Feridas

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Eu sugiro que se preparem.
A montanha russa está embaixo, mas pode descer bem mais.

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Eu quero o tom lá em cima, em um, dois, três, quatro... isso! Bravo. Agora, as dançarinas se posicionam bem aqui.

O dia era de ensaios.

Juliette finalmente tinha remarcado o último show da turnê e após alguns meses de ausências nos palcos, ela estava comprometida a retornar com os seus trabalhos. Viajaria no dia seguinte e não negava que estava ansiosa, pois, ela sabia que todos os lugares estavam esgotados para recebê-la.

Voltar a sua cidade natal era como um sonho. Tinha tanta história naquela cidade que mal cabiam em uma folha de papel. E todas elas, eram com sua ex-esposa e amigos que há muito tempo não via. Inclusive, Juliette tinha procurado por alguns superficialmente, descobrindo que uns estavam casados, outros tiveram filhos, outros estavam em um bom emprego e dois vieram a falecer de modo inesperado e brutal.

É claro que Juliette guardava suas memórias com apreço e saudades. Fazendo ela querer, muitas vezes, voltar no tempo para revivê-las.

Porém, viajar a trabalho também implicava dar satisfações à sua família. E ela deu. Conversou com Maria Júlia sobre a sua ida e mesmo que ela quisesse levá-la junto consigo — como a própria menina implorou, Juliette se conteve. Não faria nada sem o conhecimento e o consentimento da sua ex-esposa que desde o último encontro, tratou de nem sequer olhar em sua direção, tampouco trocar algumas palavras.

Sarah não pareceu brava como nos últimos meses, apenas aparentava estar distante e focada em seus compromissos. Talvez, até mesmo pensativa sobre o caso de Bianca. Mas, bem. Aquilo definitivamente não cabia à Juliette.

— Uma pausa! — Juliette pediu — Preciso urgentemente de água.

— Vai lá, artista. Recupere suas forças.

Juliette correu para o camarim e a primeira coisa que fez foi se jogar no sofá branco e virar uma garrafa de água mineral na boca, soltando um suspiro de satisfação ao engolir o líquido gelado e refrescante. Sim, ela era apaixonada por seu trabalho. Mas não tirava o mérito de que fazê-lo acontecer dava muito trabalho e principalmente, desgaste.

— Amiga, você está ótima. — Giuliana adentrou, fazendo ela olhar rapidamente para a porta — O timbre, o agudo, a coreografia. Olha? Você se superou.

— Você acha mesmo, Giu?

— Claro. — A mulher sentou ao seu lado — Sua evolução é notável e incrível de se assistir.

— Se você diz, quem sou eu para contradizer? — Juliette sorriu, apoiando a cabeça no estofado do sofá — Nem tive tempo de contar. Sabe quem eu vi esses dias?

— Não. Quem?

— Boca pink. — Retrucou, arrancando um riso da amiga — E adivinha com quem ela está ficando dessa vez.

— Com todos que derem bola?

— Com a Sarah.

— O quê? — Giulianna abriu os lábios em formato de O, completamente surpresa — A sua esposa? Digo, ex-esposa.

— A própria. Encontrei elas duas no restaurante, quando fui almoçar com a Maria Júlia. Eu já sabia que a minha adorável ex-esposa estava ficando com outra pessoa, só não esperava que fosse ela.

— E a sua menina não armou confusão, não? Você disse que ela tem um temperamento daqueles.

— O temperamento herdado da minha honorável mulher, você quis dizer. Elas se bicam tanto porque são idênticas. — Juliette jogou os cabelos para trás, apoiando o rosto na mão — E não, ela não arrumou barraco porque eu não deixei ela ir até lá. Caso contrário...

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora