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Coronel 🍾

Destranquei a minha sala, e joguei o papel com o nome dos cara que devia, em cima do Mt. Ele que fica responsável no bagulho, mano não erra uma. Tranquei a porta de novo, joguei a chave no bolso e subi na moto, colar no barzinho ali. Vi o R10 comendo uma coxinha e parei a moto de fora, entrando lá pra dentro.

Ontem saí da casa da Thais era umas duas da manhã, não fui embora enquanto ela não dormiu, deu maior medo dela ficar tremendo de novo e acontecer algo pior, tá ligado? Só fui mermo quando tive a certeza que ela não ia acordar passando mal ou algo assim.

R10:Pensando no que, viado? –Perguntou abrindo a garrafa de sub-zero em cima da mesa.

Coronel:Nada, po. –Ele balançou a cabeça colocando a cerveja no meu copo e eu acendi um baseado. Minha coxinha chegou, deixei de lado até acabar de fumar.

R10:Tava onde ontem de madrugada? Mandei um menor te procurar pra resolver um b.o, mas tu não tava em casa e nem na boca. –Cara é pior que mãe e mulher, puta que pariu.

Coronel:Em casa, carai. Não ouvi ninguém me chamar e muito menos tocar a campainha, a contenção não avisou? –Negou e eu joguei o ombros.

Povo daqui é fofoqueiro pra carai. Joguei a pontinha do cigarro fora, comi a coxinha enquanto bebia a cerveja e deixei vinte conto em cima da mesa pra ajudar o R10 a pagar. Fiz toque de mão com ele e sai dizendo que ia pra boca.

Ainda tinha muita coisa pra resolver. Tem muita galera devendo aluguel, luz e uma porrada de droga. O bagulho da droga eu resolvo fácil, mandar matar e pá. A maioria das vezes eu deixo passar aluguel e a luz, mas só quando eu vejo que a tia ou o mano é firmeza, e só tá passando por um período foda.

Hoje era o dia de mandar o dinheiro pra ong também, sempre uma vez no mês eu mando o dinheiro que é suficiente pra três meses, mas gosto de mandar todo mês, melhor sobrar do que faltar. Entrei na minha sala, separei o dinheiro da ong e deixei no cantinho. Eu mermo levo.

Procurei a lista desse mês e do mês passado, esse mês oitenta por cento da favela tinha pagado, três por cento a mais do que o mês passado. Bateram na porta e eu gritei pra entrar.

Popó:Tem uma mina aí pra pagar o aluguel e a luz. –Balancei a cabeça e ele liberou. A Thais entrou ajeitando o cabelo e sorriu pra mim.

Coronel:Pode ir, Popó. –Ele saiu fechando a porta e a garota sentou na cadeira à minha frente. –Eai, suave?

Thais:Tranquila e você? –Assenti e ela me entregou o dinheiro. –Desculpa pela demora, faltava um pouco do dinheiro e minha ainda...

Coronel:Precisa se explicar não, po. Relaxa! –Peguei o dinheiro fazendo a contagem e guardei na gaveta. Carimbei os papéis dela e os meus. –Se forem te cobrar por engano, mostra esses, jaé? –Ela assentiu e se levantou. –Tá de boa hoje? Quer dar um rolê?

Thais:Estou sim! Aceito. –Respondeu e eu falei que pegava ela às oito. Thais saiu, e eu continuei resolvendo meus negócios.

Entrei a ficha de quem devia pro Marquin na sala do lado, ele que cobra geral. Voltei na minha sala, peguei vinte mil em dinheiro, guardei numa mochila e saí trancando. Subi na minha moto, girei a chave na ignição e dispiei pra ong.

Vi uns menorzinho almoçando, tudo bonitinho carai. Encontrei o dono do lugar, ele que apresentou o projeto e eu só investi, mano faz sucesso e salva muita galera aqui.

Adriano:Eai. –Fizemo toque de mão e eu entreguei a mochila na mão. –Po, esse mês nós tá suave, dos outros meses nós já tem cinquenta mil.

Coronel:Agora tem setenta, po. –Ele riu, me agradeceu com um meio abraço e eu fui atrás das criança.

Brinquei com umas meninas ali, me maquiaram e tudo, brinquei até de boneca. Tava tomando um chá invisível quando vi o R10 entrando na ong com a irmã dele. A garota ficou toda feliz quando viu o Adriano e o mano levou ela pra ala de fisioterapia.

R10 olhou em volta e me viu, acenei com a cabeça e ele fez o memo. Ele passou a mão pela nuca, deu meia volta e saiu. Pra ele é foda isso, o maior sonho da irmã dele é andar, mas nada além das fisioterapia lá podia ajudar. Por isso eu investia pra carai aqui, só pra ver as criança realizando seus sonhos. Ver o sorriso deles é foda.

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