capítulo XXXXII

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Stênio Alencar

Não sei dizer quanto tempo fiquei paralisado dentro do olhar de Heloísa, custando a acreditar que tinha saído da sua boca o que eu pensava ter escutado. Eu só podia ter enlouquecido.

— Que? — perguntei meio atordoado.

— Casa comigo, Stênio. Eu estou te pedindo em casamento. — repetiu, sem tirar o sorriso do rosto.

Aquela mulher já era um monumento ao normal, no comum. Mas quando ela sorri da forma que ela está sorrindo pra mim, é como se ela pudesse comandar o mundo todo com as próprias mãos, de tão poderosa que ela fica.

Talvez essa constatação seja apenas um relato de um homem apaixonado, nunca saberemos.

— Não. — respondi de imediato, com uma cara confusa no rosto. — Não, Heloísa.

Levantei meu corpo da poltrona, trazendo-a junto comigo ainda meio perdida, sem entender o que estava acontecendo.

Eu só sabia balançar a cabeça de um lado para o outro, totalmente indignado. Não é possível que ela tenha feito isso comigo dessa forma, acabando com tudo que eu vinha planejando há dias.

— Como assim "não"? — a advogada estava tão indignada que até mesmo sua postura estava rígida, rindo de nervoso enquanto olhava pra mim.

Andava de um lado para o outro naquele pequeno espaço da sacada do apartamento, as mãos chacoalhando na frente do corpo em agonia.

— Não! — virei em sua direção, apontando o dedo na sua cara sem a menor delicadeza. — Você não vai me pedir em casamento agora, Helô. Não vai!

— Stênio, você endoidou? Tu tá em crise? — exasperou, começando a se irritar com a minha atitude.

Não tirava sua razão, mas também não conseguia aceitar que ela estava fazendo isso comigo, depois de tudo que eu vinha preparando.

Desde que eu voltei do hospital e percebi as mudanças que aconteceram nessa casa enquanto estive longe, eu não consigo parar de pensar na minha relação com Helô.

Claro que nós somos diferentes e obviamente haverão momentos de conflitos, mas isso não anula todas as qualidades que nós temos juntos. A forma como ela se encaixou tão bem na minha vida, na minha família. Sua relação de carinho com Creusa, seu afeto pela minha filha.

Tudo isso culminou na minha decisão de pedi-la em casamento o mais rápido possível, do jeitinho que ela merece, pra que seja inesquecível.

Pra aí em um dia qualquer ela se achar no direito de estragar toda a surpresa que eu estava começando a preparar, me deixando estressado de raiva. Essa diaba tinha que até mesmo estragar a porcaria da surpresa que eu faria pra ela mesmo.

— Tô! Tô em surto! — peguei seu pulso, puxando-a para o lado de dentro do apartamento, em direção ao nosso quarto. — Você não consegue, né? Você tem que sempre ter o controle de tudo mesmo.

O caminho até o quarto foi repleto de resmungos irritados da minha parte e murmúrios estressados da parte dela, querendo que eu a soltasse.

— O que você pensa que tá fazendo, Stênio? — ralhou com a voz brava. — Tu já negou casar comigo, agora quer ficar me arrastando que nem um saco de batata de um lado para o outro dessa casa como se eu...

Deixei ela falando sozinha, ignorando completamente o seu lapso de surto. Fui até a minha parte do armário, mexendo bem no fundo das minhas roupas em um lugar que ela jamais encontraria, retirando uma caixinha de veludo vermelha.

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