36 - The Liar

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A noite era longa. Seus pensamentos o devastavam e o mantinham inerte em seu quarto, sem o que recorrer. Se agisse, poderia estragar tudo como uma peça de dominó derrubando todas as outras. Poderia machucar quem amava, mais uma vez, por fruto de sua pura negligência. No entanto, mesmo que aguardasse e permanecesse parado, o caos se instalava de forma esguia e traiçoeira por baixo dos tapetes e entre as paredes. A queda não tinha escapatória, mas pela primeira vez na vida, Nanon preferiu se iludir com a ideia de que tudo ocorreria bem. As horas passaram mas não conseguiu adormecer. Sempre que fechava os olhos, a imagem torturante da pessoa que tentava proteger se tornando mais uma vítima aparecia para apavorar Korapat. A sensação de que estava perdendo tempo, de que o mais novo estava em perigo, de que tudo desmoronaria... eram reais demais para ignorar. Quando se levantou, o dia amanhecia. Se sentou com o notebook velho e hackeado sobre a mesa da cozinha e ali permaneceu, sozinho. Até mesmo ignorava seu típico café matutino enquanto seus olhos eram vidrados na tela do aparelho, buscando incansavelmente por algo que o fizesse agir. Para sua sorte, ou azar, o universo lhe poupou daquilo. Talvez por dó. Se levantou, tomou um banho rápido e trocou as roupas da noite passada por uma camisa branca e calças de linho. Era um dia nublado, como se até Deus se sentisse mal. Quando saiu de casa, buzinas eram frequentes e altas como de costume, e o semáforo, lento. Aproveitou para ler as mensagens, afinal não era como se pudesse ignorar Pawat por muito tempo.

A sensação de que algo estava errado não o impediu de sorrir fraco ao ler tais mensagens

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A sensação de que algo estava errado não o impediu de sorrir fraco ao ler tais mensagens. Mudou sua rota sem pensar duas vezes, digitando com a destra enquanto conduzia o veículo com a outra mão.

Não levou mais do que cinco minutos para estacionar e adentrar o prédio vestindo a parte final do terno. Ao sair do elevador, os olhares em sua direção eram de pena, mas não havia como percebê-los se seus olhos eram focados em chegar até Pawat. O mundo inteiro já sabia, menos ele. Entrou na sala ao fim do corredor sem bater na porta, mas não encontrou o que esperava ao atravessá-la. Ao invés de um namorado que sentiu sua falta durante a noite e ansiava em vê-lo pela manhã, a feição de Pawat entregava exatamente o contrário. Os olhos avermelhados indicavam que havia chorado nos últimos minutos. Nanon andou em passos largos em sua direção para segurar seu rosto e perguntar o que havia acontecido, mas Pawat afastou as mãos de si pela primeira vez na vida, saindo de perto da mesa onde esperava encostado e suspirou, deixando Nanon imóvel.

ㅡ O que aconteceu, Ohm?

Seu peito doía antes mesmo de ouvir a resposta. Recusar um toque era algo que nem mesmo em seu pior dia Pawat foi capaz de fazer.

ㅡ Eu preciso que você... preciso que fique calmo e que me entenda, Non.

ㅡ Eu estou calmo... - deixou transparecer em sua voz outra vez. Se aproximou do homem novamente, com olhos preocupados que tentavam ler o que os seus diziam. Segurou sua mão como se quisesse lhe passar confiança. ㅡ Por que estava chorando?

A resposta de Pawat foi soltá-las. Korapat sentiu, mais uma vez, um soco no estômago. Sua garganta começava a arder e por algum motivo, aquilo se parecia cada vez mais com um fim.

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