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Era dia 02 de Agosto.
Aquela data rondava sua cabeça como um verdadeiro pião.

Uma enxurrada de lembranças invadia a sua cabeça antes, durante e depois daquela data. Era impossível não lembrar o que aconteceu naquele dia, há quinze anos atrás. E sempre que recordava, um sorriso triste escapava dos seus lábios.

A data era sagrada para Juliette.
Ela passava o dia inteiro no próprio quarto, a menos que algo muito sério tirasse ela dele. Não se comunicava com absolutamente ninguém. Ao contrário, revia fotos antigas e chorava até não ter mais lágrimas para derramar.

Maria Júlia, a sua primogênita.
Como ela estaria agora aos quinze anos? Pensava, enquanto lágrimas quentes banhavam seu rosto. Teria um namorado? Uma namorada? Faria uma festa de princesa? Ainda sentia sua falta ou quem sabe, lembrava dela?

Todas essas indagações martelavam na consciência de Juliette. E desde que havia sumido sem avisar, simplesmente desaparecido do mapa, não houve um dia sequer que não tenha pensado em sua própria filha. Ainda mais, em Sarah, em seu outro filho que negou a existência. Como todos estariam? Ela esperava que estivessem vivos e felizes, mesmo sem ela.

Desde o primeiro ano em que decidiu ir embora, Juliette chorou todas as noites. Chorou de raiva, saudade, medo, angústia, solidão. Queria voltar para os braços da sua esposa, mas ela sequer foi lhe procurar. Quis voltar para a vida com seus filhos, mas nunca mais os encontrou. E não foi por falta de tentativas. Assim que conseguiu dinheiro suficiente, tentou encontrar Sarah e Maria Júlia, mas não conseguiu. Não estavam mais em João Pessoa, nem mesmo no Rio. Pareciam ter dado a resposta à altura para Juliette.

Eles também evaporaram sem nem se importar.
E, céus! Como aquilo doía. Como sangrava, mesmo após longos nove anos de ausência.

— Juliette? — A voz de Deborah surgiu através da porta, seguida de batidas contra ela — Está aí?

— Oi... Já vai!

Rapidamente a artista colocou suas fotos na caixa, junto com uma boneca que tinha levado consigo. Após fechá-la, como se suas memórias se afundassem junto com a escuridão do tempo, ela enxugou as lágrimas, respirou fundo e abriu a porta.

— Sim?

— Você tem uma entrevista daqui a pouco. Por que diabos não está pronta ainda?

Juliette suspirou, mas assentiu em seguida.

— Me dê cinco minutos.

— Seja rápida!

E então, fechou a porta.
Deborah era sua produtora, aquela que era também "pau para toda obra", diria até que era a sua melhor amiga, o seu caso encerrado do passado. Juliette a conhecera no trabalho. Na época, era uma mera cantora de bar e em determinada noite, a ruiva apareceu. Prometeu alavancar sua carreira, se lhe desse uma chance profissional e na cama. Claro, Juliette nunca aceitou. Ela amava a esposa desde sempre e também, desde sempre, deixou claro seu compromisso.

Porém, a ruiva pareceu ser racionalmente persuasiva.

Juliette nunca alavancaria enquanto estivesse casada, ela dizia, isso porque era jovem e a mídia sempre comprava jovens ambiciosas e solteiras. Argumentou que Juliette jamais deveria acabar o casamento, mas, mantê-lo em segredo até estourar nas mídias digitais. Ela conseguiria recurso para trazer estabilidade para si e para os seus, e claro, nunca mais passar necessidade.

Novamente, Juliette recusou. A ideia era absurda! Esconder seu casamento? Sua filha? Impensável! Mas, apesar da relutância, algo parecia ter mudado. Seu casamento ia de mal a pior, mesmo com todo amor que tinha por sua esposa. Casaram jovens, é verdade. Da mesma forma que tiveram uma filha muito cedo. Mas se amavam como nunca. Sarah, na época, fazia bicos de fotógrafa. E Juliette, revezava entre escrever pautas para jornais e cantar à noite. O salário era bom, mas não o suficiente para se manterem. Juliette falava disso para a esposa e cada vez mais, Sarah se afundava no trabalho. Mas não era isso que ela queria.

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora