Capítulo 1

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Assim que as ondas do mar se alinharam às primeiras estrelas do céu, os homens dispersaram-se em direção ao convés principal com um balburdio animado entre risadas e exclamações

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Assim que as ondas do mar se alinharam às primeiras estrelas do céu, os homens dispersaram-se em direção ao convés principal com um balburdio animado entre risadas e exclamações.

Estes homens, cujo espíritos eram até mesmo mais livres do que as criaturas que se escondiam nas profundezas, erguiam seus cálices de ouro para os céus; que irradiavam, como os astros semelhantes a fogueiras ardentes de chamas douradas acima de nós. O seu ouro vívido do brasão real bravateava na bandeira entre os velames imponentes, elevada no imponente mastro.

Àquela hora do dia, o balançar do navio sob as ondas era quase imperceptível.

O sol, em sua última despedida, estendia raios dourados até o horizonte, tocando o céu e o mar. O oceano, como um espelho esplendoroso, refletia suas cores e formas no firmamento, criando uma pintura etérea e silenciosa na água. O meu olhar se perdia na imensidão azul, onde o mar se confundia com o infinito.

Após semanas de convivência íntima com o mar, aquele espetáculo magnífico já não possuía o mesmo poder de encantar, mas ainda abrigava uma beleza singela e indescritível.

Esgueiro-me na borda de madeira, as primeiras estrelas se desenhando em meus olhos.

Uma maré de frustração me envolve ao recordar o telescópio abandonado no canto do escritório do quarto.

Aos dezesseis anos, ele se tornou meu presente mais precioso. À distância das luzes e labaredas que iluminavam o reino ao anoitecer, esta seria a oportunidade perfeita para desbravar, para além dos mares da costa, as estrelas que sussurravam aos homens os segredos de um oceano que eles desconheciam.

Acompanho os marujos que comemoram com alvoroço, entoando melodias que ressoavam sob o murmúrio das ondas e convidavam para uma dança nórdica no convés, onde o assoalho de madeira reluz como novo.

Eles me reverenciam.

Ergo o meu cálice e sorrio, retribuindo os gestos sem muita cerimônia ou formalidades.

Quando não confinado por trás das imensas torres do castelo, eu me rendia à parte perigosa daquele cenário como se fosse meu.

Mas não era.

Há uma beleza inegável em entregar o destino ao próprio acaso. A coragem que permeia tais escolhas brilha tão intensamente quanto joias de um tesouro perdido, escondido nas entranhas de uma ilha perdida. Guiados por rotas traçadas nas bússolas e nos mapas, eles eram livres para transformar o destino em caminho das estrelas.

Eles eram livres de uma forma que eu jamais entenderia — e, sequer, poderia.

Não com o meu dever.

Eu termino o meu cálice de uísque, sentindo o ardor fulminante em minha garganta, e me encaminho ao convés. O navio de carga, talhado à madeira e ferro nobre, ruge como um leão poderoso nas águas esmeraldas. Ao chegar no convés, minha acolhida é calorosa e muito, muito animada. Cálices são levantados para o céu em louvores e berrarias, refletindo nos cristais os raios de um sol já minguante em nossos rostos. Palmas rítmicas acompanham as notas altas da canção, uma única flauta prateada liderando o coro de vozes masculinas.

ALGUM LUGAR DO OCEANOOnde histórias criam vida. Descubra agora