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Thais 🎀

Senti o colchão afundar do meu lado, mas nem me movi. Tô errada? Estou, mas eu não vou à um lugar que não quero ir e ponto final. Brutus subiu na cama e se deitou nos meus braços. Ele tem a cama dele aqui e na minha casa, mas sempre prefere dormir na nossa cama, incrível.

Não conseguia dormir por nada, então me levantei, peguei um baseado e fui pra varanda acendendo. Brutus veio atrás, como sempre. Bateu uma saudadezinha da minha mãe, saudade daquelas que dói por dentro e por fora. Senti o Rodrigo se aproximar, mas nem me mexi.

Coronel:Tu tá suave? –Perguntou e eu soltei a fumaça. –Amanhã tu acorda cedo, se quiser eu faço um chá pra tu dormir. –Falou e eu só balancei a cabeça negando. –Qualquer bagulho me chama então, não vou dormir.

Thais:Tá. –Respondi e ele se afastou. Queria mesmo era pular em cima desse homem e beijar ele a noite inteira, mas, sou orgulhosa demais pra pedir desculpas.

Joguei a pontinha do cigarro no cinzeiro e voltei pro quarto. A luz da lua era forte e batia no rosto do Rodrigo, que me acompanhava com o olhar. Deitei ao seu lado vendo o brutus ir pra caminha dele e fechei meus olhos.

Ficou escuro, mas não por muito tempo. Me sentia caindo no sono, e logo um pesadelo. Vi o corpo da minha mãe na minha cama todo ensanguentado e pelos seus olhos tinham lágrimas de sangue. Sua boca aberta era rodeada de moscas, seu rosto estava roxo e seu corpo negro, agora era branco. Ela olhava pra mim e me dizia:É culpa sua!

Thais:Não! Não! Não! –Gritei abrindo meus olhos e o suor escorreu pela minha testa. Meu corpo foi rodeado pelos braços do Rodrigo e eu tentei voltar a minha respiração ao normal.

Coronel:Vem cá. –Sentou na cama e puxou meu corpo pra perto do dele. Sentei em seu colo, deitei minha cabeça no seu ombro enfiando meu rosto no seu pescoço e chorei feito criança. –Tá suave, tô aqui carai.

Agarrei ele como nunca, como se eu me desesperasse pra ele não ir embora. Suas mãos passeavam pelas minhas costas numa forma de me acalmar e não demorou muito. Fui me recuperando aos poucos e ele sempre ali, fazendo de tudo por mim.

Thais:Desculpa... desculpa... –Pedi e pediria incansavelmente.

Coronel:Fica de boa, amor. –Fez um desenho nas minhas costas com o dedo e eu fechei meus olhos tentando dormir.

Quando acordei o alarme não tinha nem tocado ainda, faltavam cinco minutos pra tocar e eu desliguei. Ainda estava no colo do Rodrigo e ele dormiu sentado, tadinho, deve estar com uma puta dor na coluna.

Levantei vendo ele se mexer e deitar normal na cama, sem abrir os olhos. Brutus pulou nas minhas pernas e eu peguei ele.

Thais:Oi bebezão, sua mamãe vai colocar comida pra você, mas, antes vou escovar. –Deixei ele no chão e entrei no banheiro. Fiz xixi e escovei meus dentes fazendo um coque esquisito no meu cabelo.

Peguei meu celular e o brutus descendo pra cozinha. Enchi o potinho dele com ração e troquei a água, deixando ele no chão. Peguei meu celular vendo o visor acender e vi o nome da Valéria na tela.

Thais:Oi, amiga. –Falei atendendo colocando no viva-voz e pegando as coisas pra fazer o café. –Como está a Maya?

Valéria:Tá bem, mexendo um pouco demais à noite, mas bem. Não tem faculdade hoje. –Torci o nariz.

Thais:Ué, porque? Não falaram nada na sexta.

Valéria:Tu não olha o grupo, né safada? –Ri e respondi que não. –Os professores começaram uma greve, dizendo que não iam trabalhar e tal.

Thais:Assim do nada? Sem motivo? –Perguntei colocando a água do café pra ferver.

Valéria:Não, óbvio que não. Atrasaram o salário deles por uns dois meses, no primeiro mês eles perdoaram, mas agora não dá mais, né? Muitos tem filhos pra sustentar e aí fica foda. Então todos entraram de greve e só voltarão quando pagarem eles!

Thais:Acho que eles estão certos, mas os alunos ficam prejudicados também, o terceiro semestre acaba em junho e eram só dois meses. Só que fixar sem salário não dá. –Ela concordou comigo e disse que iria ouvir o coração da Maya pelo aparelhinho portátil que o R10 deu pra ela.

Fiz o café e montei dois pães colocando na chapa. Coloquei os dois em pratos de vidro, peguei dois copos e arrumei a mesa, vendo o brutus me olhar curioso.

Thais:Que foi? –Ele girou a cabeça e as orelhas ficaram em pé. –Vou adotar outro cachorro! –Ele latiu e rosnou me fazendo rir. –Tô brincando neném.

Coronel:Tu não vai pra faculdade? –Olhei pra trás vendo ele encostado no batente da porta. –Bom dia.

Thais:Bom dia! Os professores estão com dois meses de salário atrasado e entraram em greve, então até pagarem eles, estamos sem aula. –Ele balançou a cabeça e me deu um selinho.

Coronel:E a loja?

Thais:Vou agora mais cedo pra voltar lá pelas duas ou três da tarde. –Ele assentiu sentando na mesa e eu me sentei no seu colo.

Coronel:Vou te levar pra dar um peão à noite, se liga? –Sorri e balancei a cabeça dando um gole no meu café.

Nós conversamos sobre algumas coisas e ele disse que ia me deixar na loja. No caminho deixamos o brutus no petshop pra tomar um banho e ficar cheirosinho. Rodrigo me deixou na loja e disse pra ligar quando eu for sair. Entrei e comecei meu expediente mais cedo, pra livrar mais cedo.

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