Capítulo 25

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Eu acordei horas mais tarde com um solavanco bruto que me roubou o ar

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Eu acordei horas mais tarde com um solavanco bruto que me roubou o ar. Acima da minha cabeça, o convés oscilava. O mar rugia, suas ondas ferozes chicoteando o casco do navio como se o próprio oceano quisesse nos engolir e nos levar até as profundezas. No entanto, não foi a fúria das águas que me despertou do sono. Foram os gritos.

Levanto-me depressa, detendo-me a somente abotoar os primeiros botões da camisa antes de correr aos passos oscilantes em direção ao convés, mas não era tão fácil. O navio estava hesitante, tombando para os lados. As ondas, famintas. A névoa densa e obscura que recobre as nuvens do céu transforma o nascer do dia em uma penumbra sombria da noite. No convés, os piratas se agitavam como um amontoado de formigas encharcadas enquanto dançavam em meio as sombras correndo de um lado, para o outro. Um trovão rasgou impiedosamente os céus e cortou a minha garganta.

O medo reverberou em meu estômago quando o mar se agitou, em resposta às provocações dos deuses dos céus. Era como se eles travassem uma batalha diante dos meus olhos. Sussurros de tormenta percorreram a superfície escura e a madeira, alcançando meus ouvidos como prenúncio de uma fúria crescente. Erguendo-se como montanhas de águas negras, as ondas violentas anunciavam que não estávamos muito longe do encontro mortal com o mar sombrio, mas o quão perto estávamos dele?

Quanto tempo teríamos?

A tempestade era um aviso.

Um aviso cruel e nefasto do perigo que se aproximava. Ela anunciava o nosso fim.

As neblinas de água alcançavam meu rosto como mil navalhas afiadas, trazendo o sal do véu úmido da nuvem aos meus olhos, me cegando. Aperto os olhos com força, obrigando-me a enxergar por além da névoa que recobriam as silhuetas dançantes como espectros de fumaça sobre a bruma. Seus olhos inexpressivos e sem vida iluminados pela luz bruxuleante das lamparinas. Desvencilho-me do mastro e avanço, hesitante, em direção ao outro lado do convés, onde os piratas lutavam contra a impiedade do furação de vento para prender as cordas.

Angústia me consumia. Mesmo em minhas viagens mais desafiadoras, jamais havia presenciado a fúria de uma tempestade como essa. No mar de águas serenas que eu havia navegado, não cabia espaço para o caos de uma tempestade. Os piratas sabiam o que nos aguardavam naquelas águas, mas eu não.

Os ventos implacáveis mudaram nosso norte e as ondas implacáveis nos arrastaram para um destino desconhecido, mais distante do que jamais ousaríamos imaginar. Vi Rhascourt e Horne apreensivos. Eles tentavam decifrar as coordenadas, mas o céu, inundado de maus presságios sombrios, havia engolido as estrelas, os nossos guias celestes.

Então, em um piscar de olhos, uma chama incandescente rasga o céu com um trovão que ecoa em meus ouvidos. O vento açoitou as velas içadas, arrastando o navio para um abismo nebuloso que se erguia, como um monstro marinho emergindo das profundezas do oceano. Uma fronteira de névoa se desfez desvanecendo-se nas ondas separadas em duas nuances assustadoras, onde o azul do mar se transformava em um reflexo obscuro das nuvens tempestuosas.

ALGUM LUGAR DO OCEANOOnde histórias criam vida. Descubra agora