A manhã do dia seguinte irrompeu com um raio de luz intenso que me obrigou a apertar os olhos, perturbado. Ainda sentia as pontadas lancinantes na parte de trás da minha cabeça, resultado das noites mal dormidas. Não importava o quanto tentasse, nunca me acostumaria aquela vida.
Sentia falta de casa. Eu preciso ir para casa.
Inclino meu corpo e apoio os cotovelos no colchão para espiar ao redor, no enorme dormitório, mas não encontro ninguém ali. Encaro o céu azul e os sussurros da brisa marinha me saúdam com um bom dia. O sol se estende quase no centro do horizonte infinito. Arregalo os olhos e levanto-me às pressas, falhando aos meus tropeços.
Eu estava exausto demais depois de um dia inteiro sob a vigia do sol escaldante, arrumando as velas e acabei dormindo mais do que devia. Pelo sol que brilhava forte lá fora, já devia ser quase meio-dia. Os piratas se levantam antes mesmo do nascer da estrela.
Isso era terrível, terrível mesmo. Ficar na cama até tarde, mesmo que eu não tivesse escolha, não ia me fazer ganhar o respeito dos outros piratas e, pior: não deixaria Rhascourt contente sobre o nosso trato. Ele ia achar que eu estava me aproveitando da sua hospitalidade ao me dar uma acomodação melhor que a que me era previsto desde o começo.
Corri pela madeira que rangia sob meus pés, procurando pelos piratas que se espalhavam pelo navio. A maioria deles faziam seus afazeres, uns limpando, outros ajudando no convés ou navegando, sempre atentos nos caprichos dos deuses dos mares.
O ar salgado me enchia com liberdade e eu tento o máximo que posso, respirá-lo intensamente, com o peito aberto, enquanto atravessava caminho entre os homens, procurando um rosto em específico.
Os cabelos flamejantes do pirata parecem cintilar sob o sol.
— Bom dia, Bela Adormecida.
O cansaço faz meu rosto corar.
— Por que não me acordou?
— Eu até quis. Precisava de você para me ajudar a limpar a dispensa lá embaixo, mas segui ordens.
— Ordens de quem? — pergunto, incrédulo. Aquilo ainda era novidade para mim. Estava acostumado a ser aquele quem dá as ordens, não quem as recebe.
Ace soltou um sorrisinho antes de me dar as costas, e assim, sem mais nem menos, saiu.
— Minhas — a voz rouca atrás de mim me fez semicerrar os olhos, já à espera de uma bronca, mas ela não vem. — Venha comigo até a minha cabine. Tenho novas dos seus homens.
Aquilo faz meu coração bater com a força de mil canhões. O meu estômago ainda está rugindo, e sinto que preciso de um banho antes de começar os afazeres do dia, mas Rhascourt já se apressa em caminhar até sua cabine e eu faço o mesmo, seguindo os seus passos rápidos com alguma lentidão pela dor que ainda ecoa dentro das minhas entranhas.
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ALGUM LUGAR DO OCEANO
RomanceQuando piratas selvagens e impiedosos o arrancaram de seu navio em meio a uma viagem que selaria seu destino para sempre, o príncipe não sabia que graças aquele encontro, o véu que escondia os segredos e mentiras sombrias sobre seu reino e sua linha...