Plano de Mestre

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Engraçado. 

Li os comentários ontem e não vi nenhum hater contra a Juliette. Algo mudou? rs.

Boa leitura!
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Extra!

Juliette Freire anuncia afastamento por um período indeterminado dos palcos.
A artista internacional destaca que deseja se dedicar à família.
Saiba mais detalhes em nosso portal de notícias.

Sarah estava encarando de modo atônita a notícia que lia e relia pela décima vez.
Após a devassa briga que tivera com Juliette, na qual ela provou do fel amargo do seu passado à espreita outra vez, todo o resto era silêncio. Ao subir para o quarto naquela noite, resolveu passar no quarto dos filhos e a imagem que se sucedeu foi como o segundo golpe de faca afiada em seu peito.

Encontrar seus filhos machucados fisicamente nunca foi fácil em todos esses anos. Mas encontrar seus filhos machucados fisicamente, como no caso de Guilherme e, emocionalmente, como no caso dos dois, aos prantos após ouvir toda a discussão, foi muito pior do que imaginou.

Sequer entrou no quarto.
Não com aquele cheiro, não com aquelas roupas amarrotadas, não com aquelas lágrimas insistentes que estavam caindo pelos seus olhos, não estando revestida pelo seu passado.

A água quente do chuveiro se misturou com suas lágrimas. Sentia a pele arder, mas nada doía tanto quanto seu peito. Sarah se viu nua, despida, completamente esfolada a ponto de ver o próprio coração sangrar e ser transpassado por palavras que vieram a ser como lanças profundas. Não era apenas no sentido literal que a mais velha estava nua, mas, principalmente, no sentido metafórico, no sentido que Juliette podia e tinha autorização de fazer aquilo com ela. Porque ela era a verdade que Sarah precisava confrontar.

Sarah nunca sentiu dúvidas que Juliette era o amor da sua vida. Era óbvio que ambas tinham suas nuances, suas fases e diferenças estritamente complementares.

Juliette era como o sol e Sarah, como a lua.

Sua esposa brilhava como um raio de sol, aquecia, deixava todos à sua margem e proporcionava um calor sem igual. Ela ofuscava quem olhava diretamente, mas acolhia quem se deixava cativar. Dentro de sua luz, havia apenas a verdade. Sua personalidade condizia com o versículo bíblico que afirma: "Porque não há coisa oculta que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta." (LC 8, 17)

No entanto, Sarah era como a lua. Era admirada, mas trazia um ar secreto consigo. Era reclusa e todos sabiam que dentro da noite, havia medo, incerteza, desconfiança e também, tranquilidade, serenidade e descanso. A dualidade parecia estar intrínseca em Sarah, sua variação mudava de acordo com o tempo lunar. Ora cheia, brilhante, visível; ora minguante, deixando apenas uma parte sua ser vista, escondendo os outros noventa por cento de si que equivalia aos seus sentimentos, sua alma, ao seu verdadeiro interior que ficava em completo anonimato.

Segundo a mitologia indígena, esse amor não poderia nunca acontecer, mesmo que fossem feitos um para o outro.

Ora, como o sol suportaria as variáveis mudanças da lua? Não era consistente, único, nem mesmo estável.

E como a lua suportaria o calor do sol? À sua luz que revela tudo e nada deixa escondido? Como a lua conseguiria esconder as suas feridas e vulnerabilidades?

Era o embate perfeito da história do mundo. E por não conseguirem ficar juntos, à eles foi destinado permanecerem distantes. Agora sim, eles funcionam. Mas ainda há um detalhe significativo nessa trágica história. A Lua sempre insistiu, em meio às mutações de suas variáveis, nesse amor. E o sol tentou, mas, amedrontado e ferido, se dissipou do seu lado.

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora