Colapsos

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Residência da Família Andrade.
No tribunal: Maria Júlia Freire Andrade e Letícia Duarte Amorim.

— Eu confiei em vocês com a minha vida. Vocês têm noção disso? Ou melhor, vocês sabem o que significa isso?

— Mãe, por favor, deixa a gent-...

— Você mentiu para mim olhando em meus olhos, Maria Júlia. — Ela aumentou o tom de voz e se ergueu da poltrona, fazendo a menor se encolher — E como se não bastasse, ainda envolveu a Letícia nessa, nessa... Merda! Ou melhor, não envolveu, né? Você que quis se envolver por devoção a sua amiga.

— Eu-...

— Silêncio. — Sarah bufou, encarando o teto da sala, enquanto andava de um lado para o outro. — Eu sinceramente não sei com o que estou mais brava. Se é com o fato da minha própria filha ter mentido ou o fato de eu me sentir idiota por ter confiado nas duas. Cara! Diz olhando na minha cara que vai fazer um trabalho, depois vocês fogem para a porta de um hotel e voltam como se nada tivesse acontecido. Aliás, foi por isso que você chegou chorando em casa, não foi? — A mais alta virou, observando o rosto banhado pelas lágrimas da filha — Responda!

Maria Júlia apenas assentiu, fungando em seguida.

— E não me contou porque sabia que eu ia brigar. Certo ou errado?

— C-certo, mãe.

— Se sabia que eu ia brigar, porque diabos você fez isso?

— Tia, eu posso explicar.

— Pode me explicar? — Sarah riu sem humor, sentando novamente na poltrona — Você pode me agradecer por eu não contar um ponto ou vírgula dessa merda que vocês fizeram pra sua mãe.

— Sim, tia. Desculpa. — Letícia desviou o olhar para suas mãos, fazendo a loira respirar fundo.

— Eu não esperava isso de vocês, Maria Júlia e Letícia. Estou tão decepcionada que não consigo raciocinar. — Despejou, olhando seriamente para ambas — E eu descobri por uma merda de notícia televisionada. — Ela riu sem humor — E tudo isso por uma mulher que-...

— Não fala assim dela. — A voz de Maria Júlia saiu como um estrondo. Algo que fez Sarah erguer uma sobrancelha e fechar ainda mais sua expressão. — Tudo isso é por sua culpa. Você não sabe de nada, mãe!

— Minha culpa? — Repetiu, vendo a menor assentir — Fui eu que abandonei vocês durante seus nove anos, Maria Júlia? Foi? — Esbravejou. — Você não devia defender um dente daquela mulher, Maria Júlia. Aliás, ela é tão boa que deixou você voltar chorando, não foi? Aposta quanto que ela sequer lembra de você?

— IDIOTA! — Esbravejou de volta em meio aos soluços e correu para o quarto, fechando a porta em uma batida forte.

— MARIA JÚLIA, VOLTA AQUI AGORA! — Sarah bufou de raiva, apertando os cabelos entre os dedos.

— Eu sei que... — Letícia engoliu seco ao ver o olhar esverdeado completamente dilatado da mulher — Não estou em posição de falar nada, mas... — Suspirou — Não pode deixar suas desavenças interferirem na relação ou nos sentimentos dela.

— E o que você sabe sobre isso, Letícia Duarte Amorim?

— Nem tudo é sobre você. — Levantou com um ímpeto de coragem impagável — Maju sente saudades da mãe porque você fez questão de não ser clara o suficiente sobre a situação e jogar tudo por debaixo do tapete. E bum! Ela descobriu e bum, ela quer saber sobre a mãe. Aliás, ela tem direito de saber e a senhora não pode intervir nisso. — Pontuou trêmula, dando um passo para trás quando Sarah levantou — E digo mais. Eu menti e mentiria de novo por ela. E quer saber? Não me arrependo. — A adolescente jogou a bolsa no ombro e saiu em disparada pela porta — Eu faria tudo de novo, tia. Sinto muito.

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora