Capítulo 24

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Enquanto as velas oscilavam como asas de uma fênix, os piratas comemoravam à euforia contagiante erguendo taças de metal que transbordavam vinho em direção aos céus, em uma oferenda aos astros

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Enquanto as velas oscilavam como asas de uma fênix, os piratas comemoravam à euforia contagiante erguendo taças de metal que transbordavam vinho em direção aos céus, em uma oferenda aos astros. Estávamos em alto-mar outra vez, festejando o retorno dos piratas. Os mantimentos recolhidos por eles garantiriam nossa ida e, talvez, retorno da ilha de Syphora. Se retornássemos. Muito mais do que a incerteza de um futuro sombrio, o ar estava carregado por uma atmosfera vívida, alegre e contagiante.

Os piratas haviam retornado e isso era razão para comemorarmos.

O crepúsculo era contemplado às batidas no chão do convés com os pés descalços, enquanto suas mãos calejadas batiam palmas em uníssono. A canção vibrante rompia o silêncio do mar de águas quase tempestuosas. A noite caía sobre o mar refletido, a luz da lua e das estrelas iluminavam o convés como um palco, como lindas fogueiras flamejantes e flutuantes.

O ritmo pulsante da melodia despertava nos homens do mar o sorriso mais cálido — e mesmo Elaena, que eu nunca imaginei ser capaz de sorrir, sorria abertamente.

Eu não entendia como uma lenda poderia ter tanto poder sobre eles. Como um pedaço de terra mítica e envolta por mistérios, poderia ser mais real do que o mar que nos cercava. Uma lenda. A ilha de Syphora era só mais uma lenda dentre tantas outras, mas o Mar Sombrio, não. Suas histórias eram reais.

O mar sombrio era um cemitério de navios. Incontáveis embarcações desapareceram nas águas negras. O que havia restado daqueles navios eram esqueletos de madeira apodrecida, atormentada pela impaciência dos séculos. Os contadores diziam que os navios eram arremessados contra rochas afiadas que emergiam do oceano como dentes de um monstro marinho pelas ondas. Os que não sucumbiam à fúria das ondas, eram tragados por um abismo profundo, um buraco negro que se formava desde as profundezas e sugava tudo ao redor, engolindo-os sem deixar rastros.

Os destroços espalhados nas águas escuras das embarcações que foram atiradas contra o labirinto cruel de rochas revelava a parcela de verdade contida nas histórias como a do mar sombrio; eram um lembrete feroz do constante perigo que espreitava nas profundezas.

Essa, e somente essa, era apenas uma parte contida dos boatos que cercavam o mar sombrio.

Mas enquanto a melodia ressoava e a dança era frenética, aqueles homens não estavam brindando o fim iminente das suas vidas, mas a salvação delas.

Rhascourt compartilhava do mesmo sentimento de felicidade. O sorriso frouxo brincava em seus lábios contraídos, muito mais solto devido ao vinho.

Tudo estava bem, e, naquele momento, era tudo que importava. Um pouco distante da comemoração, eu observava a cena com um misto de curiosidade e fascínio enquanto meu coração era guiado pelas notas dos instrumentos de sopro. Não era nada parecido com os grandes bailes que tínhamos no palácio. Era mais alegre e contagiante. A dança, a melodia, as risadas... Tudo me envolvia com um abraço caloroso e me fazia pensar, por um momento, que eu poderia ser parte daquilo. Eu poderia ser parte dos piratas, poderia ser mais livre do que eu jamais imaginei um dia poder ser.

ALGUM LUGAR DO OCEANOOnde histórias criam vida. Descubra agora