"Essa não é uma história típica dos contos de fadas.
Troque a maçã envenenada por uma tentadora taça de vinho.
A bruxa maléfica, por uma donzela da sociedade.
E o mais importante: a mocinha não é a personagem principal. Até agora."
Emilli não acorda...
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Lavenne Granzia era o tipo de garota que todos queriam seguir. A dama exemplar, a jovem donzela que já havia rejeitado dois pedidos de matrimônio, deixando os infelizes tão devastados, que viver parecia algo frívolo, incapaz de ser sustentado com aquela rejeição. Por conta desses boatos, Lavenne era conhecida como “O Diamante de Sangue”, devido à sua beleza e periculosidade.
A garota esbanjava graciosidade em seus passos calculados, dignos de uma futura rainha. Toda a educação de Granzia fora pautada em seu futuro promissor ao lado de Victor, mesmo não havendo nenhuma união entre as famílias. No entanto, a família acreditava que a graça de Lavenne atrairia o príncipe, e uma vez casados, parte do poder do Trono estaria com ela.
Não era possível saber o que aconteceria caso aquele matrimônio se cumprisse. Lavenne era ingênua, acreditando que os motivos de sua educação se dava exclusivamente ao seu desejo de governar. No entanto, seu pai possuía planos bem diferentes.
Lembrar de Lavenne era como lembrar das noites em que todas nós estávamos apertadas em vestidos galantes e brilhosos, acenando e sorrindo para cavalheiros e suas famílias, esperando por uma chance de fazer parte dela. Os cartões de dança de Lavenne eram preenchidos em questão de minutos, e aqueles que não desfrutavam da honra de dançar com a “Diamante de Sangue”, disputavam tal posição. Entre valsas e floreios, meu corpo permanecia inerte ao fundo do salão, e o cartão de dança, pendia sem nenhuma inscrição, preso ao meu braço. Meu papel naqueles bailes era restrito a ser a garota nunca escolhida, aquela que não é vista.
Victor sempre aparecia nos momentos em que a minha existência naquele Reino era posta em cheque. Seu sorriso radiante me tirava do gosto amargo da inexistência, e a sua bondade em escrever seu nome em meu cartão, me fazia lembrar que ele sempre me ajudaria em situações como aquela, ao menos enquanto não estivesse casado com Bianca. Ele ajoelhava e estendia a mão para mim, me levando consigo após a sua tentativa de parecer mais galante. Não precisava. Nenhuma garota em Thornfall negaria um pedido tão esperado como aquele, mesmo que, sendo dito a mim, não passasse de uma brincadeira entre irmãos. Ao menos para Victor, era assim que ele me enxergava.
Lavenne não sabia. De longe, compartilhando da dança com outro cavalheiro, a garota que possuía todos a margem dos seus pés me odiava. Para ela, a minha existência ao lado do príncipe era um risco para a sua futura Coroa. Sob a ótica distorcida de Lavenne, Emilli McMillan, a garota sem inscrições em seu cartão de baile, deveria sumir. Deveria morrer.
O barulho de água escorrendo era substituído pelo som estridente do zíper. Em seguida, repetindo o mesmo barulho, Kobayashi olhava a sua própria imagem no espelho, as sobrancelhas arqueadas em busca de uma espinha inexistente. A falta de ar em meus pulmões impedia que os minutos fossem contados de maneira exata, mas pelo os meus cálculos, eu estava a 5 minutos esperando por uma resposta. Cada ato que não era o som da voz da garota, aumentava as batidas desordenadas do meu coração.
