Tentativas

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Duas semanas haviam se passado.
E, aparentemente, o silêncio e a redenção pareceram caminhar juntos.

Desde o encontro nada agradável de Sarah, Juliette e Maria Júlia, que a fotógrafa parecia ter entrado em um lugar completamente seu, sem dar margem à filha para interpretar seus sentimentos. O dia seguinte foi o mais estranho. Sarah andava com um bom humor nas alturas e sequer tocou no assunto de ter reencontrado Juliette. Estava mais próxima do que nunca dos seus filhos e claro, seguia trabalhando com afinco.

Não que Maria Júlia esperasse um mar de lágrimas ou vasos sendo quebrados pela parte de Sarah, mas seu bom humor foi demais para ela.

É claro que a menina queria falar com a sua mãe sobre isso e que não parava de rememorar um só segundo tudo o que aconteceu. O olhar choroso, o esquivo do toque, seu silêncio, sua posição frágil e o porte imponente da sua mãe Sarah. A discussão no estacionamento e o urso sendo devolvido com um número.

Sim, Maria Júlia fez questão de procurar se naquele urso havia alguma coisa a mais assim que adentrou no próprio quarto, longe da mãe.

E ao encontrar o número de telefone de Juliette dentro do urso, Maria Júlia guardou a sete chaves. Porque, aliás, a relação da sua mãe Sarah com sua mãe Juliette era uma coisa. A relação de Maria Júlia com Juliette era outra coisa. E mesmo que precisasse debater todos os dias com a sua mãe sobre o assunto, Júlia não desistiria fácil assim de receber respostas por esses nove anos de distância.

— Maria Júlia, vem aqui, por favor.

A menina rapidamente levantou do sofá e seguiu a voz de sua mãe, que estava no escritório, mergulhada em edições.

— Sim?

— Senta. — Pediu, apoiando os antebraços na mesa de vidro — Eu não sei se você lembra, mas há duas semanas atrás, eu descobri que você mentiu pra mim.

Maria Júlia ergueu uma sobrancelha após o riso irônico estampado nos lábios da mãe.

— Eu tirei seu celular e suas saídas por duas semanas e isso foi uma consequência dos seus atos. O que eu quero mesmo dizer é, estou liberando você do seu castigo.

— Finalmente, senhor Jesus. Obrigada! — Ela ergueu as mãos em agradecimento, mas murchou ao ouvir o pigarro vindo da mãe.

— Mas... — Prosseguiu, abrindo a gaveta — Espero que você tenha entendido que mentir não é uma opção e acarreta consequências. Nosso elo, como mãe e filha, enfraqueceu. Eu não confio em você como antes e mesmo que a mágoa tenha passado, fiquei triste com você. Aliás, Maria Júlia, você nunca mentiu pra mim.

— Eu sei, mãe. Desculpa.

— Se você quer fazer alguma coisa, converse comigo. Mas não minta. — Avisou, empurrando o celular em sua direção — Você percebe que se expôs a graves problemas desnecessários? E se tivesse acontecido alguma coisa a mais? Como eu ia saber? Onde eu ia te encontrar?

Maria Júlia ficou em silêncio, encarando um ponto atrás da mãe.

— Espero que estejamos entendidas.

— Sim, mãe. Posso ir?

Sarah assentiu lentamente e viu a filha sorrir largamente, sumindo do seu campo de visão.
Subindo pela escada com maestria, ela se trancou no quarto e ligou o celular. A bateria ainda em cinquenta por cento fez ela suspirar de alívio. Conectou rapidamente à internet e foi diretamente para o contato de sua amiga, Letícia.

Não me diga que a tia sapatão liberou você do castigo do monstro. — Letícia disparou, arrancando um riso de Maria Júlia.

— Sim, finalmente. — Elas comemoraram juntas — Eu queria tanto te ver.

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora