"Essa não é uma história típica dos contos de fadas.
Troque a maçã envenenada por uma tentadora taça de vinho.
A bruxa maléfica, por uma donzela da sociedade.
E o mais importante: a mocinha não é a personagem principal. Até agora."
Emilli não acorda...
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Naturalmente, quando se está em um lugar tão mágico quanto Shirakawa, seria certo acordar com o canto dos pássaros, bocejar e se deparar com toda a beleza do cenário arbóreo. Notem que eu disse que seria o certo, não que necessariamente aconteceria.
E não aconteceu.
- Eu juro, tinha um sapo aqui! Um sapo enorme e gosmento que passou por cima do meu rosto!! Ali!
Ofegante e munida com seu travesseiro, Kaori se equilibrava em uma perna só, apontando para o outro lado do quarto. Minutos antes, a loira nos despertava com gritos capazes de acordar uma população inteira a 10km de distância. E com apenas uma palavra, todo o quarto diminuía significativamente de tamanho com tantos pés e pernas se movimentando de um lado para o outro.
- SAPO!!!
Apavoradas, nossas colegas de quarto gritavam umas com as outras, com palavras ininteligíveis. Havia uma mistura de futons espalhados por todo o tatame, lençóis e peças de roupas que eram usadas como arma contra o pobre animal. Acuado, o sapo nos olhava, esperando o próximo passo. Queria saber o que estava se passando na cabeça dele.
Arrisquei um passo, pisando cautelosamente contra o tatame. Aquele bichinho não poderia receber mais peças de roupa, nem ficar assustado com tantos gritos. Passando pelas garotas, que tremiam dos pés à cabeça e me encaravam como uma heroína, sorri para tranquilizá-las.
- Ele não vai fazer nada se não atacarmos ele.
- Nada? - Cruzando os braços, Kaori apontava para o sapo, bem no momento em que ele abria a boca, recebendo um "argh" de todas as garotas. - Ele deixou o meu rosto nojento!! Vou ter que usar todos os meus produtos para tirar essa coisa.
Suspirando, voltei para a minha missão no instante em que toda a barulheira despertava a curiosidade dos garotos, que dormiam no quarto ao lado. Em segundos, nosso quarto estava recheado com rostos masculinos sorridentes, como se estivessem se divertindo com a nossa situação.
- Seus pervertidos! - Pondo as mãos na frente do corpo, Kaori e as outras garotas se dividiam entre temer o sapo e querer acabar com os garotos. - Isso aqui é um quarto de garotas, sabiam?
- Relaxa que a gente só veio ver o que estava causando tanta gritaria. - Sendo acertado de raspão por um travesseiro, Hachioji, um dos garotos mais populares da nossa classe, sorria de maneira irônica ao rolar os olhos pelo quarto. - E é só por causa daquilo? Vocês garotas são tão histéricas.
Segundos depois, a guerra mundial dos meninos x meninas estava declarada, e por um breve momento, a presença do animal foi substituída pelos travesseiros voadores que vez ou outra acertavam os ocupantes do quarto. Aliviada, voltei ao meu afazer, - que no momento era retirar o sapo daquele ambiente caótico - agindo como uma espiã para evitar que ele saísse do meu alcance.
- Vocês poderiam fazer menos barulho.
Tampando a boca depois de um grito, - que serviu para jogar o meu trabalho de movimentação no lixo - levei à mão ao peito e quis matar Aono Sousuke por ter aparecido tão de repente. Bocejando e ainda com os olhos parcialmente fechados, o garoto de mãos enfiadas nos bolsos estava parado como uma estátua bem atrás de mim.
