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Stênio Alencar
Acordar com Helô agarrada em mim e demonstrando nem que fosse um pouco de carinho, me deixou ainda mais confuso com meus próprios sentimentos. Eu sabia que estava sentindo algo por ela, mas não conseguia separar entre orgulho, pela mulher íntegra que ela andava se mostrando ser, ou algo além disso.
O que eu sei é que todas essas confusões deram espaço ao maior desespero que já senti em toda a minha vida quando entrei no quarto da minha única filha, e ela não estava lá.
Minha primeira reação foi correr até o quarto de Creusa pra ver se ela já havia chego, até porque ela poderia ter saído com a menina antes de nós dois acordarmos. Mas não havia nenhum sinal dela pela casa, nem mesmo a mochila com roupas que tinha levado para a casa da tal amiga.
— Ela não tá com a Creusa? — foi a primeira coisa que a advogada pensou, mal sabia ela que eu já tinha procurado pela casa.
— Não, não tá. — falei grosso, mas era tudo culpa do desespero crescente. — Meu Deus... Não é possível que isso esteja acontecendo, não é possível.
Comecei a andar de um lado para o outro do quarto, com as mãos na cabeça puxando os fios dos meu cabelo tentando pensar em alguma coisa.
— Ei, olha pra mim. — Helô parou na minha frente, me segurando pelos ombros e me obrigando a olhá-la pela primeira vez. — Eu vou ligar pra Creusa pra confirmar que ela não está com a menina, depois eu vou ligar na portaria e tentar entender o que pode ter acontecido. Senta aí na cama e tenta se acalmar, ficar desesperado assim não vai ajudar a gente a encontrar ela.
Sua voz também continha um certo desespero, um certo medo. Mas ela tentava ser forte pra não me desestabilizar ainda mais, afinal, nós precisamos que um dos dois esteja são para lidar com essa situação.
Sentei na cama que antes ocupava em conjunto com a advogada, iniciando um dia que tinha tudo pra ser bom, mas tinha virado um caos completo. Nunca tinha passado pela minha cabeça que poderíamos não estar seguros dentro da minha própria casa, dentro do próprio quarto de Cecília.
Não queria me precipitar, imaginar as coisas antes de Helô voltar depois dos telefonemas, mas meu coração de pai parecia já saber que as coisas não estavam certas. Que Cecília estaria correndo perigo nas mãos de pessoas perigosas.
Perdi as contas de quanto tempo fiquei ali sentado, esperando uma luz divina que pudesse acalmar meu coração e tirar aquela angústia.
— Coloca uma roupa e vamos pra delegacia.
Heloísa entrou como um furacão dentro do quarto, indo em direção às suas próprias roupas e vestindo-as com pressa. Percebia que sua calmaria de antes já não existia mais, suas mãos um pouco trêmulas e sua voz embargada.
Me desesperei ainda mais, correndo em sua direção, virando seu corpo para mim.
— O que tá acontecendo? Onde tá a minha filha? — olhando no fundo dos olhos marejados da advogada eu já tinha a resposta que eu precisava.
— A Creusa não veio pra casa mesmo e o porteiro disse que mais cedo viu a Cecília saindo do prédio com um rapaz que ele nunca viu, mas deixou eles saírem porque ele disse que era seu primo. — explicou brevemente, e eu senti o meu mundo desabar. — Sinto muito, Stênio.
Me deixei sentir aquele momento, chorar o que tinha pra chorar, desabando nos braços da advogada procurando um pouco de acalento. Chorei como nunca havia feito em toda a minha vida, meu peito doía de uma forma que eu nem consigo descrever.
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Reverso
FanfictionComo seria se tudo fosse ao contrário? Uma história fictícia | Steloisa.