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Thais 🎀
Estava no ônibus, com a Valéria, indo pra casa. Chamei ela passar o fim de semana lá, porque minha mãe foi pro hospital com a minha tia, mais uma vez. Ela realmente não tá bem, o câncer só tem avançado e a Letícia não faz nada pela mãe, isso que fode.
Valéria:O R10 é incrível, sabia? Me leva pra jantar todo domingo e de quebra leva a minha mãe. –Sorri vendo ela falar do quase namorado dela. –Depois de amanhã vamos almoçar num restaurante no Leblon.
Thais:Daqui a pouco vocês pulam pro primeiro filho e de quebra pro casamento. –Ela riu fazendo o sinal da cruz e eu puxei o sinal, vendo que estava perto do nosso ponto.
Descemos do ônibus falando sobre o que iríamos fazer hoje e sábado. Vimos o R10 na barreira, com um fuzil atravessado no peito e ela já foi toda sorridente pro rumo dele, que já abriu os braços passando a arma pra trás. Os dois se abraçaram e deram um selinho.
Valéria:Tá de plantão?
R10:Peguei esse pra conseguir sair com tu e com a sogrinha no domingo. –Ela abriu um sorriso e deixou um beijo na bochecha dele. –Vai querer a boa hoje, Tata?
Thais:Vou, dá dois, deixar guardado lá em casa. –Puxei vinte reais da capinha do meu celular e ele me arrumou dois baseado já bolado. Ele vende até barato pra mim, mas tira um pouquinho do dele, só pras contas não saírem erradas. –Valeu.
R10:Tchau minha gata gostosa. –Se despediu da Valéria e eu fiz cara de nojo pros dois. Ambos riram de mim e eu segurei a mão da Val, levando ela lá pra casa.
Andamos uns vinte minutos, já que essa ladeira me deixa cada vez mais lerda. Chegamos em casa graças à Deus. Ela foi logo tomar banho, e eu separei algumas coisas pra fazer um brigadeiro. Abri o armário vendo alguns sacos de doritos e de cheetos. Coloquei tudo numa tigela, deixei em cima da mesa junto de uma coca cola.
Valéria:Vai tomar banho que eu coloco os colchões lá na sala, pra gente ver filmes. –Assenti, passei no meu quarto pegando minha toalha e fui pro banheiro direto.
Tomei um banho gostosinho, namoral. Sai até renovada. Coloquei meu pijama depois de passar uns hidratantes e fui pra cozinha vendo a Valéria fazer o brigadeiro. A gente se deitou num colchão na sala e ligamos a tv colocando na netflix dela, porque eu não tenho.
Valéria dormiu em sei lá, meia hora de filme, quando já tínhamos comido tudo. Desliguei a tv, fui no meu quarto, peguei os dois baseado que eu comprei hoje, meu bic e sai lá pra fora, sentando na escadinha de casa.
Tava escuro e num silêncio fudido de fora, mas era daora. Soprei a fumaça pro ar, voltei o baseado pra boca e puxei meu celular, vendo uma mensagem do Coronel. Fiquei de boa com ele só porque me deu carona e porque chegou aos meus ouvidos que a Karla agora se engraçou no Peixe, dono da Maré.
"Coronel:Tá suave? Queria te ver."
Ri, respondi que sim e que estava na escadinha de casa, fumando. Ele falou que chegava em cinco, mas eu nem convidei. Soprei a fumaça novamente, vi o farol da moto invadir o beco e ele parar ela em seguida do meu lado.
Coronel:Eai. –Abri um sorriso e ele sentou do meu lado. Tava meio frio, e só ele estava de moletom, fiquei olhando, com a maior preguiça de ir buscar o meu. –Quer?
Thais:Aceito. –Ele tirou, eu entreguei o cigarro vendo ele colocar na boca e passei o moletom pela minha cabeça.
Vi ele jogar a pontinha fora e encostei minha cabeça no ombro dele. O cheiro de malbec invadiu minhas narinas me fazer fechar meus olhos e respirar fundo, sentindo a fragrância. Ficamos em silêncio por bastante tempo, nem sei o porquê, mas pra mim tava tranquilo.
Coronel:Natal é semana que vem, né? –Assenti balançando a cabeça. –Eu... hum... é...
Thais:Que foi? –Levantei minha cabeça vendo ele coçar a nuca e olhar pro nada. –Se você não falar, eu não vou saber!
Coronel:Não queria passar sozinho de novo. –Falou olhando nos meus olhos, sério, como sempre. Na minha garganta se formou um nó, dever ser horrível passar o natal sozinho. –Era só isso!
Deitei minha cabeça no ombro dele novamente e olhei pras minhas unhas. Ajeitei meu anel solitário, mexi na minha pulseira, no meu relógio e por fim nas minhas tatuagens. Ele percebeu minha inquietação e me olhou.
Coronel:O que tu tem aí, viado? –Perguntou e eu abri um meio sorriso. –Tuas mãos tremendo aí, é frio?
Thais:Não. Hum. Quer passar o natal comigo e com a minha mãe? Tava tentando formular a pergunta, mas era só falar isso. –Ele riu pegando a minha mão e beijando ela, me fazendo parar de tremer.
Coronel:Eu venho po. –Balancei a cabeça e ele me puxou pra deitar no colo dele. Sempre que preciso falar coisas importantes me dá uma tremedeira e eu não consigo falar nada.
Eu também não sei porque sempre fico assim, mas é só quando tenho que falar e tomar coisas ou decisões importantes, é complicado explicar. Mas começo a soar frio, a tremer e dar falta de ar, é algo inevitável e inexplicável.