescas na minha mente, mas a esperança é a ultima que morre. Theo havia feito as compras: primeiro motivo de hoje de porque a vida vale a pena.
Comi até o meu mal estar matinal passar e voltei pro meu quarto pra me calçar e escovar os dentes. Eu estou bem, muito bem. Vou pro trabalho agora, falar com a Anna sobre a entrevista. E eu não estava nervosa. Apenas mais um dia em que eu não sinto nada, mas eu estou bem. Muito bem, isso é normal, acontece com qualquer pessoa.
Shorty get down, good Lord. Baby.
- AH MEU DEUS, eu preciso mudar esse toque. Já tô enjoando disso. - falei quase ao mesmo tempo em que atendia. - Bom dia, Anna.
- Bom dia Abigail, recebi seu recado pelo Jason.
- Ah, ok. Eu estava indo agora pra editora te procurar pra falarmos sobre isso..
- Não precisa, o material já está nas minhas mãos e estou muito satisfeita com o seu trabalho.
- Então eu não preciso ir trabalhar hoje? - disse, deixando o meu coração se encher de esperança e alegria enquanto pandas montados em unicórnios trotavam formando um rastro de arco-íris na minha mente.
- Claro que você precisa. - Todos os pandas foram assassinados. - Você tem a sua crítica da quinzena pra fazer, preciso dela pra hoje, mas sei que não vai ser um problema - Os unicórnios estão sendo atacados por um exército zumbi. - Sempre confiei no seu talento e cada vez mais você me prova que eu estou certa. - Ok, os arco-íris podem ficar.
- Obrigada, Anna. Já estou a caminho. - respondi já pegando as chaves do carro.
Agradeço mentalmente a pessoa que mora no décimo andar que hoje está colaborando para o funcionamento da minha vida e não está prendendo o elevador, saio mexendo na bolsa até que eu bato na parede sem querer. Opa. Não é uma parede.
- Desculpe - disse o moreno lindo que esbarrou com tudo em mim e me fez derrubar minha bolsa, já a pegando do chão.
Não consegui responder pro alguns segundos porque aqueles olhos castanhos lindos, perfeitos e brilhantes estavam me fitando.
- Não é nada, tá tudo bem.. - disse apontando pra ele, perguntando o nome dele com os olhos.
- Joshua. Você pode me chamar de Josh, eu sou seu vizinho. - ele respondeu soltando o meio sorriso torto mais lindo que eu já vi.
- Como você..
- Eu te vi ontem, esperando o elevador por um ano, depois descendo as escdas correndo. Não tenho certeza mas ouvi um gritinho alguns segundos depois.. Foi você?
- Sim, eu quase caí pelas escadas - falei soltando uma risadinha.
Ouvi sua risada e me deixei ficar encantada pelo sorriso do meu vizinho.
- Ok.. - disse ele dando uma pausa indicando que precisava do meu nome pra terminar a frase.
- Abby.
- .. Abby, eu tenho que ir, acho que você também. - ele disse me devolvendo a bolsa.
- Você está certo. - eu falei, mostrando a chave do carro tentando mostrar inutilmente que eu ia sair mesmo.
- Te vejo depois?
- Sempre que a gente se esbarre no elevador. - respondi, fazendo uma cara de 'coisa óbvia' e arrancando um risinho dele.
- Acho que vou passar meu tempo livre dentro do elevador então. - ele falou passando a mão na nuca. Eu parei de pensar por alguns segundos.
- Tchau, Josh - disse acenando e rindo.
- Até mais, Abby. - ele disse enquanto entrava no elevador e eu seguia meu rumo até meu carro.
- Oasis sempre funciona. - falei pra mim mesma e depois beijei minha blusa. - Obrigada, gente.
Fui pro editoria, fiz a minha crítica e em pouco tempo eu já estava liberada. Quem diria que eu ia acordar tendo uma crise e voltar pra casa saltitande e serelepe? Ninguém né, ninguém ia adivinhar que eu ia topar com 'Joshua, o semideus da porta ao lado'. Fiquei rindo comigo mesma.
Mas apesar de tudo uma coisa muito estranha estava acontecendo comigo. Mesmo depois da aparição do Josh, tinha um carinha que não saia da minha cabeça. Me pequei várias vezes durante a tarde pensando nele. Mas, eu tinha que aceitar, eu nunca mais veria ele. E mesmo que um dia eu acabasse encontrando-o por aí, nós não seríamos mais do que bons amigos. URG, por duas palavras eu fui amaldiçoada para todo o sempre.
Acho que o loirinho bochechudo mecheu mesmo comigo. Mas qual a probabilidade de encontrar com o Niall novamente? Qual a chance de que eu encontre qualquer um dos meninos novamente? Quase nula não? ERRADO. Abigail, tá na hora de aprender que quando se trata deles, a lógica pode não ser o melhor caminho pra andar.
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A blessing in disguise
Romance"Eu não sou perfeita. Nunca vou ser. Demorou muito tempo pra que eu pudesse aceitar e entender isso, mas agora eu sei. O que eu realmente quero é não ser igual a todas as outras." Abigail Bourne nem sempre foi a menina forte e confiante que ela é ho...