OITO

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C.A.P.I.T.U.L.O 08
A Vida é Sua Colega de Trabalho


Deus eu ia surtar com essa garota nova me perturbando, eu só quero meus cinco dias que faltam sem ser atormentada por essa louca, é possível? Então férias, ficar na cabana perto do lago na floresta, assar marchimelow, escutar música triste, tentar ver Cammael de longe já que sua propriedade fica a algumas milhas do chalé que alugo todos os anos.

Eu só tinha que treinar a gatinha de 20 anos, por que depois de 10 anos na empresa ou melhor prestes a completar meus dez anos, onde eu receberia um bônus, em vez de tirar férias de 30 dias, eu poderia ter 40 dias.

— Fofa? Eu estava te procurando! —  A vida é uma vadia de 20 anos de corpo sarado te atormentando pelos seus 77 quilos. — Eu devia imaginar que você estava alimentando esse corpo com açúcar, mas me custa crer que todas as dicas que te dou você simplesmente ignora. — Guardo pra mim a resposta que gostaria de dar... É bonita, mas é cruel, e malvada tanto quanto é burra como uma porta, ela não sabe usar o computador, não sabe usar a xerocadora, e não sabe manter suas opiniões para si. Porém sabe passar batom como ninguém, as unhas são longas que mais parecem dedos nos dedos e usa roupas imorais para o padrão da empresa, mas todo mundo faz vista grossa, ou talvez eu só esteja com ciúmes por ela usar vestidinho super colado com minissaias.

— Vamos Sorja.

— Só porque você terminou de se entupir de açúcar não quer dizer que eu terminei com o meu lanche... Frutas, quer? —Ela me viu comendo uma bomba de creme e chantili, como que acha que quero suas pitaias?

— Não, é muito saldável, posso ter algum tipo de problema.

— Aaaaa Fofa não fica brava, eu só estou sendo legal, sabe como é depois dos 30 anos as mulheres não emagrecem como antes... É um favor que estou fazendo, mas você não entende. — Certo a maldita tinha razão, mas a cada stress que ando tendo nesse último mês tenho descontado na comida é como viver em TPM constante.

— Eu já tenho 30 anos.

— Pensei que tivesse mais com essa papada. — Vendo minha cara indignada ela diz. — Desculpa peguei pesado? Sorry... Mas isso é porque você escreveu aquele e-mail reclamando que não queria me ensinar porque a seu ver não tenho capacidade... A quem diga ao contrário.

— Sorja você não devia ler minhas correspondências, eu devia estar treinando alguém capaz de fazer as conciliações porque saio de férias em cinco dias e você só passa o pincel e sempre que vou verificar seu trabalho sou obrigada a refazer, a questão aqui é que preciso de alguém no meu lugar a altura.

— Eu sou mais alta, e você não sabe de nada.

— Talvez eu saiba somar 2+2.

— Você é tão pretenciosa.

— E você não devia se ofender quando digo que você não tem aptidão para o cargo. Talvez tivesse se não ficasse todo o tempo mexendo no celular em horário de trabalho.

— Eu não sou como você e talvez você só esteja com medo da concorrência e esteja louca pra me eliminar.

— Você tem ideia de que eu já estive em cinco setores dessa empresa, que comecei como secretaria e fui mostrando o quanto sou capacitada e que possuo um intelecto superior? Talvez você nunca tenha ouvido falar em gênios?

— Nada humilde, mas se é assim um gênio porque está aqui nesse escritório e não em algum cargo elevado? — Nesse momento estamos uma na cara dá outro nos encarando, respiro fundo para não lhe dizer que não fui agraciada por uma família que investiu em mim.

— Vamos meninas vocês estão parecendo que estão brigando. — Quando o idiota do contador fala a desgraçada da garota começa a chorar.

— Ela me ofendeu, eu não sei mais o que faço para a agradar, não suporto mais.

— Talvez você deva ir conversar com Onorata, Pandora.

— Eu não fiz nada, ela me chama de gorda e sou eu quem tem que ir falar com Onorata? — Consolando a falsa da Sorja ele me manda sair e eu sou obrigada a ir ter com a responsável por dispensas da empresa Onorata Sanches.

Respiro fundo antes de rodar as maçanetas de bronze.

— Pandora Olimpiano, boa tarde! — A senhora junta as mãos sobre o tampo onde estão alguns papeis, aponta para a cadeira. — Entre e sente-se.

— Isso não é justo! — Digo tremula.

— Tenho sete reclamações da sua estagiária entre abuso de poder e assédio moral.

