capítulo XXIV

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Heloísa Sampaio

Já havia se passado algumas horas desde que tínhamos percebido o sumiço da criança, desde então não paramos sequer para comer, tomar uma água ou fazer as necessidades básicas. Eu ainda vestia a mesma roupa que tinha usado na noite anterior no parque, porque não tinha ido pra minha casa.

Nesse momento, estou sentada em um dos sofás da delegacia, esperando o promotor do caso chegar para continuarmos a resolver as questões pendentes sobre o possível sequestro de Cecília. As imagens da câmera de segurança já foram coletadas e foram enviadas para análise, logo mais receberemos mais informações sobre esses dados.

— Você precisa comer alguma coisa, Stênio. — falei pela milésima vez naquele dia, tentando convencê-lo a sair da delegacia nem que fosse por meia hora.

— Não posso, Helô. Minha filha tá perdida por aí, vai saber se tá comendo, se tá bem. — balançou a cabeça de um lado para o outro, com os olhos marejados.

Sentia meu coração se apertar com a mínima menção ao estado que Cecília poderia estar, preferia manter a ideia na minha cabeça de que estava tudo bem e que tudo isso não passaria de um susto.

Fiquei em silêncio por alguns minutos, sem saber como eu poderia ajudar o delegado naquela questão. Me sentia quase inútil em não poder fazer nada, já que a partir do momento que o caso se transforma em tráfico de crianças, deixa de ser da minha alçada.

— O que seria da vida de vocês se não fosse a Guidinha aqui, ein? — ouvi a voz da minha melhor amiga quebrar aquele maldito silêncio, e senti todo o meu corpo relaxar automaticamente.

Como eu era sortuda por tê-la comigo.

Olhei para o lado e encontrei a advogada segurando uma mochila e uma sacola de um restaurante aqui perto, com uma cara de salvadora da pátria.

— Trouxe uma troca de roupas pra você, itens para higiene pessoal... Aliás, aqui tem banheiro pra você tomar banho, né? — perguntou curiosa, desatando a falar tudo de uma vez. — Passei no restaurante ali na esquina e peguei uma marmita pra cada um de vocês, senão já já cai os dois duros no chão de barriga vazia.

Stênio e eu nos olhamos por um tempo, com um sorriso leve nascendo nos lábios. Pelo menos não teríamos que sair daqui tão cedo, e ficar longe de novas notícias sobre Cecília.

— Obrigada, amiga. — me levantei, aproximando-me dela. — Já tentei de tudo pra fazer ele comer, mas ele não quer sair daqui. — suspirei nervosa. — Não vejo a hora de tomar um banho e trocar essa roupa de ontem.

— Graças à Guidinha aqui, agora você pode. — sorriu pra mim, passando a mão em meus braços em um carinho singelo. — Nem imagino pelo o que vocês estão passando, mas podem contar comigo se precisarem de alguma ajuda, tá?

A abracei tão forte que nem eu mesma conseguia me reconhecer, só queria um pouco de afeto para espantar o medo que insistia em invadir meu corpo. A cada hora que passamos longe da pequena, sinto como se tudo fosse ficando ainda pior.

Obrigada! — sussurrei dentro do seu abraço, sentindo minha voz embargar.

Pela primeira vez eu me sentia tão frágil que poderia me desmanchar ali mesmo, a qualquer momento.

— Eu tenho uma audiência agora, então eu preciso ir. Promete pra mim que vai se cuidar? E cuidar dele também? — balancei a cabeça em afirmativa, me sentindo um pouco mais calma depois do seu acolhimento. — Amo você, vai me mantendo avisada sobre tudo.

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