capítulo XIX

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Stênio Alencar

Assistir o desespero de Heloísa ao notar meu sumiço, fez com que eu sentisse coisas que sequer entendia. De alguma forma queria garantir que estava tudo bem, que ficaria tudo bem conosco.

— Vamos... Vamos embora. — respondi ainda meio atordoado pelo beijo que ela havia me dado.

Beijo esse que entrou com facilidade nos melhores beijos que já recebi na vida, parecia coisa de doido. A mulher mais maluca que já passou pela minha vida, também era a responsável por me tirar totalmente do eixo.

Nos despedimos rapidamente do casal, alegando que Helô estava um pouco indisposta devido a uma dor de cabeça que surgiu por conta do sol forte que estava na piscina.

Saímos da casa rapidamente, enquanto eu ia até a van estacionada próxima a esquina, liberando os policiais que estavam de vigia naquele momento. Expliquei meio por cima a situação, não querendo explanar o surto de desespero que ela tinha tido.

Sequer trocamos de roupa antes de entrar no meu carro, que estava estacionado em frente a mansão. A advogada ainda usava um biquíni verde florescente com a saída de praia transparente, e eu apenas um shorts de tactel preto e chinelos no pés.

Sai com o carro, estranhando o silêncio que havia ali. Helô olhava pela janela parecendo meio pensativa, com o pensamento longe.

— Coloca o cinto, Helô. — quebrei o silêncio, sendo o mais sensato de nós dois naquele momento.

Afinal, apesar de tudo eu ainda sou um delegado de polícia que se preocupa com as leis de trânsito.

Ela permaneceu estática, só virando o rosto na minha direção com o olhar queimando algo que eu não conseguia entender. Eu era bom em decifrar algumas facetas dela, mas outras eu não conseguia nem chegar perto de uma solução cabível.

— O cinto... Você está sem cinto. — falei novamente, tentando receber algum retorno dela que não fosse aquele olhar.

Bufei irritado ao perceber que ela não iria se mexer, que não iria fazer o que eu estava lhe pedindo com toda a calma do mundo.

Estávamos em uma estrada vazia, já que a mansão do casal ficava localizada em um condomínio afastado da cidade. Sai com o carro da estrada, parando no meio fio um pouco mais estressado do que antes.

— Se você não vai colocar o cinto sozinha, deixa que eu coloco. — resmunguei estressado.

Soltei o meu próprio cinto para facilitar o processo, virando meu corpo na direção dela no intuito de prender a porcaria do corpo dela naquela porcaria de cinto antes que eu me estressasse ainda mais.

— Coloca seu banco pra trás. — foi a única coisa que saiu da sua boca, me deixando confuso sem entender o que ela estava falando. — Coloca a porcaria do seu banco pra trás, Stênio.

Ainda meio atordoado sem saber o que fazer direito, apenas puxei a alavanca que havia embaixo do banco para trás, e voltei a encostar meu corpo no assento do carro.

Não tive nem tempo de virar meu olhar em sua direção pra entender o que estava acontecendo, só senti seu corpo vindo pra cima do meu, sentando em meu colo com uma perna de cada lado de mim.

— Que isso, Helô? — perguntei meio atordoado, mas sem fazer esforço algum para mantê-la longe de mim.

Nem que eu fosse um completo maluco eu conseguiria afastar a advogada, ainda mais nessas circunstâncias.

— Quero você. —respondeu enquanto descia o rosto até estar cara a cara com o meu. — Agora!

Como delegado de polícia, esse era o momento que eu deveria ter alertado sobre o quão errado era essa situação, que estávamos em um local público — apesar de pouco habitado— e que poderíamos ser pegos com facilidade.

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