❥
Heloísa Sampaio
A recuperação de Stênio está sendo extremamente lenta, mas era de se imaginar que seria assim dado o estado de fraqueza que seu corpo ficou após vários dias em coma induzido após tomar um tiro em uma operação.
Continuei trabalhando em home office pra ajudar Creusa em algumas tarefas, já que o delegado continuava de repouso total até segunda ordem. Além da casa, ainda tinham as coisas de Cecília pra tomar conta e organizar. Então, pra não sobrecarregar ninguém, ia ficando por aqui e ajudando do jeito que dava.
Nesse momento, eu estou sentada com as costas encostadas na cabeceira da cama enquanto Stênio tira um cochilo e eu trabalho. Tinha deixado Cecília na escola e ainda não tinha dado a hora de buscá-la, então aproveitei pra tirar o atraso de algumas demandas.
Senti o homem do meu lado se remexer no colchão, resmungando enquanto acordava.
— Uh, olha só quem acordou. — brinquei, passando a mão pelos seus cabelos grisalhos bagunçados pela soneca. — Conseguiu descansar um pouco?
— Nossa... Acho que dormi demais. — sorriu preguiçoso em minha direção, com o rosto cheio de sono. — Ainda tá trabalhando?
— Infelizmente sim, não tô de folga igual o senhor, né?
Voltei a prestar atenção no que eu fazia no computador, querendo finalizar tudo o mais rápido possível antes que desse o horário de buscar a menina na escola.
Nunca agradeci tanto por existir escolas de período integral como agora, porque a rotina com Cecília em casa era muito, mas MUITO mais caótica.
Focando no meu computador, ouvi um resmungo baixo vindo de Stênio. Olhei em sua direção e notei um bico enorme se formando nos seus lábios, assim como uma feição insatisfeita.
— Que foi, ein?
Apesar de saber que era tudo manha, também não ia abusar da boa vontade de um acidentado.
— Você só quer saber de trabalhar, não tá nem me dando atenção.
Pura manha, e eu sabia. Mas também não tinha força suficiente pra resistir, não pra um homão daquele tamanho querendo atenção.
— Quem te viu, que te vê, delegado. — murmurei, levantando e colocando meu notebook fechado em cima de uma escrivaninha que havia no quarto.
Fui até a porta, fechando-a sem precisar passar a chave. Diferente de Cecília, Creusa sabia muito bem o que uma porta fechada significa. Não que eu fosse fazer algo com Stênio quase pela metade igual ele está agora, mas ela também não precisava me ver de chamego com o homem que eu tinha jurado não suportar algumas semanas atrás.
Pega mal pra qualquer advogada criminalista, sabe?
— Vou te dar um pouco de atenção, delegado. — me deitei ao seu lado na cama, virando meu corpo de frente para o seu. — Só até a hora de ir buscar a chata da sua filha na escola.
Ele riu da forma que eu chamei a menina, sem conseguir se aproximar de mim muito bem devido a posição desajeitada que está deitado.
— Vem mais perto, vem. — pediu com aquela cara de cachorro que caiu da mudança.
Aquela cara que é impossível negar qualquer coisa.
Ficamos ali, naquele mundinho só nosso por mais tempo do que o esperado. Como ele ainda está com dores pelo corpo e podendo se movimentar pouco, não podemos ultrapassar muito disso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reverso
FanfictionComo seria se tudo fosse ao contrário? Uma história fictícia | Steloisa.