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Coronel 🍾
08 de janeiro

Encarei a tela do celular esperando uma resposta e passei a mão pelo rei. Ele tava maneiro, mas com saudade da Thais. Ela voltou a trampar cinco dias depois que a tia dela morreu e eu ainda tava meio pilhado pela maneira que ela tava. Ainda meio mal, mas não como a mãe dela.

"Thais gatinha:Eu bem, fica tranquilo."

Me respondeu e eu joguei o celular na cama. Sei que ela não tava, e só piorou quando viu que a prima dela não colou no enterro da própria mãe. Procurei saber quem era a tal prima, descobri que era a Letícia, uma mina que o Junim pegava, mas nem sei o que deu no lance deles.

Mandei mais uma mensagem pra ela e coloquei o brutus no chão, vendo ele correr pra ração dele. Ela ignorou a minha mensagem e pediu uma foto do cachorro, tá vendo? Dou um bebezão pra ela, e ela prefere ele.

Tirei a foto do cuzão e mandei pra ela. Garota respondeu com vários emojis de coração, falando que amava ele. Ideia de tilt essa aí. Abri a porta do quarto, brutus largou a comida e me seguiu até lá embaixo, na cozinha.

Peguei um doritos no armário e uma coca-cola na geladeira. Coloquei um filme vendo o cachorro deitar em cima de mim e comi assistindo o desenho com ele. Nem era filme, era um desenho de cachorro, patrulha canina lá. Era umas cinco e meia da tarde, levantei e joguei as coisas no lixo.

Brutus me seguiu até o quarto, onde eu ouvi meu radinho apitar na cômoda e fogos serem lançados, assustando meu bebezão. Fechei a janela que era blindada, as cortinas, liguei o ar e puxei meu colete. Coloquei o tênis no pé rápidão, peguei o fuzil atrás da porta e um monte de munição.

Tranquei o cachorro no quarto e desci correndo. Tranquei a casa toda, enfiei meu celular no bolso e tirei o radinho do suporte.

Coronel:Quem tá subindo?

Junim:BOPE! Fecha a ong. –Respondeu e eu desci no sapatinho. –Não tem muito, mas é bom ficar ligado e não deixar eles levar a melhor. –Falou, e eu pedi pra fecharem a ong. Coloquei o radinho no suporte de novo e continuei andando.

Meu celular vibrou no bolso, não ia ver agora, procurar um canto e eu abria. Olhava pra trás, pra frente e pros lado, até pro chão eu olhava irmão. Era tenso ter invasão do BOPE. Me escondi atrás de um carro e puxei o celular.

"Thais gatinha:Vou sair mais cedo hoje, quer fazer algo?"

"Eu:Não sobe aqui, não sobe. Nem tu e nem tua coroa, tendo invasão."

Segurei o botão do áudio e soltei em seguida. Ela viu na mema hora e disse que ia avisar a mãe e ficar com ela pela pista, até eu dar o aval pra elas voltarem. Joguei o celular dentro do bolso e sai dali, descendo pelas vielas.

Tinha muita escada por aqui, era um bagulho insano. Ainda mais que a qualquer momento um verme poderia aparecer. Me escondi vendo um passar, quando ele virou de lado apertei o gatilho com a mira na cabeça e o corpo caiu, jorrando sangue pelo asfalto quente.

Me aproximei roubando o radinho deles e fui andando mais um pouco. Meu celular não parava de vibrar no bolso, mas nem dava pra atender. Vi outro cara passando, esse eu não esperei, segurei o gatilho e penerei o verme.

"–Quero a cabeça do de frente e do sub, quero o BOPE no comando da Penha!"

Ouvi o radinho deles apitar e ri. Os cara não sabe nem quem sou e já quer a minha cabeça? Imagina se souber os bagulho tudo que eu tenho nas costas? Homicídio, estelionato, assalto à mão armada, tráfico de drogas e muito mais.

Tinha tiro vindo da direita. Vi o R10 meter bala e se esconder atrás do muro. Mandei ele ficar na dele pelo radinho e quando o cara postou pra atirar, eu meti bala nele. Fiz toque com o R10 e nós se separou de novo.

Desci a rua vendo o dia ir embora e vir a noite. As luzes da favela começaram a acender uma por uma e eu ouvi o radinho deles apitarem.

"–Tem eu e mais quantos vivos?"

"–Só tu, eu e o sargento Arantes."

Era só matar os três, não sobrava um. Ouvi um tiro ecoar do radinho e pela favela. O tal do Arantes disse que agora só tinham dois e era melhor recuar. Só se eu deixar. Desci correndo sem mandar papo em radinho, os cara podia me ouvir também, vai que né.

Vi dois fardado correndo pra fora do morro no sapatinho e mirei no primeiro. Ele caiu e pá. O outro olhou pro meu rumo, fitou bem meu rosto, pra mandar uma recordação pro capeta. Segurei o gatilho e ele caiu também. Ninguém me entrega nesse carai.

Ouvi os fogos estourarem no céu e puxei meu celular, segurando o botão do áudio.

"Eu:Sobe , até tu chegar fizeram o limpa. não te espero aqui na barreira porque o brutus sózinho"

"Thais gatinha:Vai ficar com ele tadinho"

Ri da resposta dela. Mandei uma mensagem no grupo do morro e falei pra liberar as coisas só quando tirassem os corpos e pá. Subi pra casa agradecendo à Deus e quando tirei o brutus do quarto, o mano pulou nas minhas pernas e eu peguei ele no colo, acalmando o cachorro.

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