Capítulo 5

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A luminosidade da lua que banha meu rosto, cegando meus olhos fechados, causa um incômodo tão intenso que sou obrigado a piscar repetidamente para me acostumar com ela

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A luminosidade da lua que banha meu rosto, cegando meus olhos fechados, causa um incômodo tão intenso que sou obrigado a piscar repetidamente para me acostumar com ela. Eu me arrependo de ter despertado logo no instante seguinte quando percebo onde estou. Mas, onde exatamente eu estou?

O espaço é pequeno e úmido. A única luz provém de uma janela estreita, guarnecida por grades do lado de fora. Tento me levantar, as fracasso. A força da gravidade me mantém preso ao chão molhado, como se algemas invisíveis aprisionassem meus tornozelos.

Não correntes, ao menos não visíveis, mas nós firmes e apertados, amarrados em meus pulsos e pernas.

Nó de marinheiro. Só um homem do mar conseguiria fazer um nó tão firme assim.

Onde estou?

Forço-me a lembrar, mas não é uma boa ideia; não a princípio, quando as tentativas resultam em dor na parte posterior da minha cabeça. Grunho, sentindo a força da pancada mais latejante. Além dela, o corte fundo em minha testa e no meu braço latejam conforme uma nova onda de dor reverbera por todo meu corpo.

Então eu me lembro de tudo. Desde as últimas palavras de Jeordi até o estrondo cruel que me fez ter a sensação de que os meus tímpanos estavam prestes a estourar.

Onde estou?

Onde está Jeordi? Onde estão os guardas? O navio?

Contenho um gemido angustiado ao tentar desembaraçar os nós nos meus pulsos, aplicando uma leve pressão no meu pulso torcido. Inspiro forte em relento, com uma tentativa fútil de evitar que a situação em que eu me encontrava se tornasse ainda mais deplorável. Mesmo que pareça uma tarefa impossível ficar pior do que isso.

Quanto tempo estou aqui? Onde está todo mundo?

Faço uma avaliação rápida do meu estado. O casaco gruda em meu braço, o tecido pinicando na ferida aberta. O sangue está pegajoso, quase seco. Não sinto nenhuma outra dor muito intensa além da minha mão e da pancada que atingiu minha cabeça, e que me fez desmaiar. Fora isso, o corte em minha testa não parece estar tão ruim assim. A minha boca está completamente seca e com gosto de fumaça.

Quanto tempo estou aqui?

Algo distingue entre as sensações recorrentes e, dessa vez, não se parece nada com a aflição que me faz estremecer a cada vez que respiro. Sinto raiva. Uma raiva crescente que se alastra por minhas veias e me devora em carne viva. As memórias me alcançam de soslaio, algumas borradas pela névoa, mas, mais eu a sinto. Foi um ataque brutal e covarde. Estávamos em menor número. Tínhamos maior chance de perca.

A fúria cresce em meu peito como a água que inundou o convés. Quero gritar até que meus pulmões se explodam, mas não o faço. Não posso deixar que eles saibam que estou acordado. Ignoro o asco violento que faz meu estômago se revirar ao imaginar ter que estar frente-a-frente outra vez com a mulher de sorriso diabólico e serpentes em seu ser. Aquilo ainda me apavorava. Como era possível?

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