Capítulo 24 - Prelúdio

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O fim da primavera é um pouco melancólico, mas não deixa de ser bonito

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O fim da primavera é um pouco melancólico, mas não deixa de ser bonito. Lentamente,  me despedia das cerejeiras que perdiam o rosa habitual, empalidecendo até se tornarem nada mais que uma lembrança. E haviam muitas. Momentos que eu achei que jamais vivenciaria, estavam guardados comigo com a esperança de uma próxima vez. Ao mesmo tempo que havia a vontade, pairava a incerteza.

Aono e eu visitamos o Classic Music Hiragawa durante a semana inteira, na companhia da simpática senhora Uzuhara, que nos dava conselhos e nos ouvia tocar até os primeiros raios de sol começarem a ir embora. Em seguida, Aono e eu caminhávamos observando o céu de pré-verão, sentindo a brisa morna bater em nossos rostos e levantar nossos fios de cabelo.

E tomávamos sorvete. Bom, eu tomava. Foi difícil convencer Aono a me acompanhar na minha aventura gastronômica, mas quando consegui, tinha certeza que não tiraria da memória os olhos e as bochechas do garoto, que possuíam um brilho gostoso de ver. Naquele momento, quando Aono estava apenas sendo o Aono, tinha vontade de estar perto dele e captar cada expressão que ele fazia, gravar as mínimas e as máximas expressões faciais. O mundo exterior sumia quando éramos ele e eu, o meu relacionamento com o Kentin, aqueles sonhos que me assombravam... Eu tinha vontade de estar com ele. Para sempre.

Na manhã em que acordei sobressaltada, sentindo o peito arder ao acordar repentinamente de um sonho ruim, levei a mão à altura do coração, sentindo-o bater de modo desordenado. Fazia alguns dias que aquelas imagens não me visitavam, me fazendo acreditar que o perigo delas já havia passado. Mas ao estarem a tona novamente, traziam um prelúdio amargo, desembocando no meu estômago e se espalhando pelas minhas articulações.

...– A previsão desta tarde indica que os ventos ao leste...

Comendo um onigiri, limpei os resquícios de arroz que grudaram em minhas bochechas enquanto prestava atenção no noticiário. Era comum que as tempestades aumentassem na transição entre primavera e verão, mas naquele momento,  o anúncio delas transcendia o literal, fazendo o meu imaginário metafórico associar a uma premonição.

— Sophie, o que foi? Você está pálida.

Precisei de um tempo para escutar os chamados de Tia Miya, que balançava uma das minhas pernas com um semblante preocupado. Piscando, assenti roboticamente, o que serviu para aumentar as preocupações.

— Não é nada. Eu só lembrei que estou atrasada para a escola.

Tranquilizando-a, depositei um beijo estalado em sua bochecha e ajeitei as alças da mochila em minhas costas, avisando que estava de saída. Ao fechar o portão, acenei para a senhora Mitsage, abrindo um sorriso cordial.

— Tenha um bom dia, Mitsage-san.

— Bom dia, querida! Já está de saída?

Assenti, e a conversa terminou com Mitsage me desejando um ótimo dia de aula. Enquanto caminhava até a estação, deixei a mente vagar nas lembranças da primeira vez que fiz esse caminho, sem saber que o destino me traria até aqui. Lembrei de como olhei para os prédios, que apesar de estarem como sempre estiveram, ainda me causavam fascínio. Lembrei de apreciar a ida e vinda de pessoas que eu não conhecia os nomes, mas que aprendi a diferenciar quando passavam por mim. E me lembrei dele.

Minha Nova Vida Sendo a EstrangeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora