C.A.P.I.T.U.L.O 03
Consequências
Aos meus 21 anos um ano após ir embora, de concluir minha faculdade em outro lugar levando meu único amigo o gato, a notícia de que meu tio Hades cometeu suicídio me socou como se uma dúzia de agressores tivesse feito.
Abro o envelope com a carta dele deixada para mim, quando vovó ficou mais consciente ou se recuperou do choque de encontrar seu filho caçula morto no lindo Olimpo do labirinto, ele tinha tomado remédios para dormir quase sem pílulas, ela me envia a carta que estava sobre seu peito, junto com uma para ela própria, vovó disse que ele não sofreu e morreu vestido luxuosamente como um noivo esperando sua noiva, a carta era clara e com ela a escritura de um apartamento em meu nome, na cidade de Nevoeiro, eu sabia que essa cidade era famosa pelas novas espécies que viviam lá, ou melhor, os lobisomens, tinha virado patrimônio do povo Lycan, não era território da matilha garra da morte, o território era acima da cidade que cresceu devido ao comercio de minério extraído nas minas nas terra dos lobos, quando ninguém sabia que era terra dos lobos, pensava que era reserva natural Garra da Morte.
...
Amor,
Eu não fiz outra coisa que pensar em você, sei que fui mesquinho quando te seduzi, eu sei que usei de sua vulnerabilidade e carência, mas eu precisava ter você nem que fosse nos seus termos.
Eu esperei tanto tempo para te ter, só deus sabe do quanto eu esperei desde seus 14 anos, eu não suportava mais esperar...
...
Amasso o papel, a dor rasgou de dentro pra fora, e contive a respiração, prendi até que a vontade de gritar ainda me tentava a fazer.
Caminho para a cozinha e ligo o fogo e queimo a carta sem ler o que estivesse escrito ali, eu tinha me punido por esse tempo longe, me castiguei de várias formas, fiquei sem comer, fui a igreja confessei meu pecado e recebi minha sentença de oração um ano sabático, sempre que eu desejasse comer algo eu me punia comprando e deixando a vista até apodrecer, era como mamãe me punia quando errava e era descoberta.
Quando sentia desejo sexual e as vezes memórias intrusivas invadiam minha mente e tomava banho de água fria, colocava gelo na banheira e me afundava ali até não aguentar mais, então eu chorava.
Me tranquei várias vezes no armário, e no trabalho deixava que as pessoas fossem estúpidas comigo, afinal de contas eu merecia.
Vovó tinha arrumado um emprego em um escritório de advogados conhecidos dela, as vezes eu achava que eles sabiam o que tinha acontecido.
Não fui ao enterro, não liguei para vovó, não me movi durante aquela semana, eu chorei e chorei, mas foi meu pai que surgiu a minha porta para me visitar e isso me deixou com tanto medo de que mal consegui torcer a chave e o deixar entrar. Quando abri a porta e ele me viu.
— Vadia asquerosa. — Sua mão entrou em choque contra minha bochecha esquerda com tanta força que minhas pernas falharam e cai. — Puta. — Cai contra o chão. — Você me enoja, como você pode seduzir meu irmão?
— Por que sou mulher então a culpa é minha? — Digo esfregando meu rosto.
— Você acha que me engana? — aquela mesma mão que me bateu se fecha em minha garganta. — Hades era tolo eu sei, me falando de amor e respeito todo o tempo... Sabia que ele foi me implorar para dizer onde você estava e que a amava? — A dor dos dedos dele apertando minha garganta, me sufocando eu não conseguia respirar, mas as lágrimas escorreram, papai me suspende e me arrasta até a parede então bate minha cabeça. Uma, duas vezes, seus dentes estão expostos pressionados como se fossem colados, os músculos do pescoço estão tensionados.
— Ele foi falar com o senhor!
— Cala a boca, cala a maldita boca... — Dois tapas um em cada face, fazendo minha cabeça chicotear da direita para a esquerda. — Eu acabo de enterrar meu irmão mais novo, que se matou porque tinha um amor incestuoso com porra da criança que eu gerei, sabe como as pessoas estão me olhando na rua? Como o pai da vadia que destruiu um homem bom, que o fez largar a família, e a vadia é a porra da minha filha... Cadela no cio.
— Papai eu prometo que nunca mais vou fazer isso eu juro. — Jogada no chão frio fico tonta, minha cabeça doe meus ouvidos estão estranhos parece que acaba de acontecer uma explosão, a voz dele fica estranha como se estivesse longe e dentro de algum lugar, porém está em cima de mim com sua mão firme em meu pescoço.
— Eu devia ter feito isso quando você era um maldito bebê, mas eu não conseguia, fui fraco, idiota, olha agora a desgraça que você se tornou. — Estou sufocando as mãos de meu pai estão me sufocando, as duas amassam minha traqueia, eu seguro seus punhos tentando me livrar, um extinto de sobrevivência supera a minha autopunição, eu tento me livrar, mas tudo está ficando escuro, eu quero gritar, mas não grito eu mereço isso, ele tem razão eu preciso morrer, eu tenho essa culpa, eu sou uma vadia.
Perdão Helena por ter tirado seu pai de você, eu estraguei tudo pra você, sinto muito, perdão tia Melissa por não ser certa e resistido ao desejo e necessidade profanos que foi querer aquele homem, perdão vovó por não valorizar a chance de família que a senhora me deu, então tudo fica preto, silencioso ao ponto de só ouvir meu coração batendo até parar, frio está tão frio que me lembro daquela noite gelada sozinha na varanda de casa com medo vendo a noite engolindo tudo vejo a mim mesma com meu vestido amarelo de bolinhas brancas comendo ração e tentando me aquecer abraçada ao cachorro perdão Pandora eu estraguei tudo pra gente.
Acabou.
Quando acordo tem muita luz, um bip insuportável, e cheiro de álcool e éter no ar, eu não morri, pelo contrário estou em um quarto de hospital sozinha. Começo a chorar levo minhas mãos pro rosto e sinto que meu cabelo foi cortado, quer dizer pinicado porque tem mecha longa e mecha curta, passando a mão por minha cabeça atordoada.
— Enfermeira? — Uma mulher surge diante de mim com um sorriso profissional, sua bandeja de inox, estetoscópio e surpresa.
— Enfim você acordou... Como se sente?
— Eu não morri.
— Foi por pouco... Vou chamar o médico e os policiais.
— O que? Polícia?
— Sim a sua vizinha não conseguiu ver seu agressor, mas estão esperando para você o identificar. — Eu não ia identificar ninguém, em especial denunciar meu pai, eu merecia o que ele fez comigo.
— Meu cabelo. — Soluço confusa, tudo doi, inclusive engolir. — Você tem um espelho?
— É uma pena que seu agressor cortou seu lindo cabelo dá pra ver que era muito cumprido, não mexemos porque esperávamos você acordar, apenas passaram algumas horas, é noite do dia que você sofreu o ataque. — Ela me entrega um pequeno espelho que retirou do bolso de seu jaleco.
— Pode me ajudar com essa bagunça? — Então ela sai e começo a chorar olhando meu rosto com hematoma púrpuras, com minha cabeça meio raspada, sangue seco nos ouvidos e no nariz, roxos nos meus pulsos. Era o retrato da vadia que eu era.
Eu merecia isso.
— Olá? Sou o tenente Cortez e gostaria de conversar com a senhora Pandora Olimpiano. — O policial parado na porta do box que estou sendo atendida, ela parece sério e determinado, bastante receoso de entrar já que sou mulher, já que pode ser que eu prefira a distância de um homem e era verdade.
— Sou eu.
— Certo era para confirmar a senhora poderia nos contar o que aconteceu.
— Não, eu não sei o que aconteceu. — A única coisa que me vem a mente, meu pai xingando e me batendo, eu respiro fundo, eu mereci isso.
— A senhora não lembra ou não quer falar sobre isso? — Ele não sabe, porem com essa pergunta me faz ter a resposta.
— Eu não me lembro, também não sei quem me agrediu e eu não vou prestar uma queixa, posso ir embora agora enfermeira?
— Senhora Olimpiano você foi encontrada inconsciente, com vários hematomas no chão do seu apartamento, a menos que seja uma cobrança de dívida com drogas é por isso que não quer falar?
— Eu escorreguei e cai. — Eu podia sorrir se não fosse considerado algum tipo de louca, ele me olhava chocado, aponta para o cabelo.
— O cabelo?
— Eu estava cortando, meu tio morreu e hoje era enterro dele, éramos muito próximos eu só estava tentando externar meu luto.
— Espera que acreditamos que tudo isso é sua obra e não foi agredida?
— Onde está minha roupa? — Levo minhas mãos ao avental branco com logomarcas do hospital.
— Você é uma dessas garotas que se meteu com os Lycan, não é?
— Não, eu não sei do que você está falando... Foi só meu luto, eu fiquei cega de dor, e acabei me punindo.
— Já que a senhora não que dar queixa eu não tenho mais nada a fazer aqui. — O oficial sai e eu me visto com minha roupa, espero o médico me examinar e fui liberada.
Estava chovendo, quando cheguei ao meu apartamento minhas coisas estavam do lado de fora incluindo meu gato, eu fui até o apartamento da senhora que tinha me alugado o lugar.
— Senhor Delvale? — Bato na porta. — Senhora Delvale é a Pandora a senhora pode me ajudar, minhas coisas estão na rua.
— Vá embora daqui, não alugo meus imóveis para vadias de cachorros.
—Eu não entendo, eu não me envolvo com os licantropos? Como a senhora chegou a essa conclusão?
— Que motivo mais teria para um membro da Ordem estar em sua casa te batendo como se você merecesse?
— Espere... A senhora não entende era meu pai.
— Pior, vá embora agora... — Quando bato na porta outra vez ela grita. — Vá embora eu já disse ou eu chamo a polícia... Vá pra onde aqueles que simpatizam com sua causa.
— Eu não sei sobre onde os que simpatizam com minha causa ficam. — Ou seja garotas criadas sobre abusos recorrentes, tão carentes ao ponto de ter um relacionamento incestuoso com seu próprio tio que se matou quando foram separados... Garanto que se eu contar para essa mulher a verdade ela vai me mandar embora da mesma forma. — Tudo bem senhora Delvale, obrigada por ter sido gentil comigo por esse um ano, e me desculpe por alguma coisa, fique em paz.
— Eu já disquei o 190 então você tem pouco tempo pra sumir da frente do meu prédio ou a polícia vai te prender.
Desço correndo pelos seis degraus da frente e começo a juntas minhas coisas, coloco na mala grande a maioria que cabe e na outra mala o resto das minhas coisas, tudo que era meu cabia em duas malas, respiro profundamente e caminho para um hotel ou qualquer espelunca próxima para que possa passar essa noite, por sorte encontro um a cinco quarteirões de onde moro.
Deixo Bolota sobre a cama enquanto vejo a bagunça em minha cabeça, quando canso de olhar minha cabeça sem cabelos iguais vou para a mala pegando um moletom de capuz. Toda a garota com problemas tem um, pego minha bolsa e visto um jeans, tênis e vou para o posto de gasolina mais próximo, eu sabia onde encontrar um lugar para terminar o trabalho do meu pai, quase 20 horas tudo molhado, o som dos carros passando na pista encharcada são meus pontos de lembrete da real, de onde estou, porque minha mente vai e volta no momento em que meu pai me espanca.
— Ola, quantos para atender? — Pergunto ao homem vestido de shortinho e top, suas grandes unhas postiças fazem aquele som característico delas colidindo, e o mascar do chiclete para quando vê meu rosto.
— Menina que porra foi que tu trombou?
— Só com meu pai que descobriu que sou uma vadia, que teve um caso com o tio mais novo casado, que fomos pegos, que o meu tio perdeu a família e a sanidade depois do término e assim ele se matou e hoje no enterro desse meu tio, ao qual eu não fui, meu pai descobriu tudo. — Sem forças eu começo a chorar.
— Vem aqui menina! Centa... Que babado. — Ele me senta na cadeira de barbeiro e começa a me arrumar. — Vamos dar um jeito nesse corte de cabelo que o velho deu em você.
— Gata garota? — Disse a outra surgindo de trás de uma cortina de plástico. — Eu supero você, mona!
— Vai conta aí, pra distrair essa menina triste.
— Por favor! — Eu sussurro.
— Então eu dei meu rabo uma vida pro meu irmão mais velho, uma vida, desde meus 7 anos eu era fodido pelo traste.
— Mas você era uma criança não tinha culpa digo.
— Depois dos meus 16 anos era eu quem o ameaçava para me comer gata?! — Diz ela se sentando do meu lado. — Thome ou me come ou conto pra todo mundo que tu me comia desde criança. Foi babado quando nossa mãe escutou essas nossas interações.
— Sério? — Eu não queria parecer pudica agora, nem nada só pensei que eu fosse uma puta de tio, como o sangue ruim da família.
— Bem-vinda ao clube... Já ouviu dizer que as viadas tem as histórias mais babadeiras de vida? Não? Olha ela esta chocada... Conta a sua Barby. — Não podia julgar, não estava sendo julgada, essas pessoas eram como eu perdidas tanto quanto eu.
— Eu não vivi nem um incesto, mas peguei muito o marido da vizinha da minha casa, acredita que ele era louco pela gata aqui, quando eu não quis mais porque achei um gostoso de pau maior, ele surtou e me deu uma surra quase igual a essa sua. E isso me ensinou a pegar mais homens casados, foda-se se isso soa errado, mas foi assim que consegui ter meu salão.
— O que a gente quer dizer lindinha, é que essas coisas acontecem. — Mesmo com a cara roxa ela conseguiu ver meu abalo.
— Meus pais nunca me quiseram, fui criada como um erro, meu pai não gostava de uma mulher como filha, é tradição da família zero filhas mulheres, tem tantos segredos nessa minha família, quando meu avô morreu minha avó me resgatou e eu paguei com sendo promiscua com meu tio, ele era tão doce, atencioso, tão carinhoso, tão paternal, eu não conseguia não pensar nele, fiquei malditamente obcecada por ser tocada por ele, era meu tio, meu tio irmão do meu pai, que era rude e distante e Hades era tão lindo e gentil, a única coisa nele que me lembrava ser irmão do meu pai eram aqueles olhos verdes idênticos.
— Amiga, eles sempre são... Agora gata você vai querer que raspe ou deixa no dois?
— No dois.
— Acho que tenho uma peruca...
— Querida para, nunca que uma bicha cabeleireira teria só uma peruca.
— Eu pago... — Uma peruca ia me ajudar ia sim.
— Mas é claro que vai pagar a gente é legal só não faz caridade.
— Bicha tu é malvada, agora para de onda e vai pegar aquela loira Chanel vai ficar um arraso.
Depois de tudo, eu coloco a peruca por um tempo me olhei no espelho e aquela loira não era eu, mesmo com o rosto coberto de maquiagem que as duas cabeleireiras fizeram questão, era como olhar para outra garota, zero sardas, zero cabelo ruivo, lábios vermelhos, delineado nos olhos, até minha sobrancelha estava com outra cor os cílios postiços, essa não era eu, essa garota não tinha passado.
Essa garota não tinha crescido abandonada, ou sofrendo abusos e muito menos ter tido um caso com a única pessoa que foi carinhosa por carência, essa garota bem podia se chamar Lory ou Candy, ela teve um namorado apaixonado no colegial, muitas amigas e foi muito admirada, decido ir embora, pago as cabelereiras vou pro hotel, embora a rua estivesse tremendamente mais escura e fria, com ar de perigo eminente eu me permiti sonhar, ir embora nunca mais olhar pra trás, viver uma vida diferente da que eu conhecia.
Eu podia viver assim, eu podia sorrir e fingir ser essa garota, mas naquela noite recebi a segunda visita naquele mesmo dia em que fui surrada por meu pai, meu irmão Atlas estava dentro do meu quarto de hotel me esperando e não estava sozinho, foi tarde, minha tentativa de fugir resultou em sendo jogada dentro do porta-malas do carro dele.
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Obcecada por o Alfa
Romancemulher tem paixão platônica por Alfa supremo depois de um encontro onde ele a salva. Humana X Lycan Romance Hot com ênfase no hot. lista de gatilhos: Sequestro Abuso Uso de sedativos e outros Tortura Perseguição Família problemática e violenta Vi...