Reverso

capítulo XX

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Heloísa Sampaio

Naquele dia, cheguei em casa me sentindo uma Heloísa que eu sequer conhecia. Me achando uma completa estranha dentro da minha própria casa, dentro do lugar que sempre foi o meu refúgio.

Resolvi mandar mensagem pra única pessoa que poderia me tirar desse limbo:

"Amiga, pode vir aqui em casa? Tomar um vinho e jogar conversa fora... Tô precisando."

Guida me conhece como a palma da sua mão, o suficiente pra me dar os melhores conselhos e me fazer acordar pra vida quando necessário. Sempre que eu me sinto perdida, sem saber que caminho seguir, corro atrás dela pra me ajudar a voltar pro lugar.

A diferença é que dessa vez a minha confusão tinha nome, sobrenome, endereço e adorava acabar com o pouco de paz que eu ainda tenho. É ou não é o maior karma da vida?

Custo a acreditar que logo eu, que sempre fui muito cuidadosa com tudo na minha vida, me deixei levar pela boa lábia daquele delegado. Mas agora é tarde demais pra ficar se lamentando, ainda mais quando estamos inseridos em uma investigação tão perigosa.

Resolvi aliviar um pouco minha cabeça até minha melhor amiga chegar, tomando um bom banho de banheira pra tirar o cheiro daquele homem do meu corpo. Ao mesmo tempo que queria seu cheiro longe, queria tê-lo por todo canto.

É duro a vida de uma mulher confusa.

Coloquei uma música ambiente apenas pra conseguir relaxar, pra tentar descansar minha mente de todo esse caos que eu tinha me metido. Mas quanto mais eu tentava, mais a minha mente me traía e me levava às lembranças dos momentos com Stênio.

O jeito que ele me olha quando estamos sozinhos, a sua voz rouca sussurrando obscenidades em meu ouvido, seu corpo colado ao meu, nossa conexão que é tão forte. Tudo é tão claro na minha mente que chega a ser piada.

— Homem desgraçado. — sussurro comigo mesma, me odiando por me deixar permitir sentir tudo isso.

Quando o conheci e comecei as provocações, minha intenção era a de que ficasse apenas nas provocações ou no máximo um sexo rápido pra apagar o meu fogo. Nunca passou pela minha cabeça que ele conseguiria mexer comigo dessa forma tão humilhante.

Uma mulher como eu, sofrendo por antecedência por não saber o que fazer em relação a um homem. É muita humilhação!

Eu precisava dar um fim nessa história, e logo.

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Após meu banho relaxante, coloquei apenas uma lingerie confortável e um dos meus roupões que uso em casa. Guida já estava cansada de me ver assim, até mesmo em situações piores. Então, nem me preocupei em me arrumar.

— Boa noite, Helôzita! — me cumprimentou com um beijo na bochecha e um abraço apertado. — Pra ter me chamado de última hora é porque deu alguma merda, né?

Dei risada, chegando a conclusão que não existe companhia melhor para aquela noite de loucuras.

— Oi, Guida. — respondi ainda rindo. — Entra logo que a nossa noite vai ser longa.

Dei espaço para que ela adentrasse o apartamento, enquanto eu ia até a cozinha pegar as taças que havia deixado separado e o seu vinho favorito para iniciarmos a noite de desabafos.

— Pode começar a falar, que eu sou toda ouvidos. — sentei no sofá, estendendo em sua direção a sua taça já com o líquido bordô.

Relaxei no estofado, tentando buscar na minha mente o exato lugar para começar aquela conversa. Afinal, nem eu mesma sabia o que estava acontecendo, sequer conseguia entender meus próprios sentimentos.