capítulo XXXVIII

1K 107 74
                                    



Heloísa Sampaio

Sem maiores problemas acabei dormindo com os braços pequenos de Cecília me segurando como se eu fosse fugir a qualquer momento, e talvez essa tenha sido uma das melhores noites que eu já tive.

A cada dia eu sentia como nossa relação ia se moldando através das nossas atitudes, dos afetos singelos, das palavras de cuidado e até mesmo dos diversos abraços que dávamos vez ou outra. No início, eu realmente acreditava que ela seria uma pedra no meu sapato.

Mas agora tudo mudou, porque eu realmente percebi que me importo com aquela criança mais do que deveria, mais do que um dia eu imaginei que pudesse ser possível.

E eu esperava que em breve Stênio pudesse estar em casa novamente, pra assistir essa relação nascendo nas coisas mais simples.

— Loirinha! — comecei a chamá-la, com a voz leve e calma. — Tá na hora de acordar, meu amor.

Ela estava deitada na conchinha menor, toda encolhida perto do meu corpo. Depois de muito choro, abraços e declarações veladas, acabamos dormindo juntas, dividindo sua cama minúscula.

— Só mais um pouquinho, tia. — resmungou, toda dengosinha.

Sua voz demonstrava todo sono que ela tinha naquele pequeno corpinho, ainda mais depois da noite conturbada que tivemos.

— Sua vó deve estar preparando aquele pão de queijo que você ama comer de manhã, uhh? — enfiei meu rosto no seu pescoço, fazendo cosquinhas com meu nariz. — Junto com aquele suco de goiaba que você adooooora.

A criança virou o rosto na minha direção correndo, animada com a proposta irrecusável que eu havia lhe feito.

— Pão de queijo quentinho e suco de goiaba, tia? — abriu um sorrisinho fofo, ficando mais felizinha.

Senti meu coração se aquietar um pouco em vê-la melhor do que ontem, quando estava toda amuadinha e triste pelos cantos. As coisas ainda não tinham se ajeitado, mas já era o começo de algo.

Fomos juntas até a cozinha, depois de fazermos nossa higiene pessoal, encontrando Creusa nos esperando do jeitinho que eu imaginava, com tudo que a pequena mais gostava pra esquecer o fato de que o pai não estava ali.

— Muitos pães de queijo e sucos de goiaba pra loirinha mais linda do mundo. — Creusa brincou, se abaixando na direção da pequena e a pegando no colo.

No fim, as coisas iam se ajeitando aos poucos.

No final da tarde, resolvi voltar ao hospital para tentar conseguir alguma notícia sobre o estado de saúde de Stênio. Prometi para as duas que iria tentar descobrir se elas poderiam visitá-lo no dia seguinte, já que estavam ansiosas para matar a saudade dele.

No fundo, eu não queria deixar que elas o vissem dessa forma, totalmente machucado e apagado naquela cama de hospital. Mas sabia que era melhor do que não ver, do que não saber que ele ainda está aqui de alguma forma.

— Boa tarde. — cumprimentei a secretária do hospital, simpática. — Sou mulher do Stênio Alencar, um dos pacientes que está internado aqui, estou em busca de notícias do estado de saúde dele... Também queria aproveitar pra visitá-lo.

Me sentia ansiosa para saber se seu quadro de saúde tinha sofrido alguma alteração desde o dia anterior, se ele tinha começado a responder aos medicamentos e se havia alguma previsão de uma possível alta.

ReversoOnde histórias criam vida. Descubra agora