Capítulo 7

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A mulher pressiona os lábios ressecados, avaliando a gravidade do corte no meu braço

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A mulher pressiona os lábios ressecados, avaliando a gravidade do corte no meu braço. Pelo suspiro profundo e sua testa franzida, consigo presumir que as notícias não são nada boas.

— É um corte fundo — comentou. A lamparina apoiada em cima do barril mais próximo iluminava seu rosto enquanto ela inspecionava. — Você perdeu muito sangue, por isso a boca seca e a fraqueza repentina. Não é nada que não possa ser curado, mas eu vou ter que costurar.

Eu sinto uma náusea em antecipação, mas não há muito que eu possa fazer senão aceitar a sua ajuda.

A pirata das serpentes estava certa. A curandeira me visitou no cair da noite, quando os murmúrios das ondas não passavam de uma lamentação distante. Às vezes, em meio ao silêncio ensurdecedor e agoniante, eu deixava que elas levassem meus pensamentos para longe. Pior do que uma dor de cabeça constante, é uma dor de cabeça por simplesmente pensar demais.

Um desconforto súbito me alcança ao vê-la preparando seus instrumentos de trabalho.

Não é apenas as longas agulhas de metal e os fios de seda que me fizeram perder o fôlego. A minha barriga ainda protestava, aos roncos. Não havia tocado na sopa de peixe que a outra mulher trouxera para mim, mais cedo. Agora, moscas se amontoam sobre ela como parasitas famintos.

Eu arrasto meu corpo para o lado com sua ajuda, tentando encontrar uma posição mais confortável para estar.

— Tire a camisa — disse, logo se inclinando para minha frente e me ajudando a tirá-la. O frio da noite faz meu corpo tremer. — Daremos um jeito nisso também — apontou para a minha mão imobilizada.

Bato os cílios sentindo um imenso cansaço, lutando para não adormecer.

— Quem... O que é você? — pergunto. — Você é humana?

A pergunta lhe arranca um sorriso furtivo, discreto, mesmo que ela não retribua meu olhar. Toda a sua atenção está disposta nos instrumentos que ela esterilizava com álcool, que deixava seu cheiro forte impregnado no ar. De qualquer forma, ela parece normal — aceitavelmente normal e muito mais higiênica do que se espera quando se imagina um pirata. Ela tem cabelos longos ondulados, castanho-escuro, olhos acinzentados e dentes brancos.

— Sou tão normal quanto qualquer um desse navio - responde simplesmente, sem deixar mais espaço para perguntas.

Ainda assim, porém, insisto:

— Quem é o seu capitão?

A mulher ergue o queixo e me fuzila com os olhos, quase me repreendendo por querer saber de mais. É nesse momento que percebo uma vergadura de uma cicatriz profunda que se estende desde o canto do lábio, até o meio da sobrancelha esquerda.

A cicatriz me faz sentir um incômodo arrepio na espinha. Pela primeira vez, eu engulo as outras perguntas que se formam em meio ao nosso silêncio. Não queria soar indelicado.

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