Capítulo 20

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As águas estavam mais calmas

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As águas estavam mais calmas. Embora ainda não tivéssemos enfrentado uma tempestade torrencial, os ventos definitivamente estavam mais tranquilos. A ausência de nuvens no céu concebia aos raios de sol que tocavam as águas, uma dança graciosa, a luz refletindo na água como diamantes. Eu sabia que as águas tranquilas eram um sinal.

Rhascourt caminhou até mim, espalmando as mãos na borda de madeira.

— Algum problema? — perguntei.

— Estamos navegando à Elyria — respondeu.

Encarei o mar tranquilo a nossa frente. Eu estava certo, no final. Estávamos seguindo em direção a terra firme, onde a maré era mais calma. Significava que iríamos atracar em breve. Conhecia a ilha de Elyria apenas pelas coordenadas dos meus mapas. Nunca tinha passado navegado por suas águas.

— Aconteceu alguma coisa?

— Vamos abastecer o navio — disse ele, e então se virou para mim. — Esquecemos de reabastecê-lo em Belrealis depois de um pequeno incidente.

Um pequeno incidente. Essa era sua maneira, muito gentil, por sinal, de tratar à minha fuga do navio. Eu me sentia seguro agora, com Rhascourt e com os outros piratas, mas às vezes eu revivo os momentos de terror em minha agonia. Os pesadelos são a pior parte.

O que teria acontecido se Miro não tivesse me ajudado?

— Isso significa que — interrompe os meus devaneios —, você vai ficar no navio enquanto os outros vão até a ilha. E dessa vez, eu vou ficar com você.

— Para me vigiar — completo.

— Talvez — concordou, puxando o canto dos lábios em um sorriso. — Não posso perder a chance de ter o príncipe só para mim durante todo esse tempo.

Aquilo fez meu sangue subir. Rhascourt não se importou e continuou me encarando, aproveitando com diversão o efeito que suas palavras tinham me causado. Puxo o ar com força para dentro do peito, fixando meus olhos nas ondas que se desfaziam quando encontravam o casco do navio.

As coisas pareciam diferentes entre nós. Alguma coisa havia mudado, mas o aroma da maresia entre nós ainda era o mesmo — intenso e em constante movimento perigoso. Quando o segurei machucado em meus braços, eu tive certeza de que poderia beijá-lo.

A mesma certeza me consumiu noites atrás, na sua cabine, quando ficamos tão próximos que nossa respiração se entrelaçou em dança silenciosa. Eu poderia beijá-lo.

Eu queria beijá-lo.

Rhascourt poderia desejar o mesmo, mas no fundo, eu sabia que não podíamos.

Eu não podia.

Eu não suportaria o peso de novos segredos. Rhascourt parecia estar sempre tão envolvido por esses enigmas, que acabou por também se tornar um.

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