capítulo XXXIX

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Heloísa Sampaio

A minha manhã de volta ao escritório tinha sido mais tranquila do que eu imaginava que seria, com poucas buchas a serem resolvidas e pouquíssimas reuniões. Minha sócia tinha dado conta de alguns casos urgentes enquanto estive fora, mas a maior parte foi adiada até que eu voltasse.

Agora, voltando do almoço com Guida no meu encalço insistindo em saber coisas que não eram problema dela, eu começava a repensar minha volta ao trabalho.

Talvez fosse bom trabalhar de casa.

— Vai assumir quando que tá apaixonada pelo delegado? — zombou, rindo da minha cara bem na minha frente.

— Como tu é insuportável, Guida. — resmunguei, segurando a risada que insistia em sair. — Tu não tá cheia de trabalho? Por que tá aqui enchendo meu saco?

— Olha a grosseria, viu? — deu um tapa em meu braço, enquanto entramos juntas pela porta de entrada do escritório. — Só assume!

— Você já sabe a resposta, Guida. — bati continência, andando em direção à minha sala.

— Lisa que nem quiabo, né desgraçada? — ouvi seu grito, mas ignorei, entrando na minha sala dando risada.

Naquela manhã, tinha ajudado Creusa no processo de arrumar Cecília para a escola, já que ela tinha dormido comigo de novo. Deixei ela no colégio, prometendo que a buscaria no fim da tarde.

Ainda não tinha combinado nada sobre ela visitar o pai, porque ainda tinha receio de como seria pra ela vê-lo daquela forma. Preferia esperar mais um pouco até que ele melhorasse, do que traumatizar a criança.

Ouço meu telefone tocar e o número do hospital piscar na tela. No mesmo instante meu coração começou a bater mais rápido e minhas mãos ficaram trêmulas por não saber o que aquela ligação significava.

Desde que ele tinha sido internado, nunca tinham me ligado pra nada. Então já imaginava que ou a notícia seria muito boa, ou as coisas tinham ficado difíceis.

— Alô? — minha voz estava até mesmo um pouco trêmula pelo nervosismo.

"Boa tarde, aqui é do Hospital Nossa Senhora da Saúde. Com quem eu falo?"

Apesar da voz ser extremamente gentil e atenciosa, nada nesse mundo seria capaz de acalmar os batimentos do meu coração ou a minha respiração acelerada.

— Heloísa Sampaio. — informei, querendo acabar logo com aquela agonia. — Meu marido está internado nesse hospital... Aconteceu alguma coisa?

Ao mesmo tempo que eu queria acabar com a tortura, também tinha medo do que viria a seguir. Era uma dualidade absurda.

"Precisamos que você compareça com urgência até o hospital para te atualizarmos sobre o estado de saúde do seu esposo. Você tem disponibilidade para hoje a tarde? O médico responsável pelo caso dele quer conversar com a senhora."

Terminei a ligação o mais rápido possível, já avisando Olívia para cancelar todas as reuniões e compromissos que eu teria no período da tarde, saindo em disparada até o hospital.

Odiava o fato de que não poderiam me avisar por telefone sobre o que tinha acontecido, principalmente quando eu fui o caminho todo pensando em todas as besteiras possíveis.

Estacionei o carro de qualquer jeito, sem me preocupar se receberia alguma multa pela falta de habilidade e entrei desesperada para dentro do hospital.

— Heloísa Sampaio, me ligaram agora a pouco pedindo para eu comparecer no hospital para saber sobre o estado de saúde do meu marido. — expliquei brevemente para a secretária, que já deveria estar enjoada da minha cara.

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