❥
Heloísa Sampaio
Saí daquela delegacia soltando fumaça pelas ventas de tanta raiva, querendo pegar o pescoço daquele abençoado e esganar com as minhas próprias mãos, porque sinto que só assim conseguiria ficar em paz novamente.
Sujeitinho maldito esse delegado novo.
Além de ter me feito desmarcar meu almoço com Alessandra, ter que dirigir até a delegacia que não era tão perto assim, ainda passaria o dia todo estudando o que tinha acontecido com meu cliente pra conseguir um habeas corpus o mais rápido possível.
E foi exatamente isso que fiz durante a tarde, focando totalmente naquele caso como se eu não tivesse outras pendências para serem resolvidas. Isso só me deixava com ainda mais raiva daquele delegadozinho sem noção, o que custava ter liberado o cara?
Se fosse minha amiga Cris no lugar, teria feito a soltura sem pensar duas vezes, só a promessa de um jantarzinho no restaurante mais chique da cidade já teria brilhando seus olhos.
Onde já se viu querer ser incorruptível nessa altura do campeonato, uma coisa tão demodê.
Voltei para a delegacia bem no finzinho da tarde, no exato horário que eu sabia que seria a troca de time só pra tumultuar ainda mais a volta pra casa daquele homem. Quando eu prometi que faria da sua vida um inferno, não era só um aviso, era realmente uma ameaça.
Quem não acreditou nas minhas palavras foi ele, portanto, azar o dele. Essa noite seu turno seria estendido por uma emergência causada por mim, que não o deixaria voltar para casa no horário combinado.
— Boa tarde, quase noite, senhor delegado. — ironizei olhando para o relógio na parede enquanto batia de leve com a mão na sua porta, já entrando como se mandasse em tudo ali.
— Boa tarde, doutora Sampaio. Em que posso ajudar?
Só pelo tom de voz eu já conseguia imaginar que o resto do dia deveria ter sido cansativo ao ponto de ele contar os segundos pra finalmente estar em casa. Ironia do destino topar com alguém que faria de tudo para que isso não acontecesse.
Sem pedir licença, entrei em sua sala e me sentei na cadeira em frente a sua. Afinal, não lhe daria o habeas corpus de bandeja. Queria irritá-lo, tirar sua paz e acabar com qualquer resto de sanidade que havia lhe restado.
— Vim até aqui obter mais informações sobre o motivo da prisão do meu cliente. — mais uma mentirinha besta que só causaria um caos generalizado quando ele descobrisse que na verdade o documento já estava pronto e ele só precisava liberar a soltura.
— Seu escritório tem acesso a todas essas informações de maneira remota, doutora. Não precisava ter vindo até aqui para perguntar.
Sabe aqueles olhares que entram até a alma da gente? Era assim que ele me olhava.
Mas não era um olhar bom, aqueles olhares que deixam as pessoas de pernas bambas querendo mais e mais. Era carregado de ódio, de raiva e até mesmo de tédio pela situação que eu havia o colocado.
E isso me divertia... Totalmente.
Cruzei as pernas lentamente sob seu olhar atento, fazendo a maior cara de bobinha que existia no meu repertório.
— Ah, sabe como é, né delegado? Às vezes eu me sinto insegura com aquele tanto de documento, com aquelas palavras formais. Precisava ouvir da boca de um profissional capacitado pra entender melhor a situação dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reverso
FanfictionComo seria se tudo fosse ao contrário? Uma história fictícia | Steloisa.