Vigilantes

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— Divórcio?

Ela assentiu em silêncio.

— E o que você respondeu?

— Nada, oras. — Juliette puxou o travesseiro para deitar — O que eu poderia dizer?

— E você vai dar o divórcio a ela? — João insistiu, apoiando o queixo na mão — Digo, assim, fácil?

Juliette suspirou, voltando o olhar para o teto.

— João, eu abandonei a minha esposa enquanto ela estava grávida. Quase dez anos depois, eu volto. Você acha mesmo que a Sarah, uma canceriana nata e dura de roer, vai se ajoelhar nos meus pés e pedir pra voltar? Ou melhor, me perdoar?

— Vamos com calma, amiga. Tudo bem, você cometeu um erro grotesco! Ponto. Mas foi um erro pensado em ajudar a sua família, você mesma disse. Se não fosse por causa da Debônia, eu garanto que você tinha voltado para a sua família, certo ou não?

— Certo.

— Então, amiga. Vocês saíram magoadas, tudo bem. Sarah bem mais e você com os resquícios da última briga. Mas, agora deixando essa situação em específico de lado, me fale sobre o que você sente em relação à Sarah. Deixou de amar a sapatão do mundo fotográfico?

— Você faz perguntas difíceis, João. — Retrucou manhosa, afundando o rosto no travesseiro.

— Necessárias. Vamos, me responda. Deixou de amar a sua esposa?

— Não, João. Não.

— Ainda sente vontade de beijar a sua esposa?

— Muito. — Resmungou.

— Está feliz de saber que a sua esposa está beijando e satisfazendo uma piranha?

— Ok, parabéns. Agora eu estou com raiva. — Juliette levantou em um ímpeto, andando de um lado para o outro — Não é possível, digo, é possível. Foram nove anos longe, é claro que uma mulher gostosa e daquele porte não ia ficar isenta de urubus. Assim como não ia querer ficar sozinha pelo resto da vida.

— Isso, Juliette. Mostra a loba que existe em você, au! — João riu divertido, deitando completamente na cama — Imagina, amiga. Uma má-drasta com seus filhos.

— Sarah não é boba também. Ela não ia deixar ninguém se aproximar deles se não tivesse completa certeza que essa pessoa é confiável.

— Exatamente, isso significa que ela pode estar amando essa pessoa.

— Argh, João. — Rosnou, sentando de uma vez no colchão — Eu me sinto uma egoísta. Por nove anos, não estive com ela. E agora o que acontece? Finalmente consigo voltar, ela está amando outra pessoa e eu simplesmente entro no meio. Entende o que quero dizer? Me sinto culpada.

— Prefere deixar o caminho livre, então? Porque sabe, a Sarah ainda deve gostar muito de você. O amor de vocês é juvenil, lembra? Desde cedo. Não costuma acabar assim. E tenho absoluta certeza que a sua volta deve ter balançado os sentimentos dentro dela, mesmo que não esteja expressando agora. Porque claro, a mágoa está bloqueando o caminho, sim?

— E o que eu deveria fazer? Ela definitivamente não acredita em mim, sabe? Nem mesmo quer me ouvir e o pior de tudo, João? Eu entendo ela.

— Se fosse eu, Ju, veja bem, se fosse eu... — Ele ergueu o tronco e se virou, cruzando as pernas em posição de meditação, fixando bem o olhar da amiga — Primeiramente, teria uma conversa franca e sincera com ela. Contaria absolutamente tudo o que aconteceu, principalmente em relação à Deborah e o que você sentiu naquela época, quando vocês brigaram.

Depois do Para Sempre | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora