Papo de Mãe

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Juliette despertou repentinamente com o cacarejar do galo.

Sentiu a maciez dos cobertores que envolviam o seu corpo e uma preguiça matinal que sempre lhe acompanhava. Seus punhos cerrados foram diretamente para os olhos sonolentos, na qual esfregou, tentando recuperar a nitidez da vista. Pouco a pouco, ela realmente despertou, abrindo os olhos e aspirando o cheiro de terra molhada.

A visão que se seguiu após encarar o teto branco, foi a melhor em nove anos de ausência. Juliette recordou da noite anterior. Da saída, das declarações, dos beijos afoitos trocados, da volta embaixo de uma tempestade, das suas crianças amontoadas em sua cama, dos toques quentes com a esposa no edredom, e na cena que culminou no que ela tinha diante dos olhos naquele momento.

A sua esposa estava deitada de lado com alguns fios loiros em seu rosto, tinha um bico adorável nos lábios e sua mão esquerda pousava de modo protetor no corpo de Guilherme. Seu filho, porém, estava da mesma forma que a fotógrafa. Porém, com um detalhe incrivelmente fofo aos olhos da paraibana. Suas duas mãos estavam debaixo da bochecha, servindo de apoio para ele dormir.

Juliette se sentia sortuda e verdadeiramente milionária. Por nove anos inteiros, ela aguardou reviver aquela cena e tinha a certeza que ter a sua esposa e seus filhos consigo era como ganhar na Mega-Sena. Um golpe de sorte. Não sabia se havia feito algo bom na vida passada para merecer tantas coisas boas acontecendo, mas agradecia imensamente por isso.

A paraibana tocou suavemente no rosto do filho e deixou um beijo delicado na região, repetindo o mesmo ato com a sua esposa, que resmungou, tirando um sorriso do seu rosto. Ela saiu da cama sem fazer nenhum movimento brusco e tomou um banho quente, buscando por uma camisa da sua esposa no guarda-roupa. Como sempre, ficou bem maior nela. Mas aqueceu seu corpo, junto com a calça de moletom e o casaco que colocou por cima.

Ela deu uma última olhada nos dois e saiu em silêncio, passando pelo quarto em que Maria Júlia e Letícia estavam. Sua mão foi diretamente na maçaneta, mas ela hesitou quando começou a ouvir alguns burburinhos.

- Isso é muito errado. Você nem gosta de mim assim.

- Mas estou viciada no seu beijo. O que posso fazer?

Juliette franziu o cenho.

- Acho que a sua mãe me mataria se soubesse que estou beijando a filha dela.

- Qual das duas? - Elas soltaram um riso juntas.

- Sua mãe Sarah é a mais ciumenta.

- Isso é verdade.

A paraibana meneou a cabeça e assentiu em seguida, se escorando na porta.

- Eu queria parar, Letícia. Mas não consigo, eu me sinto tão confusa com tudo isso.

- Você vai mesmo sair com o Marcos?

- Eu ainda não sei se quero ir. - Maria Júlia prosseguiu - Ele me chamou pra ir ao cinema quando eu voltasse.

- Desde quando você gosta de cinema?

- É, eu não gosto. Mas ele quer conversar comigo, sabe?

- No cinema? - Letícia e Juliette perguntaram em uníssono.

- Eu não sei se confio naquele Marcos. Eu ouvi que ele é mulherengo e que pode ser inconveniente. Não é nem porque estamos ficando, mas porque realmente não confio.

- Bom, ele me mandou algumas coisas e, realmente. Mas eu não dei corda pra ele assim, sabe? De qualquer modo, ele parece um cara legal.

- Você contou para as suas mães?

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora