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Thais 🎀

Cheguei em casa as duas da manhã e o Rodrigo dormiu comigo. Acordei seis da manhã e abri a janela vendo o céu todo cinza, armando chuva. Senti uma pontada no coração e me sentei na minha cama.

Peguei o meu celular antes de tudo e vi quinze ligações da minha mãe. Apertei meu pulso nervosa e liguei de volta. Ela não atendeu, minha preocupação aumentou e eu liguei de novo. Chamou e chamou, mas ela não atendeu.

Me deu um nó na garganta e eu senti o choro vindo. Engoli seco, apertei pra ligar de novo e coloquei no viva voz estralando os dedos da mão. Senti a mão do Rodrigo no meu ombro e as lágrimas desceram.

Danda:Alô? –Atendeu com a voz embargada e eu puxei o celular.

Thais:Mãe. O que aconteceu, mãe? –Perguntei chorando e os braços do Rodrigo envolveram o meu corpo, me fazendo chorar cada vez mais.

Danda:A sua tia morreu essa madrugada, Thais. –Falou e eu pude ouvir ela soluçar, tentando controlar o choro.

Meu celular caiu da minha mão, mas o Rodrigo pegou e eu chorei que nem uma criança. Cresci com ela, sempre estava na casa dela brincando com a Letícia e do nada eu cresço e a perco? Ouvi um trovão e meu corpo tremeu.

Coronel:Vem cá. –Me colocou em seu colo e eu afundei meu rosto no pescoço dele. –Danda? Eu sinto muito memo, vou acalmar ela e levo tua filha pra tu. Tá aonde?

Danda:Obrigada, filho! Obrigada mesmo! Estou na casa dela, resolvi todo o enterro, achei melhor não ter velório e vai acontecer daqui duas horas.

Coronel:Jaé. –Desligou o telefone dando tchau pra ela e eu chorei em silêncio.

Eu nunca entendi o porquê do câncer existir. O porquê essa doença tira a vida de tanta gente? Tanta criança. Tanto adulto. Tanto idoso. Porquê? Você não sabe a dor do luto até perder alguém que você ama!

Thais:Eu amava tanto ela, ela fazia o melhor bolo de chocolate... –Falei ainda chorando e ele apertou ainda mais o meu corpo. –Ela era tão nova...

Coronel:Eu tô aqui contigo po. Nem vou te dizer que vai ficar tudo bem, você sabe que vai, mas não é o que tu quer ouvir. –Agarrei ele em um abraço mais forte e ele me levantou. –Vou te dar um banho.

Ele me levou pro banheiro, tirou o meu pijama e me deu um banho. Coloquei uma roupa preta, peguei meu celular e fomos pro carro. Rodrigo colocou a mão na minha coxa e saiu com o carro. Ele parou e frente a casa da minha tia, e me encarou.

Coronel:Qualquer coisa me liga, jaé? Vou buscar o rei no hotel lá. –Assenti, ele me deu um beijo na bochecha e eu sai do carro entrando na casa.

Minha mãe assim que me viu me abraçou. Ela estava chorando muito, não é fácil perder uma irmã, uma pessoa que você é unha e carne, desde sempre. Ouvi os soluços dela e chorei junto, ela estava desesperada.

•••

Danda 🌻

A dor de perder um irmão é inexplicável. Você vive a infância inteira com a pessoa, cresce, formam suas famílias e mesmo assim não se separam. Vivia na casa da Lúcia, nunca saia daqui. Sempre estava em ligação com ela.

Quando ela descobriu o câncer, foi pra mim que contou. Lutei junto dela. Aumentava a autoestima dela e amava cuidar dela, me fazer presente. Fiz e faria de novo, porque sei que ela faria por mim também e não me arrependo.

flashback on

Danda:Não, Lúcia. Por favor!

Lúcia:Com medo, Danda? Vai ser rapidinho. –Ri dela e a garota roubou a bola dos meninos da rua, correndo que nem doida.

Maria Isaura:Lúcia, Danda e Ricardo. Pra dentro. –Chamou por mim e pelos meus irmãos. Lúcia não quis largar a bola mesmo assim.

Os meninos implicaram com a gente e ela decidiu roubar a bola, ainda mais porque o Ricardo, nosso irmão, não nos protegeu.

Ricardo:Manda a Lúcia devolver a bola, mãe.

Maria Isaura:Lúcia, devolve!

Danda:Mãe, eles implicaram com a gente e o Ricardo não fez nada! –Me aproximei dela vendo a Lúcia jogar a bola no final da rua e a minha mãe pegar ela e o Ricaro pela orelha me fazendo rir.

Maria Isaura:Você será a próxima! –Me ameaçou e eu fiquei calada.

flashback off

Ricardo morreu três anos depois disso, ele tinha dezesseis anos e foi atropelado voltando da escola, a minha mãe sofreu muito e eu e a Lúcia então? Ficamos arrasadas, as vezes ele era chato, mas nos protegia de muita coisa e nos amava como ninguém.

Agora só me restou eu. Sem o Ricardo, sem a mãe e sem a Lúcia. Apenas a Danda. Eu rezei muito pra Lúcia se curar, mas não queria que ela sofresse mais, ainda mais por não andar e custar formular uma frase.

Um irmão deve ser valorizado e amado. Brigamos muito com os nossos irmãos e no fundo amamos eles como nunca. Eu daria a minha vida pela Lúcia e pelo Ricardo. Dói e vai doer muito ter perdido ela. Os dois são as minhas metades.

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