Thais 🎀
2 semanas depoisSenti a dor ali. Vi minha mãe desmaiada na cama, não, desmaiada não. Morta. Foi tudo rápido demais. Eu aproveitei. Levei ela pra sair. Tomamos café, almoçamos, jantamos e andávamos todos os dias.
Ela enfraquecia cada vez mais e nos dois últimos dias ela já não andava, mal falava e mal comia. Eu fiquei com ela. Pedi um tempo na loja e fiquei com ela. Não ia largar ela por nada.
Hoje o céu acordou cinza, assim como no dia que perdi minha tia. Fui até o quarto da minha mãe, toquei nela. Pele fria. Tudo frio. Ela era igual gelo e dura feito pedra. Toquei em seu pescoço e em seu pulso.
Sem vida.
Morta. Minha mãe estava morta e eu estava despedaçada no chão. Não tinha mais nada. Não tinha minha mãe. Não era mais a Danda e a Thais. Era só a Thais.
Maldito câncer filho da puta.
•••
Autora
Thais se sentia quebrada. Ela tinha perdido a sua motivação pra viver. Imagina acordar planejando o dia todo com a sua mãe e ir ao quarto dela. Chegar lá e você a vê morta.
Pálida feito neve. Gelada feito gelo. Dura como um iceberg. Morta.
Pra ela não parecia nada real. Nada daquilo era real. Ela se beslicava à todo tempo, mas não acordava. Maldito pesadelo que não passava. Maldito sono em que ela não acorda.
Ela não tinha reação alguma. Mas qual seria sua reação ao não ser chorar depois de ver sua mãe morta? Sem vida, sem respirar, sem se mexer. Sem nada.
Muitas vezes ela queria ter força pra ligar pro Rodrigo, mas estava fraca. Não se mexia. Só chorava num cantinho, feito criança. Com a cabeça entre as pernas ela chorava muito, e muito mesmo. Thais era apenas uma criança indefesa por dentro.
Ela ouviu seu nome ser chamado, mas não conseguia responder. Seu corpo paralisou. Sua voz calou. Ela ouvia, mas não respondia ou se quer do lugar saia.
Do outro lado, mesmo dentro da mesma casa. Rodrigo procurou pela garota em todos os cantos da casa, até chegar ao quarto da mãe dela. Ele viu a quase sogra, a mulher à quem ele tinha prometido ser o alicerce da filha, toda estirada na cama. Morta.
Procurou a Thais com o olhar. Achou a garota no chão, com a cabeça baixa e imóvel. Totalmente imóvel. Ele se aproximou, sentou ao seu lado e a agarrou. O choro dela deu volume e ela se desesperou.
No quintal o cachorro, brutus ouviu tudo. Saiu correndo da sua casinha e entrou na casa, caminhou até o quarto e viu a dona totalmente desesperada no chão. Chorando de soluçar.
Ele latiu, mas não teve resposta. Percebendo que ninguém iria olhar pra ele, sentou nos pés de sua dona e lambeu as suas pernas. Ele choramingou baixo.
Thais:Mamãe...
Sua voz saiu fraca, sem o mínimo de força. Rodrigo pegou a garota no colo, tirou ela daquele quarto e a colocou no sofá, junto do cachorro. Ele puxou o celular e ligou pra alguém.
Coronel:Não demora, na moral. –Falou e depois guardou o telefone em seu bolso.
Ele voltou a atenção pra Thais que estava toda encolhida no sofá. A dor não era só mental ou sentimental, era física também. Sua cabeça doía. Seus olhos doíam. Seu coração doía. Suas pernas doíam. Seu corpo doía. Nada estava normal pra ela.
Alguns homens invadiram sua casa com um caixão de alumínio. Ela acompanhava tudo com o olhar. Colocaram sua mãe naquele alumínio gelado. Logo sua mãe que odiavam frio agora estaria num lugar gélido.
Tiraram sua mãe do quarto dentro da caixa gelada. Levaram ela pra fora. Colocaram a caixa num carro de funerária e saíram com tudo. Ela ainda olhava pro quarto em que a mãe dormia.
Thais se levantou sem ao menos sentir suas pernas e andou até o quarto. Rodrigo acompanhava cada movimento e observava a mulher que ele amava em segredo. Ela abriu o guarda-roupa da mãe e puxou uma peça de roupa dela. A favorita.
Ela nem precisou espirrar o perfume de sua mãe pra sentir, a blusa já tinha o cheiro da moça. Thais se deitou na cama de sua mãe, onde ela estava há uns instantes. Morta. Abraçou a blusa com força e chorou.
Ela chorou até não restar lágrimas, mas restava a vontade de chorar. Não tinha lágrimas mas ela parecia chorar e chorava à seco. Ela agarrava a blusa com mais força e mesmo sentindo o cheiro da mãe, não se conformava.
O cheiro não é a mesma coisa da presença. Ela viu os sapatos que a mãe usava para trabalhar e sorriu de lado. A mãe amava trabalhar, mesmo chegando cansada, ela amava ter o próprio dinheiro e poder comprar suas coisas.
A Thais sentia muita dor. Mas ela sabia que iria doer mais a noite, quando não tivesse mais a mãe pra lhe dar um beijo de boa noite e irem dormir. Doeria mais quando ela acordasse e fosse na cozinha, mas não iria ver o café pronto junto do sorriso da mãe.
Iria doer mais quando chegasse cansada do trabalho e da faculdade, e não tivesse a mãe ali pra lhe falar que estava orgulhosa dela e soltar um eu te amo minha Doutora. A ficha havia caído, mas não era fácil.
Nunca seria. Iria sempre doer quando ela se lembrasse. Mas doeria mais em uma noite qualquer em que ela estava super animada com uma mega notícia pra contar pra mãe, mas ela não estava ali. Não mais.
Doeria mais quando ela se formasse e olhasse ao redor, não vendo à sua mãe ali, batendo palma e sorrindo para ela. Doeria porque tudo acabou e sua mãe estava infelizmente morta.
Acabou.