Capítulo 26

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Callisto Desjardins Callox Maxwell, era o seu nome

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Callisto Desjardins Callox Maxwell, era o seu nome.

O meu irmão. O herdeiro ao trono. O legítimo.

Atravessamos nas encostas, fendas que se abrem para revelar um caminho estreito, quase secreto, para dentro da ilha com areia que reluz como ouro bruto, intocado. Quimérica, tão real quanto o sal que lambe o mar — como o aperto delicado que aquece minha mão, entrelaçada à sua. Olhos cinzentos e silenciosos se estendem em minha direção, cúmplices de um silêncio mútuo.

A preocupação espreita em seu olhar, mas não há palavras. O agradeço em silêncio, sentindo apenas o ar frio mastigando minha medula. Eu sabia que as carícias em minha pele carregavam perguntas secretas que ele não ousava pronunciar, mas eu mal sabia como realmente me sentia.

O seguimos. Rhascourt e eu. Elaena e os outros. Ele à frente, seus cabelos longos e dourados dançando com o vento. Uma semelhança fugaz, com exceção do cabelo e dos olhos que lembram a mamãe, com a mesma compostura de um nobre do papai.

O crepitar incessante das folhas secas sob nossos pés ecoa como um mantra, único som que tece a trilha sonora do nosso silêncio ensurdecedor. O sol poente ilumina o céu como uma pintura impressionista, colorindo com tons alaranjados e rosados e pincelando o nosso caminho com manchas de luz. Serpenteamos a margem em direção à casa de madeira, adornada por um jardim de flores adormecidas.

Os outros olham para Callisto como um líder, como um amigo, mas meus olhos não reconhecem essa irmandade. Gostaria de enxergar através das memórias fragmentadas dos piratas a semente dessa cumplicidade, mas estes homens nunca deixaram de ser um mistério. Um mistério que corrói e se infiltra nas veias como erva daninha, sugando a seiva da vida.

Elaena decide romper o silêncio que nos cerca. Assim como Rhascourt e eu, Callisto e ela estavam... próximos demais. O braço enlaçado ao dele. Os ombros que sutilmente se encostavam. Era um toque simples, e quase imperceptível, mas que fala mais alto que as palavras.

— Sem a menor chance. Você não construiu isso tudo sozinho.

— Por quê?

— Um príncipe que trabalha com as mãos? — ela indagou, a voz carregada de ironia. — Aproveitou as últimas décadas para quebrar tradições, alteza?

Um meneio. Um leve descenso de cabeça. A lembrança da mamãe, a mesma mímica antes do riso.

E então a risada surge.

— A casa é a casca vazia, vocês vão ver — garantiu. — Vão se surpreender quando eu mostrar o resto — virou-se enquanto caminhava. A proposta se estendia para todos, mas seus olhos pararam apenas em mim. — Alguns dizem que cem anos ainda é muito pouco para uma vida. Tolice.

Os outros riram, como se compartilhassem do mesmo segredo. Não Rhascourt, não eu. O que eu sentia era algo completamente diferente.

O aperto na minha mão se intensificou. A tensão emanava do corpo do pirata, sua mandíbula travada como um cadeado. A respiração estava pesada, o rosto indecifrável. A promessa quebrada, mesmo que por um breve instante, pesava como uma lápide sobre meus pensamentos.

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