Decepções

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Quinta-feira, 16h35 da tarde.

— Sinceramente? Não sei mais o que fazer ou o quê pensar.

Gilberto sentou ao lado da amiga.
Fazia dois dias que Maria Júlia parecia ter feito um tratado de silêncio para com sua mãe. Respondia tudo de modo genérico e seco, usando poucas palavras. Sarah, porém, não insistiu. Mas observava com maior precisão a birra que sua filha encontrou para fazê-la finalmente ceder ao seu desejo: encontrar Juliette e ouvir sua versão da história.

— Me sinto uma péssima mãe, mesmo querendo apenas protegê-los, sabe? O Guilherme não suporta sequer ouvir o nome dela, mas a Maria Júlia. — Um suspiro atravessou seus lábios — É como se ela fosse uma deusa, não sei. Uma divindade super inatingível e preciosa na vida dela, me entende?

— Amiga, entendo sim. E se dependesse de mim, essa mulher sequer encostaria um dedo nos meus preciosos. Porém, estamos falando de uma criança de oito anos e uma adolescente de quinze. É o oito e o oitenta da balança, entende?

Sarah assentiu.

— E o que eu faço? Deixo a minha filha se jogar nos braços dessa, dessa... desconhecida?

— Seja racional, amor. Ela não é nada desconhecida. — Gilberto sorriu de canto e Sarah negou com a cabeça — Vocês tem uma história juntas.

— Tínhamos uma história juntas, retificando. E essa história acabou quando ela decidiu pôr um ponto final e abandonar a família dela.

— E eu concordo em número, gênero e grau. Mas não deixa de ter uma história juntas e frutos vivos dessa história, com nome, sobrenome e sentimento. — Ele se aproximou, pegando em sua mão — O que estou dizendo, amiga, é para você sair um pouquinho dessa casca tão dura e pensar neles, como eles estão pensando nesse momento, sabe? Depois voltamos para vocês duas, que aparentemente, é um caso encerrado. Porém, eles não são.

— Estou sendo emotiva demais, não é? — Ela fez uma careta — Uma mãe superprotetora, sempre odiei isso.

— Exatamente, meu doce. Está sendo uma mãe preocupada e superprotetora, mas, lembre-se. Ela também é a mãe dos meninos, bem mais de Maju do que do nosso pequeno, venhamos e convenhamos.

— Isso é verdade. — Sarah retirou uma almofada debaixo de si e colocou no colo, virando-se para vê-lo melhor — Guilherme nasceu e ela nem estava mais aqui, conosco. — A loira riu fraco — Também nunca me perguntou como nasceu, ele simplesmente vive.

— Exatamente. Agora, pensa na nossa adolescente. Ela estava com vocês duas até os seis anos e de uma hora pra outra, a mãe que ela amava tanto quanto você, simplesmente some. Cabum! Desaparece do mapa sem explicações. E você se fecha totalmente, passa mais horas fora de casa e não dá uma explicação racional de onde a outra mãe está. Sarah, a Maju viveu literalmente o término e afastamento de vocês. Ela sente saudade, Sarah. Quer entender não o porquê sua relação com ela acabou, mas porque a Juliette estendeu isso até ela, sabe? O porquê decidiu findar com a relação de mãe e filha que ambas tinham.

— E agora, a Juliette retorna e cabum! Ela quer retomar o laço.

— Sim, é isso. — Gilberto colocou uma mecha de cabelo da loira detrás de sua orelha — Amiga, você não precisa e nem é obrigada a voltar com a Juliette em prol da sua família e eles podem entender isso. Mas em nome das crianças, deve retomar um vínculo. Claro, conversando diretamente com a Juliette, analisando se ela não vai sumir novamente e principalmente, se vai querer mesmo assumir essa responsabilidade com os meninos.

— Acho que meu medo é esse. Que essa volta dela seja temporária e que na primeira barreira que houver, exploda novamente e vá embora.

— Coloque-na à prova, então. Observe. Você é boa nisso!

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora