Depois do Para Sempre | Sariette

Destinadas

“Vamos nos casar!”

O silêncio se fez presente na mesa.
Todos os olhares dos familiares estavam caídos sobre o casal que permanecia de pé e trajando roupas em tons pastéis, com a mão erguida no ar, mostrando o anel fino que haviam comprado de modo simbólico.

A correria para organizar aquele almoço de família não foi nenhum pouco fácil. Assim como a generalização de uma artista lésbica e prestes a se casar, ainda por cima tendo dois filhos adolescentes, também não foi.

A partir do momento em que Juliette postou um carrossel com fotos de casal, o celular de nenhuma das duas permitiu a graça do silêncio e do anonimato. Não demorou mais que uma hora para a notícia sair na televisão, nem mesmo para que ligações em busca de publicidade e entrevistas começassem a ser feitas. Juliette sabia que seria assim e Sarah também. Por cinco dias, a fotógrafa não colocou os pés no trabalho. Está lotado de fotógrafos e jornalistas, Gilberto alegava. E ela definitivamente não gostava dessa superexposição na mídia, nem mesmo de precisar dar entrevistas. Logo, seguiu o precioso conselho da esposa.

“Espere a poeira abaixar.” Juliette dizia com ternura. “Logo vão se acostumar com isso e não será mais uma bomba.”

E ela esperou pacientemente.
Trocava de funções, participava de reuniões on-line, enviava seus amigos fotógrafos para realizar atividades que seriam suas e assim, seguia. Seguia em casa com a esposa e os filhos, já acostumados com a rotina da nova escola que a morena fez questão de escolher a dedo com Sarah.

Em meio a essa confusão, o almoço precisava ser organizado. Foi marcado para o sábado mais próximo. Juliette corria em meio aos trabalhos e enviava ordens claras à equipe do buffet sobre como queria cada comida. Enquanto isso, Sarah era a responsável por organizar as passagens dos familiares e dar um rumo na mudança que parecia nem ter começo, tampouco, fim. A equipe encarregada da mudança precisou estender o prazo. A motivação? Simples! Demanda. E Sarah e Juliette não confiava em outra para tal missão. Então, tudo o que restava era aguardar.

“Por que você não foi me buscar, amor?” Juliette resmungou manhosa ao abrir a porta de casa e encontrar a esposa deitada, lendo um livro, no completo e suspeito silêncio que aquela residência com dois filhos poderia oferecer. “Eu tô com tanta saudade de você.”

Ela chutou os saltos e largou a bolsa no tapete, abrindo rapidamente a camisa de botão que usava, antes mesmo de ir até a esposa e deitar em seu corpo como um coala em busca de aconchego.

“Porque a senhora, minha esposa, não deixou.” Respondeu simples, deixando um beijo nos cabelos castanhos macios: “Lembra?”

Juliette bufou e escondeu o rosto na curvatura do pescoço de Sarah, aplicando um beijo no local. Desde que assumiram tudo publicamente, a fotógrafa fazia questão de ir buscá-la no set ou em qualquer lugar que fosse, quando podia. Sempre entrava, trocava um beijo discreto com a esposa e a esperava até o trabalho ser terminado, para voltarem juntas. Tinha se familiarizado com a equipe e sobretudo, adorava ir apenas para jogar conversa fora e saber que estava tudo bem mesmo com a esposa, apesar dos seguranças estarem atentos.

Porém, naqueles dias foi diferente.
A preocupação veio de Juliette que andava alerta acerca de alguns ataques gratuitos à figura de Sarah. Naquele meio obscuro dos seus fãs, muita gente ainda achava que ia mesmo chegar ao patamar de Sarah e tornar-se sua esposa, melhor amiga ou confidente. Seus fãs mais ensandecidos tinham a certeza absoluta que se tornariam parte da família Freire e isso gerava uma onda de ameaça à sua mulher.

Sua ansiedade foi tanta com aquilo que ela simplesmente proibiu Sarah de ir buscá-la ou de aparecer no emprego. Moveu céus, terras e polícia para achar esses supostos fãs; aumentou a segurança pessoal e dos filhos, e claro, começou a frequentar uma terapia aos finais de semana.