— Ô, mãe. Vaca morde?
— Coloca a mão e faz o teste.
Guilherme virou lentamente para encarar o rosto de Juliette, que tinha um sorriso irônico desenhado nos lábios.
— Ô conversa sem rumo e horrorosa, Juliette. Isso é coisa que você diz ao menino? — Fátima ralhou, espetando um pedaço do bolo com o garfo — Cadê a tua mulher, em? Morreu dentro do quarto, foi?
— Credo, vó. Vira essa boca pra lá. — Guilherme fez uma careta de reprovação — Minha mãe não vai morrer agora não, tá?
— É modo de falar, filho. Ela quis dizer que a sua mamãe está demorando muito pra vir.
— Já cheguei, já cheguei. — Sarah puxou uma cadeira, sentando-se em seguida — Está com saudades de mim, é? Minha sogra, minha vida.
— E eu sinto lá saudades tua, Sarah. Se ajeita. Eu só perguntei porque você demorou demais.
— Aham, tá.
— Aí, mãe. Tem um monte de lugar legal pra gente tirar foto. — Maria Júlia chegou ofegante e com as bochechas coradas. — Depois posso pegar a tua câmera?
— Acredita que a gente levou uma carreira daquelas de uma galinha, tia?
— Sim, pode. — A fotógrafa retrucou, cortando uma fatia de bolo — Sim, também acredito. Agora sentem aí pra comer. Depois vocês brincam.
— Uma menina desse tamanho brincando? — Fátima soltou um riso debochado — Com certeza não é filha de vocês.
— Mainha, xiu.
— Nessa idade elas namoravam, né, vó?
— Maria Júlia. — Sarah advertiu, tomando um gole de café — Isso não é assunto pra criança, Maria Bonita.
— Tem que falar mesmo. Se eu não falar, engasgo. — Fátima apontou o garfo para Sarah — Tuas mães já te contaram da palhaçada que foi pra descobrir que elas estavam namorando?
— Vai começar. — Juliette lamentou, massageando suas têmporas.
— Contou por cima, vó. Conta aí como foi.
— Juliette nunca me disse que gostava de menina e eu também nunca perguntei, né? Mas ela tinha um cheirado, uma coisa de ficar tocando em Sarah direto, um negócio assim, cheiro de couro mesmo. Aí eu falei, oxente. Não é possível que essas duas não tenham nada não. Aí fiquei na minha, né? Só que um dia, chegou um garoto aqui em casa. Eu até lembro, estava eu, Abadia, o pessoal todinho.
— Ah, foi o que denunciou vocês? — Maria Júlia completou.
— Disseram mesmo assim, minha filha. Ei, dona Fátima, tua filha tá beijando mulher. — Ela fez uma pausa dramática — Eu olhei assim e perguntei logo. Quem é a danada? Minha filha, quando esse moleque olhou pra mim e disse o nome de Sarah, eu chega soltei o ar todinho. Acho que ele esperou eu surtar, né? Só que fiquei na minha. Eu já sabia mesmo. Aí ele foi e me perguntou assim. A senhora não vai dizer nada não?
— Oxente, e a senhora ia dizer o quê? — Juliette riu.
— Pois, é. Eu ia dizer o que? Vocês duas iam se beijar de qualquer jeito mesmo. Mas quem ficou arretada foi Abadia. Eu até perguntei se ela era cega, porque quando a gente olha pra Sarah, sabe logo, né? Com macho é que não fica.
— Obrigada pelo elogio, sogra. É um desprazer ser confundida com um hétero.
— Pois muito bem. Eu só fiquei meio assim porque essas duas mentiram dizendo que iam ver um jogo. Sempre era algo assim. "Mainha, tô indo ver um jogo com Sarah". Ou então, "mainha, tô indo lanchar com Sarah". E eu, uma besta, acreditava.
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Depois do Para Sempre | Sariette
FanfictionSarah e Juliette se conheceram na infância e passaram por um emblemático processo de aceitação ao se apaixonarem, em meio à família que vivia em um ambiente conservador. Contudo, superado às adversidades, elas decidem se casar e aumentar a família...