capítulo XXXI

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Stênio Alencar

Os dias seguintes à volta de Cecília ainda foram reflexo de todo o caos daquela invasão, principalmente na delegacia. Percebendo que minha família era alvo daqueles criminosos, tivemos que organizar um time para fazer a vigia praticamente vinte e quatro horas por dia.

Para facilitar o processo e diminuir a quantidade de pessoas envolvidas, pedi que Helô ficasse no meu apartamento durante esses dias, até que a investigação tivesse algum avanço e nos ajudasse a prender esses criminosos. No início, a advogada pareceu não curtir muito a ideia, ou fez uma boa cena fingindo não querer.

Mas agora suas coisas já se misturavam com as minhas no meu guarda-roupas, e eu não ousaria reclamar disso.

— Papai, mas por que eu não posso ir na escolinha? Eu gosto da minha prof, gosto dos meus amiguinhos. — pela milésima vez naquela semana, a criança insistia no mesmo assunto.

E eu explicava tudo de novo como se fosse a primeira vez.

— Papai já te explicou que não dá pra ir pra escola por enquanto por causa do caso que eu tô resolvendo na delegacia, filha. — me abaixei na sua altura, com toda a calma do mundo. — Quando tudo se resolver, a gente vai poder voltar a sair de casa e aí você volta para a escolinha.

Cecília permaneceu emburrada, com os bracinhos cruzados na frente do corpo. Aquele assunto, apesar de saber do quão irritada ela estava com a prisão dentro de casa, era indiscutível pra mim.

Até mesmo obriguei Heloísa a trabalhar de dentro do apartamento até a investigação terminar, porque não queria arriscar ter mais problemas. Uma já tinha sido sequestrada por dias, nossa sorte foi os criminosos serem tão incompetentes que não conseguiram fazer nenhum mal a ela.

— Ceci, vem aqui com a tia um pouco. — Helô a chamou, colocando o notebook na mesinha de centro da sala.

A criança foi correndo até ela, sendo levantada pelos braços para se sentar no seu colo.

— O que você acha de a gente fazer uns desenhos bem maneiros enquanto você não vai pra escolinha? Posso te ajudar a fazer os deveres que sua professora está mandando... Que tal?

Confesso que já fazia alguns dias que eu tinha me dado conta de como a minha relação com a advogada tinha mudado. Mas vê-la tendo esse tipo de interação com a minha filha me faz ter a certeza de que ela realmente faz meu coração bater mais forte, de um jeito que eu nunca tinha experimentado antes.

Me sentia mais tranquilo em sair para o trabalho sabendo que além de Creusa, haveria outra pessoa que cuidaria tão bem da minha menina quanto se eu estivesse aqui.

Isso nada pagava.

— Você pode me ajudar com a atividade de desenhar que ela passou? Não consegui fazer. — a loirinha respondeu, mexendo nos fios castanhos da advogada.

— Ajudo.

Percebendo que eu estava sobrando naquele ambiente, entendi que era hora de ir para a delegacia, para tentar solucionar esse caso o mais rápido possível. Pelo menos agora que eu tinha minha filha aqui, conseguiria focar totalmente no que mais importa.

— Bom, tô indo trabalhar então. Se vocês três precisarem de alguma coisa é só ligar na delegacia que eu venho correndo pra cá, mas também tem o Gustavo que tá de vigia na porta. — expliquei mais uma vez, caminhando em direção às duas.

Dei um beijo na cabeça de Cecília, aproveitando para sentir aquele cheirinho delicioso que só o seu shampoo de bebê tem. Olhei para Helô que me olhava no fundo dos olhos, sem saber muito bem o que fazer, já que estamos na frente da pequena.

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