Capítulo 10

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Eu tinha cerca de noventa e nove por cento de certeza de que Ace lançava um olhar furtivo para Horne, do outro lado do navio

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Eu tinha cerca de noventa e nove por cento de certeza de que Ace lançava um olhar furtivo para Horne, do outro lado do navio.

O contramestre tinha as mãos na cintura e a postura ereta, enquanto conversava com um dos dois navegadores que mais se parecia como uma formiga ao lado do homem tão grande. A conversa parecia bastante acalorada. Não seria má ideia convencer Ace a nos aproximarmos um pouco mais, mas sua cara estava tão séria que eu hesitei em falar.

Eu não sabia como funcionava o espírito de camaradagem entre aqueles homens. Mas a maneira como o pirata de cabelos de fogo encarava Horne sugeria tudo, menos que eles eram próximos ou ao menos que ele o suportasse.

Sigo os olhos esverdeados. Lembro do que Rhascourt disse sobre Horne — Horne sustentava com honra seu título nada honrável de ser o maior idiota a bordo do navio.

Ele mesmo havia me provado isso no tempo que passamos juntos. A verdade é que ele sempre está onde eu estou, de alguma maneira, como um guarda de prontidão. Eu não me surpreendia nenhum pouco que Rhascourt tivesse escolhido um cretino à sua altura para denominar como seu contramestre.

Assim como não era nenhuma surpresa que o pirata de cabelos ruivos não o suportasse.

Ace se tornou o mais próximo que eu tinha encontrado de um possível colega — e, talvez, amigo. Seu humor sempre ácido, mergulhado em puro sarcasmo, soava como música para os meus ouvidos assim como as ondas do mar me acalmavam nos dias mais turbulentos.

Era fácil rir sem perceber das coisas que ele dizia, mesmo que a maioria dessas coisas dissesse respeito a mim. Ou quão irônica era a cena em que um príncipe como eu, com o destino selado ao trono, ficava de joelhos no chão de um convés esfregando o piso com uma escova na mão.

Os seus comentários me faziam achar graça da minha própria situação, por mais trágica que ela fosse. Se eu permitisse meu pensamento fluir e ser direcionado ao sabor da brisa, a angústia lamberia minha alma e me faria ruminar sobre como minha vida mudou drasticamente em uma semana tão breve. Com o passar dos dias e a responsabilidade sobrecarregando meus ombros, aprendi que era infinitamente preferível manter o meu corpo ocupado em vez de permitir que minha mente vague para destinos desconhecidos.

— Ace? — o chamo, estalando os dedos na frente do seu rosto. — Está tudo bem?

O pirata pisca os olhos como se saísse do transe, e me encara com confusão.

— O que foi?

— Você está bem?

Mais uma vez, Ace perde o próprio foco e encara Horne com vacilação. O outro pirata é atingido pelo olhar persuasivo do mais jovem e reflete o seu olhar na nossa direção. Naquele infindável instante de segundos, em que ambos se encontravam, parecia existir um impasse na troca de olhares intensas.

Ace desvia primeiro.

— Estou — disse, inclinando os ombros para cima. — Conseguiu fazer o nó?

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