Capítulo 16

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Duas noites se arrastaram como ponteiros de um relógio impiedoso, preso no tempo, desde o fatídico dia em que meus pés se afundaram na areia macia e reluzente da ilha de Belrealis

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Duas noites se arrastaram como ponteiros de um relógio impiedoso, preso no tempo, desde o fatídico dia em que meus pés se afundaram na areia macia e reluzente da ilha de Belrealis. Torpor se apoderou de mim, um véu de cansaço que me impedia de manter-me desperto por mais que algumas horas. O desjejum de apenas um gole de água e um biscoito velho caía sempre como uma âncora em meu estômago.

Eu estava fraco; muito mais fraco do que jamais estive a bordo do navio com os piratas.

O meu corpo se recusava a despertar. O sono, ou melhor, a fuga da realidade, era meu único refúgio.

Às vezes, fingia dormir, uma máscara para a angústia que me devorava por dentro. Os meus ouvidos se aguçavam para ouvir as conversas dos tiranos que me mantinham em cativeiro. Os seus sussurros carregavam os segredos e fragmentos de informações que eu tentava desesperadamente encaixar em um quebra-cabeça que não tinha solução.

O homem que me capturou era mais que um simples caçador de recompensas.

Ele e seus homens eram ladrões dos mares, piratas que cercavam ilhas como Belrealis para saquear os comerciantes dos portos. Descobri também que ele era o capitão dos outros homens. A perversidade e ferocidade em seus olhos sempre sombrios eram marcas indeléveis de uma vida dedicada ao mar e à violência.

Ouvir, absorver cada palavra e cada nuance, era a única forma lúcida de manter a sanidade que cada vez mais me escapava. Mas, gradativamente, o fingimento se transformava em realidade e o cansaço em meus ombros me arrastava para um abismo de sono.

Uma pergunta, no entanto, martelava em minha mente: qual seria a relação dele com Rhascourt? Eles se conheciam? Teriam batalhado alguma outra vez, se enfrentado em um duelo épico movidos pela ambição de um tesouro encontrado? Talvez eles fossem inimigos de longa data, antes mesmo de eu entrar na história.

Mas, para minha surpresa, aqueles piratas não eram nórdicos.

Os rebeldes nórdicos não desperdiçariam a oportunidade de ter manchado em suas mãos o sangue do filho de um reino importante como Arcatia. A lógica cruel dos rebeldes era implacável. Para eles, se a minha vida fosse ceifada na lâmina de suas espadas, a minha morte serpentearia entre os reinos como um espetáculo macabro, uma mensagem de terror enviada aos reinos que se atrevessem a desafiar sua causa.

O meu sangue seria usado como tinta para um aviso em letras escarlates: os nórdicos não toleravam fraqueza, nem piedade.

Para aqueles homens, no entanto, minha vida era nada mais que uma oferta de troca. Eu sabia que eles não hesitariam em prolongar a minha estadia no cativeiro se isso significasse mais moedas em seus bolsos.

Em todo caso, era justamente o que estavam conseguindo.

O homem de barba azul cortou uma mecha do meu cabelo com sua adaga enferrujada. Era uma prova da minha sobrevivência, e um símbolo sinistro da minha condição de prisioneiro. Ele guardou a mecha em um envelope, com o mesmo cuidado de quem preserva insetos em uma caixa de acrílico.

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