Coronel 🍾
Soltei a fumaça e encarei os papéis na minha mesa. O foda de ser o dono é que tu que tem que resolver tudo, não tem outro. Tinha que ter o sub, mas não confio em ninguém nesse lugar, só em mim mermo.
Nego deixa o pouco dinheiro que tem subir a cabeça e quer sempre chegar no topo trapaceando. A vida cobra e não deixa. Vi muito neguin tentando tomar meu lugar, até meu sub tentou e eu mandei ele pro inferno, traidor aqui não tem.
Sou justo com geral e se vier com bagunça pra cima de mim o bagulho fica doido. Pago certo e não erro. Tenho até uns que eu finjo confiar, porque os moleque são bons, mas tenho que ficar atento, que se pá são só mais um.
Vi que tinha muita gente pra cobrar. Droga, aluguel, luz e uma porrada de bagulho a mais. Água eu disponibilizava, só pra não sobrecarregar os morador, já que a água é o que mais vem caro. Usa pra caralho, inclusive eu, três a quatro banho no dia.
R10:Aí chefe, pode liberar a droga pra vender? -Perguntou abrindo a porta da minha sala, ninguém mais bate nesse carai, educação foi pro lixo.
Coronel:Pode. -Respondi rápido e o mano fechou a porta saindo. Ele é um dos único e pá que posso chegar a confiar, mas ele tem que conquistar primeiro.
O cara faz o dele, não pisa em ninguém e só segue ordens. Sei que tudo que ele faz é pra ajudar em casa, a mãe doente e também tem a irmã deficiente. A mãe dele não queria nada do crime, mas era isso ou todos os três morria de fome.
Papo que eu como dono, tento ajudar geral e tem até a ONG. Mas nem sempre dá certo e os cara que tem poder nem sempre ajuda, a maioria só liga pra si mesmo.
Mas antes procuro sempre saber da conduta de cada um e vê se tá no meu alcance, se tiver, tô lá. Perdi minha mãe novin, tinha onze anos e ela tinha saído pra trampar, mas antes de sair do morro, polícia tava fazendo um esquema na favela e matou ela. Saiu nos jornal e tudo , mas os cu azul alegaram que confundiram ela e geral deixou passar,.por eles serem quem são e ela ser a preta favelada.
Não engoli essa até hoje e sei que muitas pessoas também não. Tinha meu pai, que era vapor, depois que descobriu quem matou minha coroa, falou com o chefe da época. Organizaram um bagulho pra entrar no quartel e matar.
Mas os polícia tava ligeiro, mataram meu pai um ano depois da minha mãe e aí fiquei sem ninguém. Antes de morrer ele já pediu pro chefe me criar, o cara não tinha filho e nem mulher, e como eu já tinha doze anos, ele aceitou. Mas seis anos depois morreu também e eu fiquei.
Dezoito anos e um morro nas costas. Se pá que quando eu tinha quinze, já entrei pro crime e abandonei a escola, só pra ajudar o chefe e pra ele saber que eu tava ali. Ele foi me subindo de cargo, virei sub quando o dele morreu e quando ele partiu numa invasão do bope, ficou pra mim.
Faz uma cota que eu tô no comando, geral duvidava no início e falava que isso aqui iria virar a pior favela do Rio. Com terror e tudo. Mas deu nada, tinha aprendido com o melhor e então no mermo ano já tinha conseguido milhões com o tráfico.
Comecei a investir mais, mas descobriram e eu cai com vinte, não tinham provas e minha ficha era limpa, sai na boa. Desde então não cai mais, mas se eu cair, agora o bagulho fica feio. Minha ficha tá extensa.
Muitos dizem que o crime não compensa. E eu acho que essa frase é verdadeira, porque tu só sai daqui morto. Então não compensa mermo, de boa que tu ganha muito dinheiro e pá, mas tu já tem ideia que é morte na certa. Seja a pedido do comando, morte pro bope, pra morro inimigo ou até a morte natural.
Tu não sai ileso dessa nem com reza braba. Eu nunca quis sair, mermo sabendo de tudo, nunca quis. Uso o dinheiro pra ajudar, mermo que seja do dinheiro sujo, ajudando é o que importa. Quem sabe Deus não limpa os quase trinta homicídios da minha conta, né não?
