Primórdios

1K 76 34
                                    

Feliz de escrever mais uma história para vocês. Mais uma vez, a partir da ideia formidável da minha namorada.

Esperamos que vocês gostem.

***

— Você não sabe o que está falando, Juliette! Que porra. Dá pra se colocar no meu lugar um minuto?

— Não, Sarah! Dá pra você se colocar no meu lugar um minuto? — Esbravejou, apontando o dedo na face da loira — Você decidiu ter um filho sem a MINHA permissão, sem ME consultar antes. Você pensou se eu queria? Hein? Pensou? Não, né? Porque você só pensa em VOCÊ mesma. — Lágrimas quentes molhavam seu rosto à medida que ela falava — Estou exausta, Sarah! E-eu... não consigo. Eu tinha, digo, tenho sonhos... E eu poderia mudar a nossa vida, Sah.

— E você acha que eu não os tenho? — Sarah se aproximou, levando uma mão à testa — Mas exclui todos eles quando decidi estar com você, ter uma família contigo. Você acha que eu também não sofro por isso? E outra, mudar nossas vidas? Fazendo o quê? Servindo-se para a mídia de bandeja? Me poupe!

Juliette respirou fundo. O nó na garganta se formou de modo tão forte que ela sentia a dor aguda inflamar.

— Estou cansada. Eu não sou apenas mãe e esposa, Sarah. Eu amo ser, mas não quero ser só isso. — Ela sentou, apertando os olhos — Eu não quero apenas cantar naquele barzinho. Eu quero ser alguém pra mim mesma. E eu não... sou. Eu não aguento outro filho agora, nós não aguentamos outro filho agora, por favor.

— Mas não era esse os nossos planos? Por que isso agora, Juliette? O que há de errado? Você não me ama mais? Bastou uma única proposta pra você jogar todos os nossos anos e a nossa família no ralo?

Como poderia não amar? Juliette pensava. Como ela poderia dizer isso depois de tudo o que passaram?

— Você não entende.

— Então, me explique! — Sarah se abaixou, tomada pelas lágrimas — Por que?

— Maria Júlia tem seis anos agora, Sarah. Você não vê? Por que de vez aumentar tudo e tornar nossas vidas um caos, não tentamos realizar nossos sonhos? Juntas. E depois, sabe? Depois tentamos outro filho.

— Você sabe que isso não é mais possível, Juliette.

A menor suspirou e limpou suas lágrimas.

— Não é? — Indagou retoricamente, recebendo um aceno positivo — Ou você só não quer?

Sarah ficou em silêncio, a encarando.

— Desculpa, eu não sou capaz de aguentar mais isso. Você não me escuta, nem tem o mínimo de consideração, Sarah.

— Está terminando comigo?

Juliette levantou e caminhou em direção a escada, disposta a dormir. Dormir longe da sua esposa. Precisava apenas disso, ficar longe dela.

— Me responda!

— Não estou terminando, Sarah. — Ela virou para vê-la. O rosto tomado de mágoa e decepção. — Mas foi você quem quis assim.

E, sem mais o quê dizer, subiu a escadaria, trancando-se no próprio quarto.

Naquela noite, ambas choraram pelo casamento e pelos cortes que causaram com suas próprias palavras ditas através da dor e da raiva. Juliette, comprimia-se de chorar e soluçar no quarto; Sarah, evitava bravamente que mais lágrimas descessem, ainda deitada no sofá da sala. Sequer viram quando adormeceram, mas sentiram o incômodo dos olhos inchados e da garganta seca quando o sol raiou, adentrando pelas frestas da janela.

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora