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Stênio Alencar
Parei o carro na frente do restaurante, dando as chaves para o manobrista colocar no estacionamento. Andei até o lado do passageiro, sabendo que a partir dali eu precisaria me tornar o melhor dos atores.
E pior, fazer um papel que fosse completamente diferente do delegado de polícia que estudei muito pra ser.
— Bora pra ação, bonitinho. — a advogada colocou a mão no meu rosto, fingindo um carinho.
— Espera. — a chamei, mexendo no bolso do meu blazer até achar as duas joias que guardava ali. — Coloca no seu dedo.
— Uau! Até uma aliança tu tá querendo botar no meu dedo, delegado. — sorriu com aquele sorriso de trinta dentes, pegando um dos anéis e colocando no seu anelar. — Até que tu tem bom gosto, viu.
Tive que respirar fundo e entrar no personagem, porque eu sabia que Heloísa faria o impossível pra me irritar, pra me levar ao limite. Afinal, nada com ela é fácil.
Eu já deveria ter me acostumado.
— Sem exagero, Helô. Se não eles vão sacar na hora que é tudo mentira. — murmurei no seu ouvido enquanto adentramos o restaurante.
Minha mão estava próxima a sua lombar, mas sem encostar totalmente em respeito a ela. Apesar de termos que parecer apaixonados e toda essa historinha de amor que ela inventou, eu não iria tirar proveito disso.
Mesmo que aquelas costas sem nenhum tecido implorassem pelas minhas mãos.
— Me segura que nem homem, Stênio! — sussurrou mais firme, até mesmo brava. — Tá parecendo uma mariquinha sem encostar um dedo em mim, desse jeito ninguém vai acreditar mesmo.
Em um ímpeto de estresse por ser chamado de frouxo, puxei seu corpo para mais próximo do meu pela cintura, deixando até mesmo a marca dos meus dedos na sua pele. Heloísa — que não é boba nem nada— gemeu enquanto abria um sorriso de fora a fora no rosto.
Nesse instante eu tive o entendimento de que eu estava lascado, totalmente. Aquela mulher faria questão de transformar a minha vida no próprio inferno, e talvez, eu quisesse me afundar mesmo.
— Carrrrmen, meu amor. Que saudade! — a advogada cumprimentou, abraçando a amiga e cliente com muita intimidade.
Óbvio que Helô adora se meter em encrenca, isso eu já sabia. Mas uma desse tamanho? Puta merda, viu.
— Helô, quanto tempo! Finalmente esse jantarzinho saiu, já tava achando que você iria me passar a perna.
Deixei que as duas se cumprimentassem devidamente e fiquei quieto atrás do corpo de Helô, esperando que ela me apresentasse. Era terrível não poder ter o controle da situação sendo quem eu sou, mas só por essa noite eu não era o delegado de polícia mais competente da região.
Essa noite eu era apenas o namorado de Heloísa Sampaio, a melhor advogada criminalista de todo o Rio de Janeiro.
— Carmen, esse aqui é o Stênio, meu namorado. Amorrr, essa é a Carmen, minha cliente mais fiel.
Ouvir aquele apelido carinhoso saindo dos lábios vermelhos dela me causou uma sensação que eu não saberia explicar, só sei que senti. Mas eu não podia sequer demonstrar qualquer euforia por aquilo, até porque namorados se chamam assim.
Deveria ser normal, não?
— Prazer, Carmen. Finalmente conheci a famosa cliente que Helô sempre comenta. — sorri simpático, mesmo que eu estivesse apavorado por dentro.
— Esse é o meu marido, Antônio.
Após todos os cumprimentos, nos sentamos na mesa para quatro que Heloísa havia reservado. Aliás, tinha que parar com essa mania de chamá-la de Heloísa, ou iria acabar soltando no meio dessas conversas e aí iria complicar.
Talvez eu fosse apenas um péeeessimo ator.
— Aí... Eu e o Stê queríamos muito conhecer aquele resort que você comentou, quem sabe quando esse aqui decidir me pedir em casamento, né meu bem? — ela me enfiou em uma conversa que estava tendo com a cliente, me deixando meio perdido no assunto, já que eu estava papeando com o tal Antônio sobre um jogo de futebol que ocorreu durante a semana.
— Que foi, amor? — a palavra saiu até amarga da minha boca, mas tive que fingir um sorriso amigável ao olhar em sua direção.
Ao invés de poder esganar aquele pescocinho que só me trazia problema, eu tinha que sorrir e fingir que tava tudo bem e ainda usar apelidos carinhosos. Onde é que eu fui meter o meu burro...
— A Carmen indicou um resort lindo no sul pra gente tirar uma folguinha, o lugar perfeito pra você me pedir em casamento.
Ao entender totalmente do que se tratava o assunto, senti meu coração gelar sem saber como agir. Não queria parecer um péssimo namorado que só quer enrolar a namorada, mas eu não era porcaria nenhuma dessa doida e ela só aumentava a história.
O combinado era o básico do básico, e agora ela já tá falando em casamento. É ou não é pra ter vontade de esganar aquele pescoço.
— Incrível, amor. Podemos pensar em tirar uns dias de férias por lá. — sorri meio amarelo, sem saber se tinha sido convincente o suficiente.
— Ficou todo envergonhado, tadinho. — Helô brincou, tentando aliviar o clima.
Antes que eu pudesse voltar minha atenção ao marido, que era o motivo principal de eu estar aqui nesse jantar, a maldita pegou meu rosto com a mão e depositou alguns selinhos na minha boca.
Não tive reação nenhuma a sua demonstração de afeto, fiquei paralisado igual um idiota sem saber o que fazer. Só senti um beliscão forte na coxa, me obrigando a reagir.
Olhei em sua direção e ela tinha um olhar desesperado, quase implorando para que eu fizesse algo. Optei pelo mais básico, nunca fui tão extravagante quanto ela adorava ser.
— Você sabe que eu sou tímido, né meu amor? — sorri pra ele, deixando um outro beijo em sua boca.
Tentei passar na memória se o nosso combinado de mais cedo envolvia ficar me beijando toda hora, mas cheguei a conclusão que a diaba estava se aproveitando da situação, porque sabia que eu não iria poder fazer nada.
Apesar que eu nem faria nada pra impedi-la, sendo bem sincero.
Uma mulher bonita como ela, cheirosa do jeito que estava e ainda por cima gostosa daquele tanto dentro daquele vestido curto. Eu seria um completo idiota se não me aproveitasse da sua pouca vergonha na cara, isso se já não estivesse sendo um, não usufruindo do privilégio de ser seu namorado.
Nem que fosse por uma noite.
Uma luzinha acendeu na minha cabeça nesse momento e eu entendi que podia e deveria me aproveitar, assim como ela estava fazendo.
Coloquei uma de minhas mãos no meio de sua coxa, que estava desnuda pelo vestido curto, apertando-a o máximo que conseguia e deixando as marcas dos meus dedos ali.
Helô me olhou de canto de olho com um sorriso sacana nos lábios, entendendo que ela havia marcado um ponto no nosso jogo de sedução, mas que ele ainda não tinha terminado.
Os dois estavam decididos a vencer, só restava saber quem aguentaria até o final.
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Reverso
FanfictionComo seria se tudo fosse ao contrário? Uma história fictícia | Steloisa.