— Tudo que fiz foi mandar um e-mail ao gerente de departamento solicitando que a colocasse com outro porque a garota não tem talento para as conciliações e a maldita leu minha correspondência.

— Bom ela vem a dois meses enviando reclamações... Como sabe temos uma política ante ataques aos estagiários.

— E quanto a regra de não relacionamento entre superior e estagiário?

— Pandora? Isso é grave, você tem provas?

— E você tem provas que eu maltrato Sorja?

— Bom, Pandora, a jovem vem relatando que você vive fazendo críticas quanto ao corpo dela, e suas condutas de alimentação, vem reclamando que você não lhe passa as tarefas e quando passa você não é muito clara no que solicita, ela disse que você a chamou de burra.

— Certo uma funcionária de quase 10 anos que nunca deu trabalho, que já treinou mais de 15 estagiários, tem sua palavra refutada por uma garota de 20 anos que entrou aqui a três meses e nunca me escuta porque vive no celular conversando, postando, ou se fotografando tem mais valor que a minha palavra.

— Você tem provas disso. — Pego meu celular e abro na rede social dela e mostro os horários e as fotos, os vídeos comentando sobre as coisas do escritório, me chamando de gorda em um deles. Onorata apenas observa. — Estou velha mesmo, como vamos resolver esse problema? Eu pensei que só te veria quando assinasse seu termo de 10 anos.

— E tem mais, ela não é empenhada, não é profissional, além de invadir minha privacidade dentro do cargo que exerço, não respeita o código de vestimenta, vive se insinuando para o gerente e deixou que ele passasse a mão em sua bunda durante o horário de trabalho, eu vi, avisei ele que ela não estava pronta para o meu departamento e não tem perfil para o contábil, mas se ele quisesse criar um cargo para arquivista ela poderia se enquadrar, mas parece que ele a quer perto de seu olhar, mais precisamente na minha mesa que infelizmente da de janela com ele. —  Onorata anota tudo. E eu pensei que viveria minhas férias de 40 dias.

— Infelizmente foi o gerente Takana quem me solicitou seu desligamento hoje pela manhã, porém recebi um telefonema de Martines para dar uma advertência porque as viu discutindo e disse que Sorja está muito abalada, perguntei se ele ouviu a conversa ele diz que não ouviu, mas percebeu pelos movimentos e olhares que estavam discutindo.

— Novidade, não me surpreende nada, eu sabia que eles iam fazer alguma coisa, pensei que eles não tivessem me visto no estacionamento, mas viram.

— Pandora vamos fazer assim, vou conversar com o meu antigo colega de departamento, ele foi promovido e está no setor financeiro, vou falar com ele para descobrir algo sobre esse caso de Takana e Sorja, mas por hora sabe como é, sou tão funcionaria quanto você.

— Vamos Onorata me dê esses papeis, eu vou sair dessa, e não volto pra essa empresa, quem sabe encontro uma vaga que me pague melhor. — Minha vontade era tacar o café que estava sendo colocado na minha xicara, indo pra minha sala, todo o departamento trabalhando sem tempo pra picuinhas, Sorja sorria irônica vitoriosa de minha mesa, esparramada em minha cadeira com um sorriso de orelha a orelha.

— E então? O que aprendemos hoje? — Diz totalmente de forma ordinária e com aqueles tons de vadia de colegial.

— Não sei você, mas eu aprendi muitas coisas, te desejo boa sorte. — Recolho minhas coisas ainda a mesma de sempre com o mínimo pra viver, agora nem gato eu tinha mais, eu era a Pandora de sempre, tinha muitos pontos novos, eu tinha frequentado a terapia, vencido alguns traumas, não conseguia namorar era fato, medo me atormentava e o amor não correspondido pôr o alfa Cammael só crescia, eu nunca contei essa parte pra ninguém em especial para a terapeuta que me ajudava com os gatilhos dos traumas de infância e toda a rejeição, eu já tinha me perdoado pelo caso com meu tio Hades, e agora apenas vivia, lia, corria, eu sabia que meu sobrepeso era a forma de externar toda a minha solidão.

— Aprendeu que com a mulher do chefe não se brinca? — Lixou uma unha de gel rindo de sua piada interna.

— A mulher do chefe? A Esposa nunca esteve nesse escritório, que dirá eu tenha que aprender a lidar com ela, mesmo porque sou educada a me pôr no meu lugar, acredite em mim quando digo que fui bem-educada, assim sendo eu saberia como conversar e talvez fazer algumas brincadeiras para tornar a estadia dela mais confortável, agora você devia saber como tratar uma coreana que ouvi dizer que é especialista em taekwondo, de família abastada e que pode matar uma amante, faça as pesquisas Fofa. — Bato em seu ombro e parto para o elevador, indo embora, dando adeus para todos de dentro do elevador.

