Capítulo 22

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Após infindáveis horas de navegação, finalmente avistamos um solitário pedaço de terra emergindo do oceano sem fim

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Após infindáveis horas de navegação, finalmente avistamos um solitário pedaço de terra emergindo do oceano sem fim. Os piratas, com os olhos atentos e as mãos calejadas, estavam preparados.

Eles lançavam os botes ao mar, habilmente manuseando as cordas que os sustentavam no navio e separavam os volumosos sacos de pano. Eu, embora tivesse merecido a desconfiança de Rhascourt, ainda me sentia levemente desapontado por não ser um dos escolhidos à missão.

Todos sabiam que eu não recusava trabalho, até Rhascourt, mas eu compreendia suas razões por estar — agora mais do que nunca —, atento aos meus passos. Eu me encosto no mastro de madeira, observando o frenesi intenso que banhava a tripulação.

Os piratas corriam apressadamente como marionetes sob o comando invisível dos ventos. As velas esticavam-se, chicoteando no ar, imponentes, conforme a brisa marinha. O convés rangia sob nossos pés, protestando contra a movimentação inesperada.

A ilha era significantemente pequena, mas encantadora. A praia, um tapete de areia dourada, brilhava com os beijos ardentes de sol, cada grão refletindo a luz solar como moedas de um tesouro perdido, esquecido pelos navegantes, mas não pelo tempo. Ondas tranquilas acariciavam as costas, cobrindo o manto de areia com espumas passageiras e promessas de marés futuras. E, ali, no limiar entre o mar e a terra, um pequeno porto guardava as pequenas embarcações atracadas.

O som do mar na praia ainda me tranquiliza de uma forma que eu nunca fui capaz de compreender.

Rhascourt preferiu que preservássemos uma distância segura da ilha. Eu tentava me conformar com a efemeridade das ondas perdidas e sua sinfonia, que trazia os grãos de sal até o meu rosto e que se desfaziam em um milhão de pequenas partículas, e não desperdiçar a chance de contemplar o quadro que se desdobrava diante de mim, me detendo a somente imaginar as cores, os cheiros e os sabores que eu não conheceria.

Além das sombras da desconfiança de Rhascourt, eu sabia que ele estava me protegendo. Todos, como corvos famintos, devoravam a notícia da minha suposta morte, lábios sussurrando meu epitáfio, olhos buscando os meus rastros nas dobras do tempo. Os soldados ainda estavam à minha procura. Eles não descansariam, não até que a minha cabeça fosse ofertada ao rei, como um troféu macabro de guerra.

Eu sabia que estaria seguro escondido nas velas do navio. Não podia me arriscar outra vez.

Horne, ao meu lado, era como um vulcão adormecido examinando com atenção a agitação dos piratas no convés. Sendo o único contramestre nomeado por Rhascourt, o homem de sua confiança, ele era o timoneiro quando Rhascourt se ausentava. Eu sabia que aquela também era uma das suas formas de me manter por perto, a mando do capitão. Ele estava me vigiando. Tudo, nos últimos dias, era sobre me vigiar, na verdade.

Eu estava acostumado com aquilo. Em Arcatia, a presença dos soldados em minha volta era como um lembrete constante da minha posição no trono. Os seus olhos vigilantes, embora frios, transmitiam uma certa impessoalidade, um mero cumprimento do dever. Mas a bordo do navio pirata, os olhos que me fitavam eram faróis de desconfiança.

ALGUM LUGAR DO OCEANOOnde histórias criam vida. Descubra agora