14 - The Desire

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Diferente da calmaria com a qual geralmente caminhava pelo estacionamento de sua empresa, Pawat agora carregava em sua expressão preocupação. Cumprimentou a quem o cumprimentava com sorrisos forçados pelo caminho até chegar ao carro de Korapat, onde os vidros estavam fechados, o ar era frio e ambos estavam sérios. Se sentou em silêncio e tentando ignorar o desconforto da situação manteve a cabeça baixa até o silêncio ser quebrado pelo mais novo, cerca de um minuto depois.

ㅡ Vou ser direto para não tocarmos mais no assunto.

Korapat olhava ao redor como se certificasse de que não havia ninguém para o ouvir.

ㅡ Book é meu irmão. Ele não entende o quão a sério eu levo que isso seja um segredo, então age daquela forma na frente de qualquer um. Como você deve ter percebido, ele é uma das pessoas mais ingênuas e puras que eu já conheci, e eu sei muito bem o que essa merda de indústria faz com as pessoas, então tentei manter ele longe, mas... não consigo dizer não para ele. Eu tenho medo do que pode acontecer. Que machuquem ele, que ameacem, que... o tirem de mim. E não quero que ele descubra o quão podre e asqueroso o irmão que ele tanto admira é. Não quero que ele esteja envolvido nas minhas artimanhas e não quero que ele saiba o que eu faço de certo e errado. Você pode achar exagero, mas não é brincadeira, Pawat. Você e o First são os únicos que sabem.

Pawat ouvia e digeria tais palavras na mesma rapidez com a qual eram ditas. Estava na indústria a mais tempo que Nanon, e o abuso que sofreu até finalmente se impôr continuam gravados em seu corpo e mente. Era compreensível tentar proteger quem amava.

Book chegou na vida de Nanon quando o mais velho estava em seu ponto mais baixo. Seis meses depois de cortar laços com quem acreditava ser o amor de sua vida, Nanon já não via sentido nas coisas. Não saía, não estudava, mal comia. De repente, sua mãe, viúva desde que se entendia por gente, levou um homem em casa. Junto dele, um moleque que era quase uma criança, baixinho, bonito e envergonhado, não tirava os olhos de Korapat durante todo o jantar. O mais velho achava estranho, se perguntava o que havia de errado em sua cara. Talvez os olhos inchados chamassem atenção? A cena se repetia todos os fins de semana, até que lentamente os dois garotos passaram a trocar cumprimentos e sorrisos discretos quando algo engraçado era dito na mesa. Nanon o ensinou a jogar videogame e Book o ensinou que ainda haviam coisas boas na vida para aproveitar. Que um término, apesar de doloroso, não era o fim do mundo, embora parecesse. Book cresceu, mas sua aura continuava sendo a do garotinho humilde e amável que Nanon conheceu. Mais do que os próprios pais, eram próximos e pareciam família, seriam sempre o alicerce um do outro, e ambos sabiam. Quando Book se formou, se apaixonou, se decepcionou, chorou e depois se reergueu, Nanon estava lá sendo seu melhor amigo, conselheiro, irmão e companheiro. Tinham juntos as memórias dos melhores dias de suas vidas e eram mais do que gratos por terem se encontrado no meio de tanto caos.

Book, como todo irmão mais novo, quis seguir os passos do mais velho. Cursou, ao mesmo tempo, engenharia e administração, prometendo ser o braço direito de Kirdpan, e assim fez. Apesar dos pesares e da oposição de Nanon à ideia, prometeu conceber ao garoto o cargo de vice-presidente da empresa, que em cinco anos esteve vazio, quando completasse vinte e três anos.

ㅡ Eu entendo.

Pawat respondeu, ainda acanhado.

ㅡ Então, o que mais veio fazer?

Nanon indagou.

ㅡ Quero conversar sobre aquele dia... quando eu citei a Piploy, você... você mudou. Eu te disse muitas coisas, eu imagino que tenha sido muito para compreender no momento, mas... eu só queria te entender.

ㅡ Me deixei levar. O Nanon de cinco anos atrás reassurgiu e eu... não o controlei.

ㅡ Non... você sentiu ciúmes? Você tem alguma noção de como eu amei você?

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