Me despedi dos porteiros, entreguei meu crachá e parti embora para fora dos muros, o ônibus para bem no momento que chego na parada, embarco e pago ainda usando meu cartão de passes fornecido pela empresa, ainda era meu benefício até acabar o limite.

— As conversar a minha volta estavam altas nesse horário, eu nunca sai cedo, sempre era muito tarde, pegando todas as horas extras, cobrindo colegas que não podiam ficar além do horário, então eu sempre ia embora no ônibus quase vazio e as pessoas estavam hiper cansadas, eu tinha ganhado bem por isso, datas comemorativas eu nunca precisava estar em algum lugar porque ao contrário dos outros eu não tinha ninguém, não tinha por que deixar de trabalhar para estar em uma festa.

— Você viu a notícia sobre o alfa Mortagh. — Automaticamente minhas atenções se voltaram para a conversa a minha frente.

— O que dizia, não vi.

— Ele está noivo, não o tipo de noivo como nós humanas achamos, é um acordo político que os lycan fazem, o alfa casa com a filha de um alfa para dois alfas gerarem a linhagem, dizem que foram anos buscando a noiva certa. — Meu dia não podia ficar pior. — Eles não envelhecem então fica fácil esperar que uma filha de algum alfa poderoso cresça não é mesmo.

— Mas porque ele não pode se apaixonar? Que eu saiba que os outros lobos têm direito a escolher a companheira que lhes rouba o coração.

— Não é escolher a companheira, ouvi meu cunhado dizendo que tem um amigo lycan, eles sentem a companheira como jamais sentem outra mulher. Daí a possessividade, a loucura que vemos eles demonstrarem quando eles não estão acasalados com essa fêmea em específico.

—Sim claro, mas isso não os impede de casar como nós, escolhendo uma boa entre as demais, talvez algo de DNA, algo mais profundo aconteça com os alfas.

— Podem se apaixonar. — Acabo dizendo em voz alta meu pensamento e as duas mulheres me olham.

— Entre se apaixonar e ter encontrado seu companheiro predestinado qual vocês escolheriam?

— É claro que o predestinado.

— Almas Gêmeas não existem, o que existe é desejo sexual alinhado, e outros pontos parecidos e bum, química. — Sorri porque pelo menos estranhos concordam comigo, mas agora estou com vontade de chorar.

— Ela tem razão de novo. Eu daria tudo para um lobo ter esse bum comigo. — Eu também, em especial esse que acaba de ficar noivo.

Pego meu celular e começo a mexer nas redes sociais, vários canais de fofoca já tem uma foto loba jovem, mas não dá pra ver direito, estão no barco ela está de biquini e Cammael está ao seu lado, estão conversando.

Se eu fosse uma loba eu rosnaria, mas tudo que faço é apagar a tela e olhar a cidade em luz de entardecer.

Meu telefone toca.

— Onde estão os relatórios que pedi mais cedo? — Senhor Takana? Esse Cara esqueceu que me demitiu mais cedo, que foi a primeira ordem do dia.

— Na mesa senhor.

— Porque não arrasta sua bunda até minha sala agora mesmo. — Irritado ao extremo, de cortinas fechadas creio eu porque não percebeu que não estou na minha mesa. — Por que tenho que cobrar por um serviço que te pago para fazer? Será que vou precisar te demitir.

— Temo que isso não seja possível. — Minhas sobrancelhas se elevam surpresa por minha audácia de o responder, eu sempre tive muito medo dele, medo como tinha do meu pai.

— Agora, na minha sala.

— Pergunte a Onorata ela vai lhe informar.

— Merda! Pandora você não está me dando alternativas. —  Escuto o som típico da cortina sendo aberta de uma vez em seu trilho de metal, silencio, acho que ele começou a somar dois mais dois, então esbraveja que sou obrigada a tirar o telefone de perto da minha orelha. — ELA JÁ TE DISPENSOU.

— Sim. — Ele estava dando início ao seu plano para me demitir, ou ele realmente está furioso pelos relatórios? Aposto que são as duas alternativas.
— Pago por fora preciso do relatório agora.

— Peça a sua amante. — Desligo o telefone e bloqueio o número, basta de pessoas pensarem que podem me maltratar, foda-se o conselho de minha terapeuta, as pessoas só dão o que tem, eu vou dar o que tenho uma infinidade de medos e traumas.

Obcecada por o AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora