Tensões

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— Eu não quero! Eu não vou! E ninguém vai me obrigar. 

A porta foi fechada com desdém e um suspiro correu pelos lábios das mais velhas, seguido por um revirar de olhos apáticos. Sarah e Juliette decidiram conversar com os filhos acerca da mudança de rotina e consecutivamente, da escola, que elas precisam fazer na volta a São Paulo. 

Elas passaram quase todos os dias procurando boas localidades para residirem e finalmente entraram em consenso sobre o Condomínio da Serra. Não era distante, mas era bem avaliado, a segurança era impecável e de onde a fotógrafa morava até a nova residência, gastavam apenas quarenta e cinco minutos. Contudo, elas sabiam que precisavam agir. A partir do momento que Juliette anunciasse um casamento repentino e com uma mulher, tudo seria vasculhado. Eles, certamente, iriam descobrir sobre o trabalho da esposa, os filhos que tinham e sem sombra de dúvidas, fazer especulações e até mesmo segui-las para conseguirem ao menos uma entrevista.

Então, diante disso, elas traçaram um plano que parecia ser impecável. Mudariam Guilherme e Maria Júlia de escola, uma vez que todos já os conhecem naquela localidade e uma motorista de confiança seria contratada para se encarregar de levar e buscar as crianças todos os dias em segurança, sem necessitar do deslocamento do casal. Acerca da própria vida, Juliette tentaria explicar tudo de modo claro e sucinto, sem adentrar em muitos detalhes, em uma live do Instagram. Ela não queria que fosse necessário, mas após uma conversa com a esposa, chegaram à conclusão que sim, era. 

Em relação ao trabalho da fotógrafa, ela mudaria — se preciso fosse, o local de seus atendimentos. Principalmente se muitos fossem procurá-la para cercá-la e tirar sua paz. 

Tudo parecia estar em ordem, até surgir a birra do caçula da família. 

— Eu vou falar com ele. — Juliette fez menção de levantar, mas a fotógrafa foi mais rápida.

— Não vou deixar esse garoto bater a porta na nossa cara assim. Não adianta o que ele fala, é a nossa ordem que prevalece. — Pontuou séria, marchando até o quarto que Guilherme compartilhava com Letícia e Maria Júlia. 

— Eu pensei que a mãe seria relutante, mas ela está de parabéns. — Maria Júlia comentou, atraindo o olhar de Juliette. 

— Por que acha isso?

— Porque a mãe não é muito boa com mudanças abruptas. 

— Isso significa que a tia Sarah ama muito você. — Letícia prosseguiu, vendo Maria Júlia assentir.

— Eu também amo muito a minha esposa. — Ela sorriu docemente — Mas conversamos muito pra isso acontecer. Foi uma construção. 

— Incrível como as pessoas se dispõem a mudar todo um plano quando realmente amam alguém e são correspondidas. — Letícia retrucou, dando uma brusca encarada em Maria Júlia. — Outras nem se dão o trabalho.

Juliette estranhou aquela fala e ergueu uma sobrancelha, ficando em silêncio. Após a conversa que ela e a esposa tiveram com a filha, nada mais foi dito. Maria Júlia não comentou o que havia decidido, nem se estava mesmo com Letícia. Mas aquele comentário solto indicava algo na paraibana que ela conhecia bem e de longe. Era uma indireta em prol de uma tomada de decisão.

— Quando elas não se dão ao trabalho, Letícia, geralmente nós terminamos. — Juliette aconselhou. Ela não iria passar a mão na cabeça da própria filha que possivelmente estaria brincando com os sentimentos de outra pessoa.

— Tem toda razão. — Ela titubeou os dedos pela mesa.

— Agora peça desculpas à sua mãe. — Sarah ordenou com um Guilherme choroso que coçava os olhos castanhos enquanto andava.

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora